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Eu pensava que a minha dor não podia piorar, mas eu estava enganada. Ter que olhar no fundo dos olhos dos meus pais e dizer o que tinha acontecido com a Vanessa me fez ficar ainda pior. Eles ficaram inconsoláveis e o peso da minha culpa aumentou.

O enterro da minha irmã foi na nossa cidade natal e antes de sair de casa, eu tranquei o quarto dela lá, não sei o que vou fazer com ele.

Acabei passando mais dias do que o planejado na casa dos meus pais. Eles tinham me pedido para transformar o meu quarto numa pequena biblioteca, e claro que eu permiti e dei o maior apoio. O problema que eu não tinha mais um lugar para dormir.

Quer dizer, tinha o quarto da Vanessa, mas não sei se vou conseguir entrar no quarto dela, mesmo sendo o da casa dos meus pais. Então fiquei dormindo sofá da sala. Não era confortável, não era prático e Nicolau fez questão de dormir ao meu lado, na poltrona favorita do meu pai.

Fiquei para a missa de sétimo dia, e ainda mais alguns dias. Não lembro de muita coisa. Estava usando alguns remédios para dormir e me ajudar a passar o dia. Meus pais tinham uma viagem marcada se aproximando e minha mãe não queria ir.

Eu estava tentando convencê-la a ir. Quem sabe assim ela espairecia a cabeça um pouco. Tirava um pouco da lembrança constante da Vanessa. Meu pai estava mais calado do que o usual, e não sei como foi que ele fez isso, mas ele me convenceu a ir para casa. Ele queria um tempo para conversar e tentar acalmar o coração da minha mãe.

Então o Nicolau pegou o carro e voltamos para Capella. Meus dedos deixaram escapar o chaveiro da minha mão quando eu fui tentar abrir a porta. Dependi do meu namorado até mesmo para isso.

Praticamente corro até o meu quarto. Ao ver o meu reflexo no espelho, percebo o quanto estou diferente. Meu cabelo está todo assanhado. Meu corpo está mais magro. As minhas olheiras fantasmagóricas.

– Quer que eu prepare um banho quente para você Vivian? – Nicolau me pergunta.

– Acho bom comer alguma coisa antes de descansar por conta da viagem.

– Você quer comer alguma coisa? – Nicolau não escondeu a ponta de felicidade em me ver expressando algum desejo.

– Sim...

– Você quer pedir algo pra comer ou você prefere sair para...

– Prefiro sair – digo rápido e já vou saindo. Me chame de louca, mas a casa tem o cheiro da minha irmã.

– Vamos então – ele segura a minha mão e começa a andar, mas eu paro de andar, o seguro no lugar. Ele se vira para me encarar.

Lágrimas escorrem sem parar de mim. Sem nem precisar falar nada, ele me puxa para um abraço apertado e faz um carinho calmo no topo da minha cabeça. Mais uma vez estou molhando a camisa dele. Mais uma vez estou chorando.

– Desculpe – digo assim que consigo falar algo.

– Ei, não precisa se desculpar comigo mandona... Você não fez nada de errado...

– Claro que eu fiz! Minhas escolhas foram erradas, e por conta delas, a Vanessa que pagou o preço. E agora eu nem consigo parar de pensar nela, não consigo parar de chorar. Eu sei que ela queria que eu fosse feliz... Mas eu sou uma fraca!

– Não diga isso! – ele ergue o meu rosto e me faz encará-lo. – Você pode até ter cometido alguns erros Vivian, mas por Deus! Você é humana! Você pode errar. Não acho que o que aconteceu com a Vanessa seja culpa sua! Ninguém está te culpando! Você tem que se perdoar um pouco, você tem que se deixar respirar um pouco...

– Se não fosse difícil respirar, eu o faria! Mas não tenho forças!

– Você é a mulher mais forte que eu conheço! Não quero ouvir você falando essas coisas!

Principal SuspeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora