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– Eu sei que está em casa irmãozinho! – Erick grita do lado de fora e eu estou tão estática quanto o Nicolau.

Mas que merda é essa, chamando o Nicolau de irmãozinho? Quando eu olho pro Nicolau, o olhar assustado e indeciso dele tinha dado lugar a um semblante mais sério, decidido e ouso dizer que até um pouco feliz.

– O que você quer fazer? – pergunto baixo.

– Abrir a porta – ele diz com uma voz baixa.

– Você quer que eu dê um pouco de privacidade para vocês?

– Não – ele diz um pouco alarmado e procura a minha mão, segurando com firmeza ela. – Preciso de você ao meu lado agora.

– Claro – tento dar um sorriso, mas não sei se consigo.

E quando Nicolau abre a porta, o irmão dele nos encara, indo diretamente para as nossas mãos dadas e ele abre um sorriso preguiçoso. Ele era mais alto do que eu lembrava.

– Oi Nicolau. Oi Vivian – ele nos cumprimenta com muita naturalidade. O aperto que Nicolau dava na minha mão se intensifica um pouco.

– O que você quer? – Nicolau diz sem rodeios.

– É assim que você recebe o seu irmão depois de tanto tempo sem vê-lo?

– É exatamente assim. Não sei se posso te chamar ainda de irmão depois de tudo. Como é que você aparece aqui na minha porta como se tivesse apenas saído para comprar alguma coisa no supermercado...

– Você fala isso como se eu tivesse uma escolha!

– Eu não sei se você teve alguma escolha ou não, afinal, eu não sei mais o que se passa na sua vida...

– Posso entrar? – ele pergunta, e pela primeira vez eu vejo receio nos olhos do Erick.

– Se você não pretende ficar, prefiro que nem entre.

– Eu ficarei Nicolau – e então uns bons momentos de silêncio e avaliação se fazem presentes. Eu não faço a menor ideia do que ele vai fazer. Ele parece estar pensando nas palavras do irmão. Será que Erick tinha vindo aqui para dar algum tipo de explicação? Não me sinto no direito de interferir na conversa dos dois.

– Entre – por fim, meu namorado diz e abre espaço para que o irmão entre em sua casa. Erick não perde tempo olhando para as paredes, muito pelo contrário, ele mal ergue o seu olhar do chão.

Vamos em silêncio até a sala e sentamos todos nos dois sofás espaçosos cinza que ocupavam boa parte da sala. A mão do Nicolau estava muito suada e ele só solta minha mão para enxugar na sua calça de moletom.

– Então, o que você quer comigo Erick? – Nicolau disse meio pesaroso.

– Eu vim conversar...

– E eu estou aqui pra ouvir.

– Não sei ao certo como começar Nicolau. São tantas coisas que eu tenho pra te contar, que nem sei como posso iniciar essa conversa – Erick ainda não tinha erguido o olhar, ainda encarava o chão e apertava as mãos.

– Você fala como se sempre quisesse ter tido essa conversa comigo, mas todos aqui sabemos que isso é bem distante da verdade.

– Mas não é a verdade completa.

– Bobagem, você sempre soube onde eu estive, você não me procurou porque não quis!

– Não é tão fácil assim como você pensa Nicolau, o programa de proteção à testemunha é um pouco mais complexo do que você entende...

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