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Engraçado como a rotina de uma pessoa muda quando ela descobre que está grávida. Não somente da mulher, mas a do pai do bebê também muda muito. Eu passei a comer mais coisas saudáveis. A me alimentar com mais frequência.

Minha felicidade ia voltando aos poucos...

Hoje eu tinha uma consulta marcada com o médico, ia fazer uma ultrassom, e acho que já escutaríamos os batimentos do bebê. Se eu estava animada, Nicolau quase não cabia em si de tanta alegria.

Resolvi que vou contar para os meus pais...

Quem sabe assim minha mãe fica um pouco mais feliz. Ou então ela vai querer discutir comigo, pois eu vou ter um filho sem ter me casado. Mas qualquer coisa vindo dela vai ser melhor do que a tristeza que ela ainda está completamente imersa por conta da Vanessa.

Sei que eu não podia falar muito. Eu ainda não tinha tido a coragem de entrar no quarto da minha irmã para limpar ou resolver o que faria com as coisas dela.

Provavelmente colocaria tudo para doação, mas mesmo assim eu ainda não tinha tido a coragem de destrancar a porta dela. De repente me peguei pensando em quem sabe transformar o quarto dela num quarto para o bebê... Sei que a Vanessa com certeza me faria fazer aquilo, mesmo se ela ainda estivesse morando comigo.

Um dia eu sei que criaria a coragem de fazer o que tinha de ser feito.

Já estava se aproximando do horário da minha consulta, e o Nicolau disse que me encontraria lá. Então vou me arrumar. Como o dia estava quente, resolvo ir com um vestido de algodão, cheio de nuvens estampadas, prendo o cabelo no alto da cabeça num rabo de cavalo pego minha bolsa, as chaves do carro, meus óculos escuros e vou para o consultório.

Chego com uns bons minutos de antecedência e resolvo ir tomar um sorvete, estou com vontade, além de estar com um pouco de calor.

Peco a minha casquinha e tomo na sorveteria mesmo. Volto sem pressa para o consultório e acabo esbarrando com um rosto conhecido na rua.

– Não olha por onde anda não... – o homem começa a falar totalmente grosseiro, mas então me reconhece. – Ah minha nossa. É você Vivian... Desculpe.

– Tudo bem Pedro... Eu realmente deveria olhar por onde eu ando... Estava um pouco distraída...

– Eu que estava andando rápido demais e olhando pro chão. A culpa é minha...

Ao analisar com um pouco mais de cuidado a figura dele, fico um pouco espantada. Se ele estava com uma aparência ruim antes, agora ele está com uma aparência verdadeiramente perigosa.

Não sei se isso foi apenas um reflexo do vídeo que eu tinha visto dele. Ainda estava na minha memória ele apertando o gatilho e indo embora. Eu tinha que ficar com a atenção redobrada com ele. Mesmo eu achando que ele não me faria mal.

Dava para ver algumas tatuagens saindo do seu pescoço. Tatuagens mal cicatrizadas e que pareciam ser bem recentes. Ele tinha alguns pontos acima de sua sobrancelha, e pelo comprimento, deveria ter pelo menos uns cinco pontos ali.

A camisa com uma mancha seca de sangue, muito mal coberta por um casaco preto. Seu cabelo estava raspado e eu conseguia ver algumas falhas em seu couro cabeludo. Seu aspecto estava bem mal tratado. Parecia que ele tinha envelhecido uns dez anos em pouquíssimas semanas.

Era de apertar o coração.

– Você está muito bem Vivian... – ele sorri de lado e coça a barba por razer em seu rosto.

Os nós dos dedos dele estavam bem machucados. Em diversos tons de roxo, vermelho e curativos mal feitos. Ele percebeu o meu olhar em suas mãos e voltou a guardá-las em seus bolsos.

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