POV - Nicolau

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– Erick! – mais uma vez eu gritava o nome do meu irmão.

Todo dia eu revivia o meu desespero quando eu vi aquela arvore desabando e acertando o meu irmão. A dor não diminuía nada. Se não, ela só ficava muito pior e cada dia mais eu me sentia mais culpado.

Se eu não tivesse a ideia de fazer uma casa na arvore, não teríamos passado tanto tempo no quintal. Não teríamos que cortar duas arvores que atrapalhavam a montagem. A árvore não teria caído em meu irmão, tirando sua vida.

Se eu pelo menos soubesse...

A vida foi uma grande porcaria sem ter ninguém para compartilhar nada. Aprendi a engolir a alegria, a tristeza, a raiva, o desespero, tudo, afinal, pra que serve esses sentimentos se nem ao menos eu poderia compartilhar com alguém?

A madrugada estava fria e eu não consegui mais dormir. Fui então para o escritório na minha casa e me joguei no trabalho. A única coisa que eu me sentia digno de sentir era satisfação por ver o meu trabalho crescer e prosperar.

Tudo o que fiz foi para o trabalho. Não fui um adolescente normal. Não tinha animo de sair. Gostava de beber sozinho e ficar calado.

Quando fiz faculdade aprendi melhor a interagir com as pessoas e foi lá que conheci uma felicidade.

Conheci mulheres, fiz amigos importantes e influentes, e para quem via de fora eu tinha uma vida absolutamente normal.

O dia nasceu e então me vesti automaticamente para um dia de rotina no pequeno prédio comercial que tenho no centro da cidade.

No escritório não tinha muita coisa pra fazer. Eu já tinha feito uma boa parte das coisas na madrugada. E normalmente era assim. Eu trabalhava na madrugada e tentava me distrair no resto do dia.

Mas como eu tinha passado dois dias presos, algumas responsabilidades tinham se acumulado, mas nada demais. Fiz questão de instruir muito bem meus funcionários para trabalharem na minha ausência.

Sem ter muito o que fazer na hora do almoço, eu entro no carro e fico rodando pela cidade. Sempre atento.

Olho pela janela e fico imaginando se um dia eu encontrarei meu irmão. Será que ele esta bem? Será que era ele mesmo?

Se eu o encontrei uma vez, posso encontrar novamente. Por isso fico sempre atento a qualquer movimento.

Não sei se eu fiz a escolha certa em contar minha vida pra Tenente. Sei que não contei muita coisa, mas o pouco que contei pra ela é mais do que eu contei pra minha psicóloga.

Eu mentia descaradamente pra minha psicóloga. Não conseguia falar nada de importante praquela mulher que estava sendo paga para me ouvir e me aconselhar.

Aprendi com o tempo que era melhor não ser completamente verdadeiro com as pessoas. A verdade normalmente fazia com que as pessoas fossem mortas, ou então odiadas e perseguidas.

Só tinha um ser humano que me fazia quase dar com a língua nos dentes. Mas não posso fazer isso, já que a perigosa era da policia. E eu já fiz e faço muita coisa errada na minha vida.

Volto para o escritório e estou inquieto demais para fazer qualquer coisa que demande calma.

Então eu resolvo malhar. Minha segunda forma de escape favorita.

Pego minha bolsa de academia que sempre esta dentro da minha sala e me troco ali mesmo.

Então desço ate a pequena e moderna academia privada desse prédio. Esse local só era liberado para alguns membros da diretoria e o Carlos. Mas como os velhos barrigudos da diretoria só querem saber de encher os bolsos para sustentar suas amantes fúteis, só quem usa esse lugar pra tipicamente sou eu e o Carlos.

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