#11

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"Olá, meu amor!", "Porque não vens tu a minha casa?".

Que filho da puta, cretino ao quadrado. Que ódio!

Sentia-me suja, o que não deveria acontecer, uma vez que o comprometido era ele, e não eu. Mas eu sentia-me. Sentia pena da namorada, ou esposa, ou fosse o que fosse dele.

Coitada. Se ele quase fez sexo com uma aluna, imagina com quantas mulheres não deve ter feito... para não falar de todas as alunas que ele deve ter comido.

Apetecia-me chorar, xingar, maltratar, bater, apetecia-me destruir tudo. Que ódio! E eu deixei-me ir, feito estúpida, sem saber nada sobre ele.

Para piorar tudo, quando cheguei em casa encontrei o Miguel Duarte deitado no sofá. O Filho da Puta não me foi buscar, como tinha prometido, mas estava estendido no sofá! O que realmente fez com que tivesse um ataque de coração foi ver o cão também lá.

Bati a porta com o máximo de força que pude.

- Olá maninha!

- Maninha de cu é rola! Seu filho da puta mal fodido, disseste que me ias buscar á escola! – berrei transtornada.

- Desculpa, esqueci-me totalmente.

- Não quero saber das tuas desculpas! Bastava não teres dito nada, sabias? Assim não faltavas com a tua palavra – falei mais calma. – E afasta esse cão de mim!

O cão estava a caminhar na minha direção, com um ar muito suspeito.

- Bruce, senta! – e ele sentou.

Fui para o meu quarto. Os meus pensamentos estavam uma desordem total. Apenas conseguia lembrar daqueles lábios nos meus, daquelas mãos grandes no meu corpo...

Ele é comprometido, ele é comprometido...

Pouco depois o Rui chegou. Tinha me esquecido completamente dele. Aquela tarde estava a ser péssima. Não conseguia estar concentrada em nada.

Nem sabia porque estava a ter "explicações" com ele. Primeiro, sou uma ótima aluna. Segundo, aquilo não me estava a ajudar em nada.

- Desculpa, hoje não está a dar – falei com pesar. – Podíamos deixar isto para outro dia?

- Claro!

- Então, segunda-feira vou tentar estar mais atenta – sorri-lhe e ele sorriu-me de volta.

Acompanhei-o até á sala, no exato momento em que dois indivíduos entravam. Uma criança e um indivíduo não tão desconhecido assim.

- Professor – o Rui cumprimentou.

O Lourenço apenas ficou a olhá-lo, com uma cara de poucos amigos, e depois fixou os seus olhos em mim.

- Atá segunda, Gabi!

- Até!

Despedimo-nos com um beijo na bochecha. A cena que se seguiu foi bastante constrangedora.

Fechei a porta e o Lourenço ficou a olhar-me, como não poderia ser diferente, fiquei a olhá-lo também. Era quase uma guerra de olhares em que ninguém estava disposto a perder.

O Miguel Duarte olhava para nós dois, e a menina sorria.

- Olá, sou a Margarida! – ela disse.

Era uma menina de cabelos castanhos claros. Tinha olhos azuis e um sorriso contagiante. Não deveria ter mais de cinco anos.

- Olá! – sorri-lhe de volta. – Sou a Gabi.

- O teu nome é muito bonito. Pareces uma princesa. Tu poderias ser a princesa Gabi e o tio o príncipe Lourenço. Vocês podiam ir juntos ver o meu teatro. Ainda não sei quando é, mas quando eu souber eu digo – ela falou sem perder o folego. – Tio Miguel, também estás convidado a ir. Vou vos guardar o lugar na primeira fila!

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora