#26

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- Porque é que tinhas explicações com aquela pessoa – o Lourenço interrompeu o silêncio. Achei piado o facto que ele não dizer o nome da pessoa, mas frisar "aquela".

A minha cabeça estava apoiada no seu peito e as suas mãos mexiam nos meus cabelos, numa carícia lenta e extremamente boa. Eu apenas mexia a minha mão, que fazia círculos na sua pele.

- Tu disseste que eu tinha tirado má nota no teste. E depois ele disse que me poderia ajudar, por isso aceitei – expliquei as minhas razões. – Ele não cobrava nada – conclui como se aquele fosse o real motivo.

- Eu também disse que te poderia ajudar, se tivesses alguma dificuldade – o Lourenço falou com voz desiludida (?), amuada(?). Não consegui distinguir o verdadeiro sentimento por detrás da sua voz.

- Não disseste não, insinuaste que me podias ajudar – falei levantando a minha cabeças do seu peito e encarando-o. – São coisas diferentes – conclui voltando a ajeitar a minha cabeça no seu peito.

- Vai dar ao mesmo – o Lourenço deu de ombros.

- Não vai não! – sentei-me ao seu lado. – Já imaginaste eu chegar ao pé de ti e pedir explicações particulares? E tu respondias: "Foda-se, paga por um particular!" – disse a última parte levantando os dois dedos médios, engrossando a voz e enrugando a testa.

O Lourenço começou a rir da minha expressão. Eu já disse que adoro a risada dele? Só para o caso de não ter dito: a risada dele era maravilhosa! Máscula e intensamente gostosa. Eu poderia ouvi-la o resto do dia, era mesmo linda!

- Eu nunca diria isso – o Lourenço assegurou-me puxando de volta para perto dele. E eu agradeci por ele o ter feito, pois queria muito sentir a sua pele contra a minha, sentir o seu calor e textura.

- Eu sei que não. Mas também não teria coragem de te pedir explicações particulares. Nem sequer era justo. Se os outro soubesse, iria acusar-te de favoritismo e contestariam as minhas notas.

Pensando bem no assunto, acho que ele disse com todas as letras que me poderia ajudar, mas também não lho ia dizer. Se o dissesse seria apenas mais uma razão para eu não ter aceite a proposta do Rui.

- Ninguém tem nada a ver com o que eu faço nos meus tempos livres – ele protestou infantilmente.

O Lourenço tinha a capacidade de ter duas facetas: tinha o lado de professor sério e responsável, que incutia ordem e disciplina apenas com o olhar e também tinha o lado em que era ele mesmo, que se comportava que nem uma criança e dava gargalhada divinamente gostosas. E esse último lado não media os riscos nem as consequências dos seus atos, como ter sexo com uma aluna.

- É a vida, meu caro! – respondi-lhe dando de ombros. – Porque não entregaste os testes, já que os tinhas corrigidos.

- Não me apeteceu – deu de ombros, como se realmente aquilo não importasse.

- A sério?! – exclamei sentindo-me injustiçada. – Que grandessíssimo filho da mãe! Nós ali a morrer de curiosidade para saber as notas e tu decides que não te apetece entregar, então não entregas? – reclamei com ele.

Vi um meio sorriso formar-se nos seus lábios e ele deu de ombros, concordando com o que eu dissera e dando pouca importância à injustiça que era.

Bufei e levantei-me do chão, vestindo as minhas peças íntimas e o casaco por cima. Fui até à cozinha e procurei por algo decente para comer. A única coisa que encontrei foi o meu bendito pote de biscoitos.

Sim, aquele era o meu pote de biscoitos! A minha mãe tinha dois, um azul e um vermelho, que estavam sempre atestados de biscoitos. E por mais incrível que parecesse, ninguém comia do azul, a não ser eu. Eu tinha adotado o pote como meu e havia lhe dado o nome de Zuzu e tudo! Ninguém se atrevia a aproximar dele, porque senão rolariam cabeças.

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora