#41

8.2K 711 64
                                    

Puta que pariu! O que é que ele estava a fazer ali?

Ele permanecia exatamente igual, com os seus olhos e cabelos acobreados, o seu sorriso zombeteiro e a sua postura altiva. A cópia fiel do Rui. Qualquer um o confundiria com o irmão, mas eu conhecia-o demasiado bem e conseguia ver as pequenas diferenças.

Os ombros do Ruben eram mais largos e as suas feições mais duras. O seu sorriso não era tão amigável quanto o do Rui e havia um sinal mesmo ao lado do olho, quase impercetível.

- O que estás a fazer aqui? – perguntei confusa. – Pensei que já não andasses nesta escola.

- Vim reencontrar velhos amigo – ele falou calmamente. Apenas assenti. – Já não nos víamos há bastante tempo...

- Ficas-te com saudades minhas? Que querido, pena que não foram recíprocas – falei acidamente.

- Não foram mesmo? – ele perguntou com um espanto forçado. – O meu irmão pôs-me a par de tudo. Não ficaste com mais ninguém, talvez isso queira dizer que ainda não me superaste, Gabizinha... - ele aproximou-se ligeiramente de mim.

- Mas tu é que vieste atrás de mim. Que estranho, não achas?

Ele deu uma risada sem humor. O que ele pensava? Primeiro dava-me com os pés, dizia que eu não servia pra nada e depois voltava como se nada fosse? Ele ainda esperava encontrar a mesma Gabi, aquela miúda burra que se sujeitava a tudo? Que idiota!

Ele aproximou o seu corpo do meu, prensando-me contra a janela.

- Se eu te beijar, vais tornar tudo mais fácil? Como antes...

A minha mão voou na direção da sua face e embateu com a força toda. Em minha defesa, ela moveu-se sozinha e ele já estava a merecer aquilo há muito tempo.

- Isto soube bem pra caralho! – exclamei admirada.

Aquele gesto fez-me esvaziar todo o rancor que tinha acumulado dentro do meu peito. Fez com que o passado ficasse lá, no passado. E deu-me a certeza que eu nunca mais sofreria por causa do que ele me fez. Porque percebi que era muito melhor do que ele pensava, que não era nada do que ele me acusou quando decidiu deixar-me.

Culpa do Lourenço, é verdade. Ele ajudou-me a perceber que sou maravilhosa, linda e que não preciso ser o que os outro querem que seja. Basta ser eu, com todos os defeitos e virtudes. Quem gostar, fica. Quem não gostar, vai embora.

- Vaca do caralho! – ele insultou-me enquanto levava a mão à face afetada pela minha bofetada.

- "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", meu amigo! Que esperavas? Era só voltar e tudo ficaria igual? O tempo segue e eu segui em frente! E o teu irmão não sabe de nada da minha vida, arranjas-te um péssimo espião...

- Deves-te achar muito inteligente, mas sabes que continuas a mesma! Não me resistes, admite! – ele aproximou-se repentinamente de mim.

- Não te armes em estúpido, Ruben! Não vales nada! – encarei-o seriamente.

Ele deu uma gargalhada bastante sonora e afastou-se de mim.

- Eu é que não valho nada? Tu é que eras demasiado fácil, tão fácil que não meteu piada continuar contigo. Nem sei como o meu irmãozinho não conseguiu ficar contigo...

- Cala-te, caralho! Qual é o teu problema? Qual é tua necessidade de me magoares? És assim tão... tão... nem sei o que te chamar... és um filho da puta! Veles abaixo de nada! – ele continuava com aquele sorriso de superior. – As tuas palavras já me magoaram muito, acredita que sim, mas agora não. Entram por um ouvido, saem pelo outro! Simples assim. Não significas mais nada para mim e aquela Gabi que tu estavas à espera de encontrar, MORREU! – gritei a última parte. – E se estás assim tão desesperado, compra a porra de uma boneca inflável! Não tenho paciência para aturar idiotas!

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora