#28

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- Bem, o Miguel vai ter um ataque qualquer quando souber – o Lourenço falou na tentativa de me fazer voltar para casa.

- Eu sei, Lourenço.

Foi um martírio ter de o arrastar para dentro do carro. Ele queria a todo o custo ficar aninhado naquela cama comigo. Mas claro que aquilo não podia acontecer.

Mas também é muito, muito, mesmo muito difícil resistir aos seus beijos e toques. Eu tentei ser forte e consegui... ok, vou ser sincera, não tive vontade nenhuma de lhe resistir e com já era de esperar, voltamos a cair na cama um em cima do outro, com as nossas mãos inquietas e os nossos beijos vorazes.

- Mas também não temos de contar já. Eu estive a pensar e acho que devíamos contar apenas quando a escola acabasse.

- Mas tu...

- Eu sei que disse que não queria ter um relacionamento escondido – interrompi-o. – Mas também não te quero causar problemas. Então acho que consigo sobreviver durante dois meses.

- São quase três meses – ele pontuou.

- Se conseguirmos sobreviver a esses três meses, então acho que sobrevivemos ao resto – dei-lhe um sorriso que ele não pode ver por estar atento à estrada.

O Lourenço pousou a mão na minha coxa, bem no início da coxa, e fez um caricia de leve, seguida de uma apalpadela.

Peguei-lhe na mão e pu-la no volante.

- Concentrar-te na estrada, sou muito nova para morrer.

Quando ele estacionou no prédio, ficamos a olhar-nos com sorrisos parvos no rosto.

- Acho melhor pensarmos em ir embora.

- Tudo bem – ele disse antas de me dar um beijão de despedida.

Entramos no elevador e decidimos que era melhor cada um ir para o seu apartamento. Foi quase triste ter que o abandonar.

A nossa relação era algo estranho. Ia do 8 ao 80. No início eu queria-o, mas quando o tive apenas conseguia pensar em afastar-me, porque tinha medo de me magoar e achava que aquilo nunca funcionaria, mas mesmo assim não me consegui manter afastada.

Naquele mesmo dia discutimos, mas acabamos juntos e com um pedido de namoro. E agora eu até via um futuro possível, muito ténue, mas possível. Porque com vontade tudo se consegue.

- Isto são horas de chegar a casa? – o Miguel perguntou assim que entrei.

- Desculpa?! – perguntei indignada. – Desde quando é que decidiste fazer o papel de paizinho preocupado, é que nem o pai dramatiza tanto.

- Vais-me dizer com quem estives-te?

- Ah, aí está o problema. Afinal não está preocupado, a tua bisbilhotice é que decidiu falar mais alto.

O Miguel olhou-me de cima, com os olhos semicerrados.

- Gabi, - ele disse o meu nome apenas para que a sua frase tivesse mais impacto – por acaso o facto de o Senhor do andar de baixo não ter lá posto os pés esta tarde, tem haver com o teu sumiço?

- Senhor? – perguntei rindo e caminhando para a cozinha. – Quem te ouvir falar nem diz que são melhores amigos.

- Tás a desconversar, Maria Gabi.

- E tu estás a ser um idiota, Miguel Duarte! – rematei encarando-o. – Não tens nada a ver com a minha vida. Cuida da tua, com certeza que tens muitos problemas. E o encontro, como correu? – mudei o rumo da conversa para a sua vida, para que ele se esquecesse da minha.

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora