#37

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Se, por algum motivo, aquilo tivesse sido um pesadelo, foi o pior da minha vida.

A minha cabeça doía e os meus olhos estavam demasiado pesados para se manterem abertos. Mas aquele bip, bip, bip fazia-me ter a certeza que tudo fora real. Tentei virar-me para o lado, mas uma dor demasiado aguda despontou das minhas costelas.

Grunhi de dor, o que fez com que alguém passasse a mão pelo meu braço.

- Gabi? – ouvi a espécie de um sussurro aliviado.

Abri os olhos e vi as esferas oculares da Catarina. Os seus olhos estavam marejados e ela ostentava um sorriso doce nos lábios.

- Eu vou... vou... chamar uma enfermeira – ela gaguejou saindo do quarto.

E achei aquilo ridículo, pois toda a gente sabia que existia uma campainha mesmo ao lado da cama, que servia para chamar por uma enfermeira. Ma não arranjei forças para o dizer. A minha garganta estava seca e eu ainda me habituava ao local.

Sabia que era um hospital. Do meu braço saia um tubinho transparente, que estava ligado a um saco com soro, deduzi. No meu dado indicador estava a espécie de uma mola da roupa, mas maior e cinza, que estava ligada á máquina dos estados-vitais.

O quarto estava quase coberto pela penumbra, não fosse a pouca luz que entrava pela janela. Parecia que amanhecia, ou talvez anoitecesse, não tinha bem a certeza.

Ouvi passos apressados dentro do quarto e vi a minha irmã acompanhada de duas senhoras. Percebi que uma era enfermeira e outra era médica, os seus uniformes eram ligeiramente diferentes. A médica apontou uma lanterninha nos meus olhos e depois sorriu-me, apontando algo na minha ficha médica.

- Ficamos felizes que finalmente tenha acordado, menina Gabi.

Dei-lhe a espécie de um sorriso, enquanto a memória de um homem de olhos azuis me invadia a mente. Os seus cabelos eram de um castanho claro e eram meio encaracolados. A sua face costumava ter uma barba rala e os seus lábios ostentavam um sorriso provocador.

- Há quanto tempo estou aqui? – perguntei com a voz fraca.

- Uma semana – a enfermeira respondeu com a voz gentil. – Lembras-te o que aconteceu?

Fechei os olhos por segundos enquanto o via pela última vez, com todo aquele desespero estampado no rosto, antes de tudo ficar negro.

- Acho que um carro me bateu... - sussurrei sentindo-me vulnerável, por algum motivo. – Mas a culpa foi minha, eu é que fui para a estrada.

- Nós sabemos – a médica disse. – Tenta descansar mais um pouco. Daqui a nada passamos por cá outra vez, para ajustar a medicação e conferir se está tudo bem – ela voltou a dar um sorriso. – Se precisares de alguma coisa, é só chamar.

Ela saiu do quarto, mas a enfermeira ficou, conferiu o soro e ajeitou os meus cobertores. Ela lançou-me um olhar de pesar na minha direção e deu um sorriso singelo.

- Será que podia beber água? – perguntei sentindo a minha garganta arranhar por conta da secura.

A enfermeira assentiu e saiu do quarto. A Catarina estava inquieta e os seus olhos não paravam um segundo no mesmo sítio. Quando a enfermeira regressou com uma bandeja que transportava um copo de água, aconselhou-me a que a bebesse devagar.

Tentei fazê-lo, mas parecia uma desesperada que esteve perdida no deserto por meses afio.

Sempre que respirava com mais força, a dor aguda nas costelas voltava com força, fazendo-me abrandar.

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora