#38 - 2ª. Parte

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Micaela Andrade 

Por aqueles dias, andava cheia de trabalho. E a minha mente estava tão cheia, que o que as pessoas me diziam, eu não chegava propriamente a interiorizar.

Mas aquela notícia realmente abalou-me, porque mexia diretamente com pessoa que eu amava. Mas também só sabia o que o Diego me dissera. E por sua vez, ele só tinha conhecimento do que o Miguel lhe dissera, e digamos que pelo seu estado, as suas palavras não eram muito confiáveis.

Talvez devesse ter falado com a Catarina. Ela devia ter mais juízo que o Miguel e não devia estar num estado tão deplorável. Mas não o fiz.

Não queria saber por terceiros o que tinha acontecido, já que a história fazia referência diretamente ao Lourenço, meu irmãozinho. Mas ele também não me ajudou em nada, desligando o telemóvel e impossibilitando-me de o contactar por outro meio qualquer. Não estás a facilitar, pequeno idiota...

De início fiquei desiludida com o meu irmão. Porque pensei que realmente ele gostasse da Gabi e nunca julguei que ele fosse capaz de a magoar tanto. Nunca pensei que ele fosse capaz de trair.

Foi um choque enorme saber que a Gabi estava em coma, e que a causa disse havia sido um atropelamento causado pelo choque de ver o Lourenço a comer uma professora na escola.... ah, Lourenço, que merda foste fazer?

Eu tinha de falar com o meu irmão. Era algo realmente urgente. Precisava de ver como ele estava, de ouvir da boca dele que aquilo era verdade.

Por sorte, a Gabi já havia acordado, o que me deixou muito aliviada.

Depois de levar a minha filha à escolinha, passei no apartamento do Lourenço. Eu sabia que ele lá estava, pois perguntei ao porteiro. Mas o desgraçado limitou-se a ignorar as minhas batidas incessantes. Não ia desistir, o Lourenço não podia simplesmente ignorar tudo e todos.

Voltei à receção e pedi a chave suplementar. O porteiro disse que não mas podia dar, pois estava impedido de fazer tal ato.

- Ouça-me, eu sou a irmã mais velha do Lourenço! E ele costuma ter ataques suicidas, tipo, ingere um monte comprimidos ou corta os pulsos... e tenho fortes indícios que ele possa ter feito isso! – Não fazia mal mentir por uma boa causa...

O porteiro olhou-me com pouca credibilidade.

- Quer ser o responsável por uma morte? – berrei farta daquele homem.

Ele negou veementemente com a cabeça e depois deu-me rapidamente a chave suplementar do apartamento do meu irmão. Subiu comigo, embora não fosse necessário.

Quando abri a porta do apartamento, encontrei o Lourenço apático, imóvel, com o olhar direcionado para a televisão apagada e nas mãos segurava um copo com resquícios de whisky.

Disse ao porteiro que podia ir embora e fechei a porta ao entrar. O Lourenço nem se dignou a olhar para ver quem estava a invadir a sua casa, apenas levou o copo aos lábios enquanto uma lágrima solitária lhe escorria pela bochecha.

- Lourenço... - chamei-o de mansinho.

Ele estava destroçado, eu sabia que sim. Os seus olhos estavam vermelhos e inchados, notei que os seus nós dos dedos estavam vermelhos e tinha a cara, mesmo debaixo do olho, inchada.

E naquele momento apenas consegui ver um menino de quinze anos, com os olhos de um azul demasiado intenso, com os cabelos desgrenhados e a cara cheia de hematomas. Um menino que chorava todas as noites pela morte dos pais, e que para aliviar um pouco a sua dor emocional se metia em brigas todos os dias, fazia de propósito para apanhar porrada todos os dias. Apenas conseguia ver um menino que estava tão quebrado por dentro que todas as noites se metia num bar qualquer de esquina e bebia até não distinguir nada. Um menino desfeito por dentro, solitários por ter perdido aqueles que mais amava. Um menino que estava tão despedaçado que não arranjava sentido em viver...

- Oh Lourenço...! – suspirei acocorando-me ao seu lado, retirando lentamente o copo das suas mãos e beijando-as suavemente.

Eu estaria sempre lá para ele, acontecesse o que acontecesse. Para mim, o Lourenço nunca passaria do Lourencinho, o meu irmão mais novo. O seu sofrimento era o meu sofrimento.

Ele desabou numa corrente de choro e escondeu o seu rosto nas mãos. Começou a embalar o seu próprio corpo para trás e para a frente, enquanto soluçava.

- Eu perdi-a... - ele disse entre fungadas.

- Lourenço, chega! – berrei levantando-me.

Não deixaria que ele sofresse daquela maneira ridícula, como se a Gabi tivesse morrido, como se a tivesse perdido realmente, para sempre, sem retorno.

- Ela nunca mais me vai querer ver... eu causei aquilo! O nosso bebé... - O eu choro quase despontou o meu. – A Gabi sofreu tanto, eu sei que ela acha que eu sou o culpado, até porque eu o sou!

- Lourenço, fizeste de propósito? – perguntei sentindo o ar sumir dos meus pulmões.

Eu ainda achava que tinha sido um mal-entendido, um exagero que acabara numa fatalidade. Mas vendo-o culpar-se daquela maneira, tive sérias dúvidas.

Ele olhou-me com um desentendimento demasiado sincero.

- Tu traíste-a mesmo? – perguntei com cautela.

- Claro que não! – ele respondeu prontamente. – Clara que não, Micaela! Eu amo a Gabi, ok? Eu amo-a! – ele disse com toda a veemência do mundo.

- Não te entendo, Lourenço... então porque a abandonaste?

- Eu não a abandonei! Só acho que ela não é obrigada a conviver comigo, não lhe quero causar mais nenhum sofrimento. Ela não merece.

Apeteceu-me espetar-lhe um murro na cara. O meu irmão consegue ser tão tapado! Como é possível?!

- Lourenço, és burro ou fazes-te? – perguntei perplexa. – E vais desistir assim? Do amor da tua vida?

*****

Olá Uvinhas da minha videira 😁😊😂💛(não?! Ok...😌😌)!!!

Este foi mais um capítulo bastante emotivo, mas uma história não é feita apenas de bons momentos e todos temos roturas de vez em quando...

Vamos esperar pelos próximos capítulos para ver qual vai ser a resposta do Lourenço a tudo isto. Do Lourenço e da Gabi!

Espero que tenham gostado! E não se esqueçam de comentar e clicar na ⭐ e blá, blá, blá...

Amo vocês!!!! ❤❤❤💛💛

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora