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Algo de muito estranho se estava a passar comigo. E já nem falo daqueles sonhos meio loucos com o Lourenço ou das batidas descontroladas do meu coração. Falo mesmo das minhas emoções, que por algum motivo iam do oito ao oitenta.

Já toda a gente sabia como isto ia terminar, eu no fundo sabia que me ia apaixonar pelo Lourenço. E o inevitável aconteceu mesmo: eu, Maria Gabi Torres estava perdidamente apaixonada pelo Lourenço Andrade. E sinto que apaixonada é pouco...

Por algum motivo bem louco ficamos estas duas últimas semanas a viver na casa dos meus pais. Aquele era o nosso ponto de encontro e acabávamos por dormir lá. E eu amava aquilo, adormecer e depois acordar ao lado do Lourenço. Deus, não havia sensação melhor!

O calor do seu corpo aconchegava-me durante a noite, fazendo-me dormir que nem um anjinho. E depois acordar e encarar os seus olhos azuis, fazia-me sentir no céu. O Lourenço fazia-me sentir única, de uma forma bem louca. Fazia com que me sentisse a pessoa mais especial à face da terra, a mais sexy, a mais perfeita.

Naquelas duas semanas ficamos a conhecer-nos como nunca. E eu senti-me ainda mais ligada a ele, eu sei, um grande risco para o meu coração, mas não havia nada a ser feito. O Lourenço tinha a mania de se descalçar mal entrava em casa, de cozinhar sem camisola (sim, era sempre ele que cozinhava), ir à casa de banho antes de jantar, de deixar a roupa para o dia seguinte em cima da cadeira do quarto e de se levantar da cama apenas cinco minutos depois do primeiro toque do despertador.

Antes de se levantar ele sempre me dava um beijo babado na testa e uma mordia no meu ombro (o que me fazia sorrir que nem uma idiota), depois ficava a olhar para mim enquanto eu resmungava que queria dormir mais e ainda troçava da minha cara de sono. Era ele que na maior parte das vezes preparava o pequeno-almoço (nas outra vezes íamos a uma cafetaria), enquanto eu escovava os dentes ele entrava lá e fazia xixi.

Eu poderia achar aquilo nojento, se ele não fosse o Lourenço. Mas ele era o Lourenço e fazer aquilo dava perfeitamente a entender que nos sentíamos perfeitamente à vontade um com o outro, e eu gostava daquilo. Do sentimento, claro!

Eu amava o sorriso do Lourenço e quando os seus olhos brilhavam de satisfação. Eu amava quando o Lourenço decidia fazer um intervalo da correção de testes ou preparação de aulas, pois sempre acabávamos emaranhados no corpo um do outro e suados. Amava quando ele me beijava suavemente ou massageava a minha nuca. Amava quando discutíamos sobre que filme assistir (ele queria de terror e eu preferia algo mais soft, não propriamente romance, mas ele insistia no de terror só para me chatear). Amava quando a meio da noite ele puxava o meu corpo para mais junto do seu e me abraçava, como se tivesse medo que eu fugisse.

Resumindo, eu amava o Lourenço. Com todas as suas virtudes e defeitos, como espalhar um monte de papeis em cima da mesa e ter preguiça de os arrumar, estacionar o carro com as rodas tortas, insistir em não baixar a tampa da sanita, irritar-me de propósito, ficar amuado quando eu levava calções para o treino, dar aqueles sorrisos no meio das aulas (juro, aquilo fazia-me querer saltar-lhe para cima e ignorar que estávamos rodeados de gente!). Também não gostava quando ele insistia em ter ciúmes dos Rui, achava aquilo ridículo, e aquilo fazia ter que me controlar quanto à Suzete. Ela estava cada vez pior!

Ás vezes duvidava que ninguém desconfiava que existia algo entre mim e ele. Mas se desconfiavam, guardavam isso só para si (algo que eu não me queixo).

- Os meus pais vêm depois de amanhã – comentei enquanto entrava no meu quarto. Infelizmente ele não tinha casa-de-banho incorporada, mas em compensação ela era logo ali ao lado.

Encontrei o Lourenço todo esparramado na cama, com as costas encostadas na cabeceira da cama e as mãos atrás da cabeça. Ele vestia apenas uns boxers pretos, que me fez considerar o facto de ter vestido o meu pijama, teria valido a pena?

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora