#20

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Acordei com o toque estridente do meu telemóvel. Eu sempre odiei aqueles toques, eram tão monótonos e irritantes que dava vontade de mandar o telemóvel pelo ar. Perguntei-me milhares de vezes do porquê de não trocar o toque por uma música de que gostasse, mas acabei por concluir que era mesmo preguiça.

Eu pensava comigo mesma: "Mais tarde tenho que mudar o meu toque de telemóvel". Mas acabava por me esquecer.

Estava tão confortável naquela cama que o simples pensamento de mover o braço me incomodava. Afundei a minha cara na almofada e aquele cheiro a Lourenço inundou as minhas narinas. Era um cheiro tão bom que me vi a sorrir sem motivo. Mas ele não estava perto de mim.

O meu sorriso desfez-se e deixei de me sentir tão confortável. Sentei-me e peguei no telemóvel, eram quase dez da manhã e tinha duas chamadas não atendidas da Ema Vitória.

Antes de me levantar retribui a chamada. Tinha tantas saudades daquela doida varrida!

- Gabi! – ela gritou do outro lado da linha.

- Ema! – saudei-a.

- Que contas? Acabei de falar com a Sónia e ela disse-me que não estavas em casa. Onde te meteste, sua safada?

- Não te preocupes, estou viva e melhor que nunca.

Um sorriso maroto apoderou-se dos meus lábios ao lembrar-me da noite anterior.

- Quem é ele? Quero ver se é digno da minha pequenina.

- Não te preocupes. Digno ou não, não pretendo que isto volte a acontecer – falei com um tom triste.

- Isto o quê?! – ela perguntou chocada.

- Sim, isso mesmo. A tua pequenina cresceu...

- Tenho saudades tuas, de todos vocês. Vá, conta lá porque não queres que isso se repita?

- Longa história, Ema. Talvez um dia te conte.

Levantei-me da cama e lembrei-me que estava nua. Olhei em volta e vi as minhas roupas imaculadamente dobradas e cheirosas em cima da mesma. Constatei que o Lourenço as havia lavado e passado a ferro, o que me levou a perguntar à quanto tempo ele estaria acordado.

- Oh Gabizinha! Vais-me fazer essa desfeita?!

- Sim, vou mesmo. Mas conta-me coisas! Como vai a vida por aí?

- Boa, muito boa, na verdade. Já comecei com os primeiros passos para o casamento e estou feliz. Verdadeiramente feliz – ela disse e pude sentir o seu sorriso do outro lado da linha. – Sabes, Mariazita, nunca pensei que pudesse estar nesta situação, tão feliz e amada. A Candice é o amor da minha vida, ela realmente faz-me sentir maravilhosa, única. Eu amo-a mesmo muito.

Uma lágrima solitária escapuliu pelos meus olhos. Por algum motivo as palavras da minha prima tocaram-me profundamente.

Eu estava feliz por ela, estava mesmo. Mas uma inveja pequenininha instalou-se no meu peito, porque talvez eu nunca me sentiria como ela.

Quando a Ema falou que que a Candice a fazia sentir feliz e amada, apenas me veio à mente a cara do Lourenço e aquilo deixou-me apavorada. Eu havia feito uma promessa a mim mesma e essa promessa tinha como objetivo não me apaixonar pelo proibido. E eu ia manter essa promessa.

- Fico muito feliz por ti, Ema. Tu mereces tudo de bom que está a acontecer contigo.

- Obrigada, Pequenina. Mas porque é que te estou a sentir muito triste?

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora