#42

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O Lourenço guiou o carro pelas ruas meio desérticas da cidade, até chegarmos ao seu prédio. Ele estacionou o carro na vaga habitual e depois saiu do mesmo, abrindo a minha porta.

Eu quase sumia dentro do casaco enorme do Lourenço. Ainda mais quando eu queria sumir, quando me aninhava o máximo que podia para me tornar invisível.

Eu saí de dentro do veículo e fiz menção de andar, mas ele não me deixou dar um passo sequer, voltando a pegar-me ao colo. Os meus sapatos acabaram por ficar dentro do carro...

- Eu acho que consigo andar, Lourenço – murmurei.

- Não quero que andes – ele respondeu simplesmente.

Chegamos ao seu apartamento e ele finalmente largou o meu corpo no chão, sempre com um extremo cuidado. Por momentos, pensei que ele se pudesse estar a tentar redimir, mas depois lembrei-me que o Lourenço sempre me tratara como se fosse de porcelana.

Necessitava de um bom banho, para tirar todas as marcas do meu copo, todas as digitais do nojento do Ruben da minha pele, toda aquela sujeira.

- Tens uma toalha limpa na casa-de-banho do meu quarto. Eu posso te arranjar uma roupa limpa, também...

- Obrigada – murmurei encaminhando-me para o seu quarto.

Aquele clima estava estranho. Não sabia como reagir perante a presença do Lourenço. E a minha cabeça estava uma confusão de sentimentos.

Despi a minha roupa com alguma brusquidão e meti-me dentro da box, debaixo da água quente. Esfreguei bastante a minha pele, sentia-me suja, imunda. As minhas lágrimas juntaram-se à água quente e só dei conta que esfregava há demasiado tempo e com demasiada força quando reparei que a minha pele começara a ficar avermelhada.

Ainda não acreditava que o Ruben me quase violou. Pus-me a pensar no que o levou a fazer aquilo, e realmente não havia explicação.

A água quente que batia nas minhas costas, foi capaz de relaxar ligeiramente o meu corpo e aliviar um pouco a dor nas minhas nas mesma.

Quando reparei que estava há demasiado tempo fechada naquela casa-de-banho sai da mesma enrolada a uma tolha. Tudo tinha cheiro a Lourenço e aquilo fez-me sentir... bem? Sim, relativamente bem...

Encontrei uma camisola e umas calças xadrezadas imaculadamente dobradas em cima da cama. A minha altura não distinguia muito da do Lourenço, mas o meu corpo era muito mais esguio, o que fez com que as roupas me ficassem horrivelmente largas.

Dei duas dobras à cintura das calças e pus a camisola dentro das mesmas, no intuito de as segurar no sítio. E por incrível que parecesse, tinha resultado...

Os meus cabelos, por conta do seu tamanho, foram mais fáceis de secar e bastou passar algumas vez com os dedos para que ficassem livres de nós.

Saí do quarto hesitante e encontrei o Lourenço virado para a janela, com um copo na mão. O seu olhar estava focado na noite lá fora. E aquilo tudo era tão surreal que me senti ridícula.

Clareei a voz com a intensão de ele saber que eu estava a observá-lo. Ele virou-se para mim nesse mesmo momento e sorriu-me ligeiramente. Pousou o copo e caminhou na minha direção.

- Como te sentes? – ele perguntou parando a escassos centímetros do meu corpo.

Os seus olhos percorreram-me por completo, parando no meu rosto, focando-os diretamente nos meus.

Encolhi os ombros e abracei o meu próprio corpo. Eu não sabia mesmo como me sentia. Péssima, talvez, melancólica, deprimida, ou estúpida e usada. Talvez o sentimento que me percorria era o de impotência.

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora