#29

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Após ver o Miguel sair daquela maneira de casa, eu e a Catarina ficamos a olhar para a porta pasmas.

- Bem, – ela cortou o silêncio – ao menos sei que não tenho de mandar investigar essa Júlia, porque ele o fará – proferiu dando de ombros.

Levantou-se do seu lugar e começo a recolher a louça da mesa. Ao pegar no último prato, para o por na pilha já formada pelos outros, deixou-o cair ao chão, fazendo com que se estilhaçasse e ela desse um gritinho.

Normalmente, as pessoas dizem que a Catarina é demasiado desastrada, mas eu sei que não é isso, não é apenas isso. Eu sei que sempre que ela deixa cair algo, a minha irmã sente uma vontade louca de chorar, porque isso lhe faz lembrar o passado.

- Ei, está tudo bem... - falei com firmeza, baixando-me ao lado dela, ajudando-a a apanhar os cacos.

A Catarina deu um sorriso fraco. Nutei os seus olhos marejados e o meu coração apertou-se dentro do peito.

- Deixa estar, eu vou buscar a vassoura – ela falou, tentando não transparecer a dor que sentia. Mas ela esquecia-se que eu a conhecia muito bem.

A Catarina era assim. Escondia todos os sentimentos que estava a sentir, apenas para ela, dentro dela. Eu conseguiria fazer aquilo? Não, claro que não! Mas de todos o Torres ela era a mais forte, a que mais lutava por tudo. A minha irmã tinha medo de muitas coisas, eu sabia-o, mas ela não os dizia, apenas para não transparecer fraqueza. Uns dos seus medos, era o dia de amanhã, a minha irmã morria de medo que que poderia acontecer no futuro.

Ao estranhar a demora da Catrina com a vassoura, decidi ir até à cozinha. Encontrei a minha irmã encostada ao balcão, toda encolhida e a chorar. Aquela imagem partiu-me o coração.

- Vai ficar tudo bem – sussurrei contra os seus cabelos, após me sentar ao seu lado e abraça-la de lado.

- Não vai, Gabi! Nada vai ficar bem! Eu perdi-o para sempre, eu afastei-o por causa desta merda e nunca mais o vou ter! Não vai ficar bem porque ele não está ao pé de mim! Nada ficará bem! Nada... - ela chorava desesperada, soluçando. – Ele já tem outra, anda a postar fotos no face, todo feliz – ela concluiu num sussurro. – Eu sei que já passaram três anos, eu sei. Mas... - ela abanou a cabeça negativamente – dói na mesma. Porque isto vai-me condicionar para sempre.

Consegui acalma-la. Depois de muito tempo ela parou de chorar e eu ordenei que se fosse deitar, nada de ir sair naquela noite. Ela ainda argumentou que se fosse sair, encontraria um loiro qualquer e tudo ficaria bem. Mas conhecendo-a como eu conheço, ela encontraria o loiro, mas também beberia muito. E a Sónia Catrina bêbeda é o maior perigo á face da terra.

- Precisas de descansar e por a cabeça em dia, Caty. Nada de beberes esta noite.

- Quem te disse que eu ia beber?

- Quem não te conhecer que te compre, Catarina!

Ela rolou os olhos, mas fez o que eu disse: tomou um banho de uma hora e depois foi para a cama, dormir.

Enquanto a mim, apesar de ser bastante tarde, tive que fazer o relatório, e só depois pude descansar.

Aquele dia tinha sido demasiado longo, cheio de emoções, das mais variada possíveis, que me deixaram de rastos. Mas apesar de tudo, aquele sorriso permanecia.

***

- Acorda! – a Catrina berrou aos meus ouvidos, abanando-me mais que o necessário. Abri os olhos e encarei-a desconfiada. – Deixas-te o telemóvel na sala. Esperavas acorda como?

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora