#35

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- Então, mãe! O professor deve estar muito ocupado – tentei dissuadir a minha mãe a desistir da ideia de convidar o Lourenço para jantar lá em casa.

- Sinto muito, dona Cristina, mas é verdade. Tenho muitos testes para corrigir e outros tantos para preparar, não dá mesmo – ele falou com pesar, como se fosse mesmo verdade.

Ai se eu não te conhecesse, Lourenço...

- Sim, não insistas, Cristina. Se o rapaz não pode, não pode... - o meu pai engrossou o coro. - Obrigada, pai!

- Está bem, então. Fica para a próxima.

O Lourenço sorriu e despediu-se dos meus pais e foi embora.

- Muito simpático, ter vindo aqui para te tirar dúvidas... - a minha mãe comentou assim que a posta se fechou.

- É, ele disse que estava aqui perto, por isso... - voltei a dizer. – Já ligaste é Catarina? Ela pensava que só vinham amanhã – tentei mudar de assunto.

- Vou ligar – a minha mãe disse saindo da sala.

Ia para o meu quarto, mas fui impedida pela voz do meu pai.

- Maria Gabi! – Voltei-me para ele e encarei a sua face quase inexpressiva. – Se eu for ao caixote do lixo vou encontrar lá algum preservativo?

Senti todo o meu sangue esvair-se do meu corpo. E fiquei olha-lo sem saber o que dizer. Mas fui salva pelo gato. Ao menos ele serviu para alguma coisa...

- Gabi, que história é essa do gato? – a minha mãe perguntou puta da vida. – Em minha casa? – ela berrou.

- O T'Challa?

- Não quero saber se é a "Chichala" ou o "Chichalo"! Eu quero-o imediatamente fora da minha casa!

Comecei a rir da forma como ela disse o nome do gatinho. E até o meu pai pareceu divertido.

- E não te rias de mim, tás a ouvir, menina Gabi?! Se vou buscar o chinelo... - ela usou a ameaça do costume, sem nunca a ter posto em prática de verdade.

Deu para ver que a viagem não tinha sido suficiente para amenizar o humor ranzinza da minha mãe...

Fui buscar o bichano que dormia todo feliz da vida no quarto que um dia tinha sido do Miguel Duarte, no intuito de fazer a minha mãe mudar de ideias. Pelo caminho acabei por processar tudo o que se tinha passado até aqui.

Como eu ficaria com o Lourenço?

***

A minha mãe lá acabou por aceitar o T'Challa em casa. Ela não quis admitir, mas tinha ficado perdidamente apaixonada pelo gatinho.

E já se tinham passado quase duas semanas desde a chegada dos meus pais. Claro que nada ficou como antes. Eu e o Lourenço já não estávamos juntos tantas vezes. Fui para o apartamento dele uma vez e fizemos sexo outra vez na escola. Em duas semanas apenas ficamos juntos duas vezes...

Foi horrível. Principalmente porque tinha aquela tensão toda acumulada e isso refletia-se no meu humor. Agora sim havia uma razão para rir que nem uma louca e dois segundos depois estar super irritada sem motivo nenhum.

Eu estava tão louca que a professora de Biologia me deixou sair dez minutos mais cedo porque comecei a chorar desesperadamente a meio da aula. Passo a explicar:

Nós estávamos a dar aquela matéria da fecundação, genética e essas coisas todas. Entretanto a professor mostrou um video sobre a formação de um bebé. Não o ato em si, claro, mas tudo o resto: o espermatozóide a fecundar o óvulo, a formação da primeira célula e por aí adiante...

E adivinhem o que acontece no final?

Nasce um bebé!!

E foi aí que comecei a chorar... por algum motivo aquilo emocionou-me como nunca antes e eu comecei a chorar no meio da aula! Que merda, toda agente ficou a olhar para mim como se eu fosse louca. Entretanto, a professora deixou-me sair mais cedo, para me conseguir acalmar.

Ela disse que se parasse de chorar antes do toque, que podia voltar para a aula. Porém, consegui acalmar-me, mas não me apeteceu voltar para a sala.

E foi a partir daí que tudo ficou uma merda! Que eu me senti abaixo de nada... Porque a vida gosta mesmo de foder com tudo, né?

Comecei a caminhar pelos corredores. E adivinhem? Vi uma porta aberta, curiosa como sou espreitei lá para dentro.

Vi o Lourenço. E poderia ter ficado radiante, não fosse ele estar acompanhado, com a língua enfiada na boca dela.

Que ridículo, não é?

Eu aqui toda feliz por pensar que tinha um namorado que gostava minimamente de mim ao ponto de não me trair e depois vejo-o com um ex dele. Nem preciso de dizer que fiquei um caco, pois não? Ou que senti tudo desmoronar à minha volta, senti-me uma inútil, uma parva por ter caído outra vez na esparrela.

Senti-me tão mal que quando ele se separou dela e me viu ali, com os olhos marejados, a única coisa que consegui fazer foi fugir dali. Correr o máximo que pude para bem longe dele. Para bem longe das suas mentiras...

Mas se eu tivesse ficado, tudo seria diferente. Fui uma cobarde e assumo o meu erro. Mas naquele momento, apenas me vinham à mente frases que ele havia dito, e que naquele momento davam-me nojo.

É a ti que eu prefiro...

Não me deixes ir...

Não vou desistir de ti. Nem de nós...

Recuso-me a deixar-te ir...

Eu só quero ficar contigo...

Só uma oportunidade, Gabi...

És perfeita...

Era tudo mentira, não era? Eu disse que isto nunca acabaria bem. Tal como havia dito, o senhor Murphy estaria aqui para, mais uma vez, provar a sua Lei idiota! Não, eu estaria aqui para a comprovar. Porque tudo veio de uma vez...

A dor de ser traída novamente, quase nas mesmas circunstâncias, fez o meu peito estalar, rachar em milhares de partes distintas, impossíveis de serem reparada. Tudo não passava de uma linda mentira.

As suas declarações não eram mais do que uma forma de assegurar uma foda de vez em quando. E o meu coração destroçado era o castigo de me ter deixado levar, novamente. Eu sabia que isto não ia prestar, mas mesmo assim caí que nem uma pata.

Eu ouvi-o chamar por mim, ao longe. Bem longe na verdade...

Tudo em mim estava entorpecido. Os meus ouvidos, com as suas frases que me iludiram, a minha mente com as memórias que eu pensei que fossem verdadeiras, os meus olhos com as lágrimas que caiam em forma de cascatas pela minha face abaixo.

Doía tanto. Mais do que algum dia eu pudesse imaginar, mais do que algum dia senti.

A única coisa que eu consegui pensar com clareza era fugir, fugir dali. Fugir das memórias que me magoavam mais que tudo, fugir dele.

Corri tanto, que nem sabia por onde estava a ir. Apenas parei quando ouvi o meu nome ser chamado de uma forma desesperada. Mas já era tarde, algo bateu em mim com tanta força que me fez rolar pelo asfalto. Doía tanto que tudo ficou negro instantaneamente.

E por momentos tudo parou. Até a dor.     

*****

Olá, minha Uvinhas!!🍇🍇

Não sei mesmo o que dizer, só espero que não me façam uma espera à porta de casa, com a foice na mão... kkkk

Vocês vão perceber que isto e o que se avizinha vai ser tudo necessário para a história deles, por isso, aguentem firmes!!!

Não esqueçam de votar e COMENTAR o que acharam!!! 

Amo muito vocês!!!  ❤❤❤💛💛 

[concluída] Submersa pelo Desejo | Série Desejo - I |Onde histórias criam vida. Descubra agora