Setenta e três

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×Samyra×

Abro os olhos lentamente assimilando tudo que está ao meu redor. Pisco inúmeras vezes pela dor de cabeça que me atormenta. Olho pro lado e pulo da cama ao ver a Vera me olhando inexpressiva.

_Vera!_Berro indo de encontro aos seus braços._Ai meu Deus, que bom que você está aqui!

Ela me abraça mas permanece calada. Olho pro seu rosto e ela abaixa a cabeça.

_O que aconteceu? Por que você está assim?

De repente a porta é aberta e eu me assusto novamente. Entra o Héctor e o Albert do seu lado.

_Você lembra do que aconteceu, Samyra?_Héctor pergunta com um olhar curioso pra mim.

_As memórias estão chegando aos poucos..._Caminho ao seu encontro._Por que?

_Por enquanto, nada._Ele toca no ombro do Albert._Fique com ela até eu mandar chamar-lhe, filho.

_Sim, pai._Ele responde e o reverencia.

Héctor sai do quarto e um clima estranho se instala no quarto.

_Vou deixar vocês conversarem._Vera se direciona para a saída do quarto._Volto depois para conversarmos, Samyra.

Ela sai fechando a porta com leveza. Sinto o olhar do Albert em minha direção e automaticamente toco no meu ventre.

_Eu... Eu não sabia...

_E não saberia até aquela bruxa maldita ter lhe dito._Ele se aproxima de um jeito imponente._Ela pagou pela insolência feita à todos nós. Você deseja alguma coisa?

Menciono tocar no seu rosto, mas ele segura meu pulso firme antes da minha mão encostar.

_Eu te fiz uma pergunta.

_O que você tem?_Puxo minha mão._Ai, isso dói!

_Já vi que não vai querer nada. Irei sentar aqui e esperar que meu pai me chame.

Ele senta-se em um sofá e cruza as pernas me encarando. Sinto o meu bebê mexer levemente e isso causou uma certa dor. Apóio-me na cama e deito vagarosamente.
Do nada, como em flashback, começo a lembrar de tudo que aconteceu. Tudo nos mínimos detalhes. Quando acaba, puxo o ar fazendo um barulho alto.

_O que foi? Precisa de ajuda?_Ele fica em pé olhando-me.

_Eu quero que você saia daqui. Agora!

Ele me dá as costas e vai embora batendo com força a porta do quarto. Não acredito que o cretino do Héctor fez isso...
Eu preciso salvar o Albert devolvendo-lhe o coração. A Salim não pode morrer em vão. Ela não vai!
Vou até o banheiro tomar um banho. Visto algo mais leve e penteio os cabelos. Fico encarando meu reflexo no espelho totalmente pensativa. Ela deixou seus poderes para mim. Eu preciso de ajuda pra poder usá-los. Saio do quarto indo atrás da Vera. Encontro-a na imensa cozinha do castelo.

_Você precisa me ajudar._Sussurro.

Ela assente e assim vamos até seu quarto. Sentamos na cama totalmente ofegantes pela maratona que foi chegar até aqui. Esse lugar é imenso!

_No que exatamente você precisa de ajuda?

_Quando a Salim sacrificou-se pra salvar o Albert, ela não só morreu como abriu mão de seus poderes de bruxa morrendo como humana. Eu estou com os poderes dela, Vera. Eu preciso saber usá-los.

Ela me encara com os olhos arregalados e parece assustada com tudo. Eu também estou assustada com tudo isso. Salim deixou em minhas mãos não só seu poder, mas a missão de devolver o coração do Albert.

_Samyra, não é fácil assim. Eu estou tirando feitiços do livro que a Sabrinne me deu. Sou uma bruxa aprendiz, apenas. Lembro que o poder emanava facilmente das mãos de Salim. Você precisa sentir o poder fluir. Pense no que deseja fazer e deixe seu corpo te trazer a resposta.

Assinto achando isso tudo uma loucura. Eu preciso pensar no que fazer e deixar meu corpo fazer sozinho? Não é tão fácil assim.

_Eu preciso ir falar com o Héctor. Por favor, se cuide. Aproveita e tenta entrar em contato com as pessoas que ficaram em Nesh.

Ela assente e assim saio do seu quarto. Procuro pelo Héctor gritando seu nome em alta voz no meio do imenso salão. Ele logo se materializa atrás de mim. Encaro seus olhos vermelhos com raiva.

_Que gritaria é essa?_Ele resmunga._Não te ensinaram que gritar na casa dos outros é uma falta de educação sem tamanho?

_Me ensinaram também que roubar coisas dos outros é bem pior._Falo autoritária._Está na hora de devolver o que não é seu, Héctor.

Nesse momento o Albert aparece caminhando em direção ao Héctor.

_Você quer seu coração de volta, filho?

_Não.

_Está vendo, Samyra? Ele não quer. Se a pessoa não quer mais a coisa roubada, o certo é ficar com o ladrão.

_Você fez um acordo com Salim. É injusto não cumprir. Ela por mais que estivesse encurralada preferiu confiar em você. Cumpra! Devolva o coração do Albert!

Ele começou a rir como se o que eu tinha falado fosse a piada mais engraçada do século.

_Você acha mesmo que eu vou devolver o coração dele?_Ele sorria ainda mais._Claro que não, jovenzinha tola. Eu preciso do Albert aos meus comandos. E desse bebê aí também._Ele aponta pra minha barriga e eu escondo-a com a mão._Curta bem sua gestação. Podem ser seus últimos momentos...

Ele me dá as costas e sai caminhando calmamente como se nada tirasse sua paz. Fecho meus punhos em total ódio por esse homem. Eu preciso descobrir onde ele guardou o coração do Albert e resgatá-lo. Mas antes eu preciso aprender a usar e controlar meus poderes. Com eles eu terei como proteger a mim e ao meu bebê.

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Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora