CAPÍTULO 1.2: Tinder (Parte II)

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O local estava absurdamente escuro. E o Leonardo estava acordando lentamente sentindo as suas mãos amarradas atrás de uma cadeira. "Onde eu estou?" ele pensou tentando decifrar alguma coisa, e sem sucesso. Não era possível enxergar uma só luz. Ele tentou falar, mas a boca estava vedada com um pano. Os seus pés estavam amarrados aos pés da cadeira. "Eu fui sequestrado?" ele pensava já sentindo calafrios, e com muito medo do que poderia surgir em seguida. Em instantes uma lâmpada vermelha se acendeu. Era somente uma única luz em meio a toda escuridão. A pouca iluminação estava apenas direcionada aos quatro seres. Todos eles estavam mascarados. Um com uma cabeça de coelho gigante todo sujo. O outro com uma cabeça de cavalo muito realista como se de fato fosse a cabeça do animal sendo usado como uma máscara, e ao seu lado um outro disfarçado de palhaço bem macabro e também era possível ver os cachos de seu cabelo caindo na frente do falso rosto. Todos os três estavam atrás de um único homem que parecia estar inalando algo vindo de um tubo acoplado a uma máscara muito semelhante usada na Segunda Guerra Mundial para entrar nas câmaras de gás sem morrer intoxicado. Ele retirou a máscara e surgiu o rosto do Nicolas. Aquele maldito rosto bonito.

— Você provavelmente deve estar confuso, eu admito

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— Você provavelmente deve estar confuso, eu admito. — Ele devolveu a máscara para o coelho e pegou uma cadeira e se aproximou do Leonardo sentando na frente dele. — Sabe o que me dar mais nojo em sua espécie?

"Sua espécie?" Pensava Leonardo não conseguindo encarar somente ele com os outros três atrás intactos observando-o.

— A podridão que vocês causam na terra. Essa promiscuidade registrada na pele de vocês. Isso é uma vergonha, e uma aberração. Vocês são uns veadinhos desgraçados que merecem apenas a morte.

Leonardo percebeu do que se tratava. Sim, o Nicolas era um homofóbico psicopata. Há dias surgia sem muito alarde nos jornais locais que um grupo supostamente Skinheads estavam realizando atrocidades na comunidade LGBT causando inúmeros assassinatos. E muitas mortes não foram comentadas, e nem relatadas aos noticiários. A maioria dos homens, ou mulheres gays, que são assassinados muita das vezes a população não ficava sabendo, e na maioria dos casos é por causa da homofobia.

— Você está me ouvindo, seu merda?! — Nicolas gritou com os olhos profundamente cheios de ódio.

Leonardo consentiu apenas acenando um sim com a cabeça, e foi então que Nicolas socou e cuspiu o seu rosto.

— Saiba que você não sairá vivo daqui, e você sabe muito bem que você só será mais uma estatística ignorada de um veadinho morto. Mas com a gente. — Ele dizia abrindo os braços olhando para os mascarados e sorrindo. — Não irá acontecer absolutamente nada, e você no fundo sabe disso.

Leonardo abaixou a cabeça e deixou uma lágrima escapar.

— Eu não aguento. — Nicolas se levantou enojado. — Tire essa merda da boca dessa bicha.

O cavalo se aproximou, e retirou o pano que cobria a boca do Leonardo. Ele respirou fundo aliviado, mas ainda continuava com medo. Ele não sabia o que poderia acontecer, mas sentia que nada de bom sairia daqueles homens psicologicamente perturbados.

— Agora você tem a chance de falar como homem. — Nicolas se virou e voltou a olhar para Leonardo. — Me encare e diga. Seja homem pelo menos uma vez na sua vida.

Leonardo não tinha o que dizer, porque ele estava com muito receio. Mas logo o medo deu lugar a raiva. E ele sabia que não tinha chances de sobreviver, portanto era a hora certa de ele dizer algumas verdades.

— Eu jamais pensei que iria passar por algo parecido com isso. — Leonardo estava de cabeça baixa. — E tolo fui eu de ter caído no papo de um cara com um rosto bonito.

Nicolas soltou uma risada cortando o que o Leonardo iria dizer.

— Mais nojo eu sinto de mim por conseguir atrair estercos como você! — Respondeu o Nicolas.

Leonardo levantou a cabeça ignorando os outros mascarados e começou a encarar intensamente o Nicolas.

— Você não é nada. Você também é um lixo. Você não é humano. Você é um babaca, um monstro, um corpo que só serve para proliferar bactérias.

Quando Leonardo começou a expor claramente a sua fúria, as palavras usadas fizeram imediatamente Nicolas relembrar do seu pai, e na forma como ele dizia as mesmas frases no passado.

— Quando você chegar bem perto do fim você irá perceber que a sua vida não serviu para nada. E que você viveu uma grande mentira. Porque você é um nada. Um oco. Você é uma cobaia. Um escravo de traumas que merece apenas sofrer, e sofrer.

Nicolas enxergou o rosto do seu pai em Leonardo. Era como se ainda ele estivesse vivo bem ali sentado na cadeira dizendo tudo aquilo outra vez. O machucando novamente com as palavras. A sua mente o fez retornar a memória de quando ele ainda era uma criança, e o seu pavor ressurgiu observando o seu pai se aproximando com um pedaço de madeira pronto para acertá-lo na cabeça.

— Vamos seu desgraçado. Lembre-se sempre disso seu homofóbico delinquente. — Leonardo estava com a voz carregada, e não parava de chorar, e com a voz trêmula disse as suas últimas palavras. — Você é uma aberração da mesma forma como você acredita que eu sou.

Nicolas pegou a sua pistola de 9mm e disparou na cabeça do Leonardo. Após o disparo ele saiu daquele local, e os outros mascarados começaram a retirar da cadeira o corpo morto do Leonardo. Era um porão onde eles estavam, e tinha muitas árvores em volta. Ele correu e parou perto de um tronco caído um pouco afastado de onde os outros estavam. Ele não aguentou e começou a chorar lembrando de todas as ofensas que sofreu do seu pai.

— Eu não sou eles. Eu não sou eles.

Nicolas repetia a frase como se fosse um mantra. Ele pegou o canivete que tinha usado para cortar o rosto de Leonardo e começou a fazer vários cortes na própria mão a fazendo sangrar. A dor aumentava na proporção que ele afundava o objeto na pele criando um corte profundo.

— Eu não sou eles! — Ele gritava fazendo vários cortes na mão. — Eu não sou eles! — Ele deitou no chão com os braços abertos, e com uma mão empoçada de sangue.

 — Eu não sou eles! — Ele deitou no chão com os braços abertos, e com uma mão empoçada de sangue

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