Rio Grande do Sul, ano de 2001.
Era um sítio enorme da família dos Rustichers que ficava no interior do Rio Grande do Sul. E quando tinha oportunidade Bartholomeu, pai do Nicolas, sempre passava as férias neste local. Era como se fosse um parque de diversões para ele. Um dos únicos momentos que se podia ver o pai do Nicolas sorrir por alguns segundos apenas. Bartholomeu era o Sargento do exército do 32° batalhão de Infantaria Leve localizado no Rio de Janeiro, e pelos costumes adquiridos no exército, ele era um homem muito severo, bruto, e completamente frio e com pouca paciência.
— Levanta logo moleque, para de ser mariquinha. — Bartholomeu balançava violentamente o braço do Nicolas o machucando pela pegada forte de sua mão. Nicolas tinha tropeçado em uma pedra na trilha que estava fazendo com o pai, e mais três tios e duas primas.
— Deixa o menino, ele só tem 9 anos é uma criança! — Uma das primas repreendendo a atitude exagerada do Bartholomeu.
— Uma criança não, ele já é um homem. Ou do contrário, eu o quero morto. — Os tios começaram a rir acreditando que aquilo era só uma brincadeira. Mas as primas levaram a sério e ficaram assustadas. E o Nicolas só ficou de cabeça baixa limpando a roupa que tinha sujado de terra.
Nicolas perdeu a mãe muito cedo quando ainda tinha um ano de idade. E ficou apenas ele e o pai vivendo juntos. O comportamento de seu pai assustava não só ele, mas todos em volta. Bartholomeu detestava homossexuais. Ele já disse abertamente que faria qualquer coisa para espancar qualquer casal homoafetivo que passasse na frente dele. Por ter este temperamento muito violento e pouco acolhedor, Nicolas tinha medo de se expressar com o pai. Eles quase não conversavam. Bartholomeu tratava o filho como se ele fosse um soldado. E vivia brigando com o menino e até realizando agressões físicas deixando marcas nos braços, pernas, e até no rosto do Nicolas. Todos estavam retornando a casa de três andares que ficava no sítio, e próximo dali existia um estábulo com seis cavalos de raça do pai de Bartholomeu. Nicolas desde pequeno tinha fobia por cavalos e toda vez que pensava em um começava a se tremer todo de medo. E dessa vez não foi diferente. Ele estava se aproximando da casa quando avistou o estábulo e parou imediatamente como se os seus pés ficassem presos no chão. Os tios e as primas que estavam juntos com ele já tinham retornado à casa, mas o Bartholomeu percebeu que o filho parou e ficou olhando fixamente para o estábulo assustado.
— O que está havendo contigo? — Ele ditou a frase usando um tom rude olhando diretamente aos olhos do Nicolas.
— Nada não pai, me desculpe. — Nicolas abaixou a cabeça.
— Vem aqui. — Bartholomeu pegou o Nicolas pelo braço, e começou a andar até o estábulo. — Eu não quero ter um filho igual uma bichinha com medo de qualquer coisa.
Nicolas tentou se soltar, mas foi em vão, porque o pai dele segurava firme e isso estava machucando o seu braço. O coração acelerou, e ele começou a suar frio. Nicolas tremia dos pés à cabeça, e quanto mais se aproximava do estábulo mais a sua mente criava várias fantasias demoníacas sobre aquele local.
— Pai, me perdoa. Eu não fiz por mal. Me desculpe. E não me leva pra lá não pai. Por favor. — Nicolas chorava de soluçar.
Bartholomeu não deu ouvidos as súplicas do filho. Ele chegou no estábulo abriu o portão e jogou o garoto com tanta violência que ele rodopiou no chão ralando o joelho.
— Você ficará aí dentro até aprender a ser homem de verdade! — Bartholomeu trancou o estábulo, e se afastou sem nenhum remorso. Ele até sentiu prazer por ter feito isso.
Nicolas entrou em um desespero total, pois o estábulo estava muito escuro e os cavalos estavam fazendo barulho. Era possível ver o brilho dos olhos deles que refletiam a pouca luz que entrava no estábulo. Ele tentou gritar e fugir. Ele bateu no portão do estábulo várias vezes, mas sem sucesso. Ninguém o ouviu. Ninguém estava por perto. Para o seu pai isso parecia um medo tolo, mas para o Nicolas aquilo era viver como no inferno. Ele entrou em choque. Ele não conseguia se mover. Ele se sentou, e ficou parado com os olhos abertos tremendo. Nicolas estava tendo um colapso nervoso. E a partir deste evento aterrorizante, por causa da ignorância do pai, um menino de nove anos entraria em um desequilíbrio mental tão radical que o levará a ter uma depressão altamente profunda por tenebrosos quatro anos.
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ÉDEN
Misterio / SuspensoO Éden é uma seita criada por Nicolas Rusticher com apenas um objetivo: Aniquilar todos que se relacionam com o mesmo sexo. Mas existe uma pergunta em Nicolas que ele precisa indispensavelmente encontrar a resposta. Entre todas as vítimas que ele já...