CAPÍTULO 1.13: As Instruções

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Pedras do Arpoador, ano atual.

Nicolas estava nas pedras sentado observando o pôr do sol quando surgiu o Pablo sentando ao lado dele.

— A última missão lhe deixou muito inquieto.

Pablo era o mais velho do grupo e parecia ser o mais experiente também. E Nicolas sempre o consultava quando precisava responder algumas questões difíceis.

— Toda essa ideia do Éden não me parece ser tão real. Esse tal instrutor me parece mais uma brincadeira de alguém.

Pablo encarava o Sol descendo lentamente pelo mar.

— Uma vez no Éden sempre no Éden.

Nicolas conhecia bem esta frase. Ele sabia também que o Éden era uma espécie de sociedade secreta muito maior do que ele podia imaginar. As instruções eram claras e elas vinham com informações sobre praticamente tudo o que o grupo precisava. Nicolas tinha acesso a qualquer recurso do governo brasileiro, e poderia alterar qualquer sistema que desejasse. Por isso era tão fácil praticar os assassinatos. Ele tinha acesso a armas ilimitadas, ao poder judiciário ilimitado, e ao poder legislativo ilimitado.

— Eu só queria uma coisa. — Nicolas pegou uma pedra e jogo longe no mar. — Encontrar esse instrutor. E olhar para o rosto dele e descobrir quem ele é de verdade.

Pablo ficou em silêncio.

— Uma pergunta, por que nas instruções eles não pediram a sua iniciação? Os outros foram iniciados, mas você? Bom, você não fez nada e só entrou no grupo. O que você tem com eles? — Nicolas estava encarando Pablo esperando uma resposta satisfatória.

— Vai ver eles gostam de mim. — Pablo sorriu.

— Eu não estou brincando. — Nicolas ficou sério. — Sabe muito bem que eu posso acabar com você independente da sua idade, ou experiência.

— Cuidado com o que você fala, Nicolas. — Pablo se levantou. — Nunca e jamais subestime alguém. — Ele deu as costas e saiu.

Nicolas ficou pensando naquela frase e assistindo o Sol escondendo a sua boa parte para debaixo do oceano.

Já estando em casa o Nicolas foi até o banheiro e tomou um banho. Ele foi para o quarto e abriu o notebook para checar os seus e-mails. Um chamou a sua atenção. No destinatário, em vez do nome, estavam várias interrogações. E ele já sabia o que era aquilo.

— Outra instrução. — Ele abriu o e-mail.

Lendo todas as informações ele começou a sentir uma pontada no coração. Aquela não era mais um simples plano. E agora algo mudou. "Ele pode ver tudo, ele ouve tudo". Nicolas lembrou desta frase quando o grupo tocava no assunto sobre o instrutor. Na instrução estava indicando uma missão para o Éden explodir um ônibus em um ponto de parada. E em anexo as fotografias de todos os passageiros que possivelmente estariam naquele veículo. Um deles o Nicolas reconheceu. "É o Gael" Ele falou mentalmente. Pela primeira vez Nicolas estava planejando traçar um plano contra as instruções. Ele pesquisou todos os residentes na área do Rio de Janeiro filtrando inúmeras informações como os cadastros de matrículas em faculdades, empresas, cursos, em busca de registros sobre o Gael, e depois de vários minutos ele conseguiu encontrar. Ele morava na rua São Clemente próximo ao shopping Botafogo Praia Shopping. E é onde seria o ponto de partida do ônibus de número 325 que sofreria o atentado. Era o mesmo ônibus que o Gael pegaria para ir em direção a faculdade no mesmo horário que a instrução estava indicando para a bomba ser acionada. Nicolas pegou todas as informações e correu para o seu Sedan Preto. Eram exatamente 17:20 e as instruções informavam o horário da explosão para às 17:50 onde os passageiros estariam já embarcados no ônibus.

Boltér, Erick e Pablo estranharam a ausência novamente do Nicolas, mas deram início aos planos. Em seu Citröen C4 vermelho, Pablo dirigia em direção a garagem dos ônibus da empresa que sofreria o atentado. O carro 325 iria sair da garagem, e portanto eles invadiram o local mascarados. Não havia muita segurança no local, então foi bem fácil a invasão. Boltér e Erick ficaram na entrada, enquanto Pablo foi até o ônibus e instalou as bombas embaixo do carro próximo as rodas. Ele retornou até o grupo e voltou para o Citröen indo em direção ao ponto certo para acionar as bombas e assistir de longe a explosão.

O trânsito nas ruas em direção ao Shopping de Botafogo estava um caos. E quase todas as vias estavam congestionadas de veículos. Nicolas sabia que o grupo já estaria dando início a missão e que o ônibus estava a caminho do ponto onde o Gael embarcaria. Nicolas olhou para o relógio e viu que só tinha 30 minutos. Ele largou o carro no Shopping Rio Sul e foi a pé correndo torcendo para chegar a tempo, pois era uns dois quilômetros de distância até o destino. No meio do caminho ele viu um ciclista, e o empurrou jogando-o no chão e roubando a sua bicicleta acelerando com toda a pressa. Faltavam apenas 25 minutos para o embarque.

Gael estava de mochila pesquisando algumas coisas em seu smartphone aguardando a condução que iria para a Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro que ficava na Gávea. Quando avistou de longe o ônibus da sua linha chegando. A numeração grande do carro indicava 325. Ele e mais pessoas ao redor deram sinal para o motorista parar. A porta se abriu para os passageiros embarcarem, e uma fila para entrar logo se formou. Gael era o último.

Nicolas estava começando a ficar sem fôlego quando virou a esquina e viu o ponto de parada do ônibus. O carro da numeração 325 estava parado e os passageiros embarcando. E só tinha uma pessoa na frente do Gael. Ele pisou no pedal com tanta força e acelerou com tanta pressa que a distância entre os dois durou segundos. Nicolas largou a bicicleta na calçada e pegou o Gael pelo braço com toda a força fazendo o garoto ficar assustado.

— Saia daqui agora porque esse ônibus vai explodir.

— O que foi Nicolas, o que está...

Não deu tempo para completar a frase e Nicolas pegou o Gael com toda a força e o arrastou fazendo-o correr. Em alguns metros longe tudo aconteceu muito rápido. A bomba foi acionada, e o ônibus explodiu. O impacto foi tão forte que mesmo os dois estando um pouco afastados eles caíram. Os espelhos do shopping quebraram fazendo cair cacos de vidros por toda a parte. Nicolas abraçou o Gael tentando protegê-lo dos estilhaços que estavam caindo para que ele não se ferisse. De longe Pablo estava dentro do seu Citröen analisando e calculando toda a cena. Nicolas estava novamente próximo daquele garoto que usava óculos e tinha cabelos enrolados. Mas dessa vez ele estava indo contra as instruções, contra o instrutor, e contra o Éden.

 Mas dessa vez ele estava indo contra as instruções, contra o instrutor, e contra o Éden

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