CAPÍTULO 1.17: O Estábulo (Parte I)

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Na Avenida Brasil, às 23:55.

Erick estava sozinho dirigindo uma espécie de transporte de animais. O caminhão era enorme. O trânsito a tarde da noite era tranquilo no Rio de Janeiro podendo chegar no centro bem mais rápido do que na hora do rush que é um trânsito infernal. O celular que estava no banco do passageiro começou a tocar.

— Diga! — Ele atendeu sem ver o visor, mas ja deduzia quem era.

— Eu acabei de localizar os dois pelo smartphone do Gael, e eles estão em Botafogo, e eu estou lhe passando agora as coordenadas.

Erick estava lembrando de quando se iniciou no Éden, e como Nicolas para ele parecia ser uma espécie de grande amigo ou um mestre, e agora ali estava ele numa missão para matar aquele que o criou.

— Onde largo essas coisas?

— Na rua onde eles estão, isso causará um estresse em Nicolas e precisamos desestabilizar a sua concentração. — Pablo suspirou. — É difícil de admitir, mas o Nicolas é perigoso. Ele sabe como atacar, ele conhece os pontos fracos e ele faria de tudo para acabar com todos nós. Por isso é preciso dessa instabilidade mental.

Erick estava analisando todos os erros que poderia ocorrer nesta missão, e o resultado do cálculo era unânime. Mais negativo do que positivo.

— Tudo bem, eu estou chegando em alguns minutos. — Erick dizia seriamente.

— Ótimo, e lembre-se. Ele é o inimigo agora. — Pablo desligou.

A depressão do Erick voltou a todo vapor, e isso estava lhe dando gás para ir até o fim nesta missão. Ele sabia que de alguma forma ou de outra ele iria acabar morrendo.

Na residência do Gael, às 00:35.

Nicolas e Gael estavam deitados na cama conversando sobre o passado dos dois. Eles estavam na sala quando aconteceu o primeiro beijo, e depois Gael pegou o Nicolas pelo braço e o levou até o quarto para mostrar os seus álbuns de figurinhas que guardava até hoje, porque quando os dois eram pequenos eles viviam correndo até às bancas para conseguir as figurinhas brilhantes mais raras. Eles quase não conseguiam porque era muito difícil e gastavam muito dinheiro para poder encontrá-las. Mas quando quando eles conseguiam, eram uma grande comemoração na certa.

— O que você fez durante esse tempo todo? — Gael estava deitado de bruços balanço as pernas no ar, e olhando para Nicolas todo jogado na cama.

— Eu não fiz nada de bom. — Nicolas respondeu seriamente. — E você?

— Bom, eu fiz o que todo cara normal faz. Eu estudei, e sai do colegial, depois eu entrei na faculdade, essas coisas.

"O que todo cara normal faz" pensou Nicolas concluindo que ele mesmo não era definitivamente normal.

— Você esconde algo obscuro, não é?

Nicolas se assustou e encarou o Gael.

— Por que está dizendo isso?

Gael sorriu.

— Os teus olhos carregam muita coisa. E eu sinto isso também. — Gael encarou a janela. O céu, aquela noite, estava estrelado. — Você precisa se libertar dessa escuridão. — Voltou a olhar para Nicolas. — Você precisa entender que você não é ruim. Fizeram você se tornar ruim. O seu pai por exemplo.

Nicolas não tentava se esforçar em lembrar do Bartholomeu, mas toda vez que alguém o fazia lembrar, ele de imediato se arrepiava. Existia muita carga negativa nas lembranças sobre o seu pai.

— Eu preciso ir ao banheiro. — Nicolas tentou cortar o assunto.

— É só descer as escadas, e atravessar a cozinha, na porta a esquerda.

Nicolas se aproximou do Gael e beijou o seu rosto.

— Obrigado. — Ele sussurrou fazendo Gael sorrir.

Nicolas desceu as escadas, e a sala estava com as luzes apagadas e a cozinha com a iluminação fraca. Ele escutou um barulho do lado de fora da casa, mas não deu muita atenção. Foi até o banheiro urinar, e após terminar ele retornou até a sala e novamente ouviu outra vez o barulho, mas agora era mais intenso. Ele se aproximou na janela e só conseguiu enxergar silhuetas. Eram várias coisas se mexendo. "Que merda é essa?" Por instinto ele pegou a sua 9mm que escondia sempre na calça e foi até a porta da sala e ver o que era que estava se mexendo no escuro. O pesadelo voltou, mas de forma diferente. Ao abrir totalmente a porta ele podia ver que na frente da casa tinha vários cavalos andando tranquilamente, e outros estavam parados rinchando. Nicolas começou a caminhar lentamente pelo quintal da casa do Gael, e reparou que a rua inteira estava repleta de cavalos abandonados. A visão do estábulo pairou na frente de seus olhos, e em segundos o passado estava retornando a vida. A fobia não era tão forte hoje em dia como na época quando era criança. Mas ao se deparar com inúmeros deles na rua de uma cidade grande era algo incomum e até mesmo macabro. Fazendo o Nicolas lembrar do pavor que sentiu dentro do estábulo. Ele sabia o que aquilo significava, e concluiu os seus pensamentos quando avistou de longe um homem parado no meio daqueles 37 animais. Ele estava vestido todo de preto, e usando uma máscara de cavalo.

 Ele estava vestido todo de preto, e usando uma máscara de cavalo

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