Vargem Grande, Rio de Janeiro.
Ano de 2003.Dois anos se passaram após o evento do estábulo, mas Nicolas ainda estava sofrendo dos efeitos colaterais devido a irresponsabilidade do Bartholomeu. Após o colapso nervoso o Nicolas entrou em uma depressão profunda. Ele não conseguia se comunicar com ninguém, e se tornou um garoto de 11 anos completamente antissocial. A dificuldade de se relacionar piorou, e foi piorando ano após ano. E o relacionamento entre "pai e filho" foi posto um silêncio enorme. Bartholomeu não se culpava por isso, e ele considerava o filho fraco demais e que Nicolas precisava de lições severas para ser um futuro homem de família. Portanto, Bartholomeu acreditava que tudo que estava fazendo para o filho era para o bem dele.
Nicolas estava sentado no pátio do colégio sozinho comendo um biscoito recheado. Ele estava de casaco, e com o capuz cobrindo a cabeça escondendo boa parte do seu rosto. Ele não conseguia se relacionar com ninguém. E mesmo que a sua boa aparência atraia a atenção de garotas, e até mesmo de garotos gays, ele não conseguia se comunicar. De longe ele podia perceber um garoto de óculos aproximando-se dele, e as suas pernas começaram a balançar. Isso era um sinal comum de nervosismo surgindo. Mais uma vez ele terá que encarar um desconhecido, e isso era uma tarefa completamente difícil. O garoto chegou na mesa e se sentou na frente dele. Ele ficou calado sorrindo e olhando para os lados naturalmente e voltou a encarar Nicolas.
— Olá, eu me chamo Gael. — Ele aproximou a mão em forma de cumprimento esperando o Nicolas corresponder, mas isso não aconteceu. Ele só encarou a mão aberta do garoto e voltou a observar o vazio ao seu redor.
Gael percebeu que ele não iria apertar a sua mão e recolheu rápido tentando perceber se alguém tinha visto a recusa que ele tinha recebido.
— Desculpa, eu só achei que você precisasse de alguma ajuda. Ou precisasse conversar. — Gael explicava sorrindo como se estivesse feliz com algo.
Gael usava óculos e seu cabelo era encaracolado e um pouco comprido. A sua pele era parda, e ele era bem magro, e os seus olhos eram castanhos claros. Pareciam duas galáxias de cores marrons. O Nicolas percebeu que ele tinha algo diferente das outras pessoas que se aproximava dele, e tentou dessa vez arriscar.
— Por que você quer me ajudar? Se você nem me conhece? — Ele perguntou.
— Mas eu estou conhecendo agora. E não vou querer te ajudar porque eu preciso de algo em troca. — Gael olhou para o céu observando os pássaros batendo as suas asas e voltou a encarar Nicolas. — Eu vou te ajudar porque eu simplesmente quero te ajudar. Simples assim.
E pela primeira vez depois de sete anos o Nicolas começou a se sentir importante. Uma coisa que o seu pai nunca conseguiu fazer.
Gael morava no outro bairro e para Nicolas chegar até a sua casa só precisava andar uma rua reta que durava uns dois minutos caminhando. Os dois se aproximaram muito depois da primeira conversa. Nicolas voltou a se sentir melhor e conheceu outros amigos do Gael também, e ele começou a se enturmar. Mas quem ele mais confiava e se sentia a vontade era apenas com o Gael. É óbvio que Bartholomeu não poderia saber desta amizade. Até porque ele detestava Nicolas com estranhos, pois qualquer pessoa que fosse tentar se comunicar com o seu filho teria que passar pela análise crítica dele, e isso tudo para evitar qualquer contato com homossexuais. Porque na cabeça dele isso era como uma doença contagiosa. Ou seja, se tocar pega.
— Pra que essa caixa? — Nicolas olhava o papelão que o Gael carregava ao se aproximar dele.
— Vamos agora registrar a nossa grande amizade nela.
— Como? — Nicolas pegava a caixa e percebeu que não tinha nada de interessante nela. Era só uma pequena caixa de papelão.
— Espera, eu tenho algo pra te dar. — Gael saiu correndo para dentro de casa para pegar algo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ÉDEN
Mistério / SuspenseO Éden é uma seita criada por Nicolas Rusticher com apenas um objetivo: Aniquilar todos que se relacionam com o mesmo sexo. Mas existe uma pergunta em Nicolas que ele precisa indispensavelmente encontrar a resposta. Entre todas as vítimas que ele já...