ÉDEN

CAPÍTULO 1.11: O Terceiro Trauma

Vargem Grande, Rio de Janeiro.
Ano de 2008.

"Bartholomeu está morto!" Essa foi a notícia que se espalhou por toda a Vargem Grande. Como ele era um sargento renomado do exército, ele foi convocado para uma operação secreta contra algumas facções de bandidos responsáveis por controlar o tráfico. O que o exército comunicou para a família dos Rustichers era que não encontraram o corpo, mas que ele estava morto, pois ele foi pego pelos criminosos. Uma história suspeita, porque não haviam provas muito menos testemunhas para confirmarem isso. Mas a família se encarregou de fazer um altar para Bartholomeu e ajudar o Nicolas que agora se tornaria um órfão com os seus 16 anos de idade. Nicolas não sabia ao certo se realmente estava triste com a morte do seu pai. Até porque os dois nunca tiveram um relacionamento harmonioso entre pai e filho. A única coisa que ele se incomodava era de começar a morar sozinho e a se virar.

— Você pode morar comigo se quiser meu filho. — A Tia Denise acariciava o seu cabelo mostrando solidariedade pelo triste acontecimento.

— Tudo bem tia, mas antes eu preciso ver as coisas lá em casa. E eu também já sei me virar. Eu tenho 16 anos e eu não sou mais uma criança.

Ela se orgulhou com o que ouviu, mas ao mesmo tempo ela achava graça. Na visão dela ele ainda não passava de uma criança. E mesmo com alguns pelinhos no rosto já surgindo, ele ainda era menor.

— Sem problemas garotão. — Ela brincou. — Mas de qualquer forma você precisa de um responsável, e eu sou a sua única família mais próxima, e portanto eu ficarei de olho em você.

— Tudo bem tia. Obrigado! — Ele sorriu para ela e voltou a encarar o altar com a foto do seu pai fardado em cima de várias rosas.

"Ele odiava rosas." Nicolas pensou.

Por algum motivo ele achava toda essa história estranha. As informações não se cruzavam, mas ele decidiu não pensar mais e ir embora dali e retornar pra casa. Falou com os familiares que ainda estavam próximos do altar, e começou a caminhar sozinho para a sua residência onde morava com o seu falecido pai.

Era por volta das 19h e as ruas de Vargem Grande estavam escuras e quase não circulava mais pessoas. Nicolas não tinha muito medo de caminhar sozinho. Devido a sua depressão ele se isolava de tudo e de todos. E mesmo que as pessoas se aproximavam dele, ele não conseguia manter contato por muito tempo. Desde que o Gael foi embora de Vargem Grande, ele nunca mais conseguiu ter amigos como ele. E a saudade só aumentava em seu coração causando uma dor que ele jamais tinha sentido antes. Bem à frente dele na esquina tinha 5 garotos conversando parecia que estavam brincando ou algo parecido. Nicolas passou por perto deles e nem os reparou, ele estava andando de cabeça baixa e só viu as sombras. Inesperadamente uma mão segurou o seu ombro e o puxou para virar pra trás.

— Ei, você é o filho daquele sargento que morreu não é?

Ele sentiu uma pontada no peito. Era a sua intuição querendo dizer algo.

— Me desculpe, eu não te conheço. Eu preciso ir porque eu estou atrasado.

Nicolas se soltou do braço dele e começou a andar, mas os outros caras fizeram uma roda entre ele e todos eles estavam sorrindo e sussurrando alguma coisa.

— Até que ele é bonitinho não é? — O cara que estava mais perto se virou para os outros rindo e voltando a encarar o Nicolas. — Imagina esse rostinho de porcelana com hematomas.

O garoto alisou o rosto do Nicolas, mas de imediato ele empurrou o braço do desconhecido e deu um soco nele. O cara recuou para trás e o outro que estava a sua direita acertou o rosto do Nicolas tão forte que o fez desmaiar na hora.