CAPÍTULO 1.28: A Esfinge

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Campo de Pesquisa Científica do Éden,
ano de 1993.

Bartholomeu caminhava entre os corredores indo em direção a sala de indução mental. Ele estava no maior laboratório de testes clandestino chamado "A Esfinge". Para o governo aquele laboratório era apenas uma fábrica qualquer criada para produzir metais pesados. O laboratório ficava escondido no subterrâneo nos arredores de Magé, no Rio de Janeiro. E chegando na sala ele parou e ficou de frente para um vidro assistindo um bebê de um ano de idade dentro de uma máquina gigante parecida com aquelas de hospitais para fazer exames de tomografia. E na cabeça do bebê estava uma espécie de óculos que cobria quase o seu rosto todo. O equipamento estava passando umas imagens bem aceleradas.

— Há quanto tempo ele está neste teste? — Bartholomeu perguntava para um cientista que estava ao lado dele anotando algo na prancheta.

— Ele já está há três horas intermitentes neste processo. E ele está resistindo a alguns procedimentos. Ele sempre acorda do transe alguns minutos depois. A mente dele tem um bloqueio bem interessante aos Métodos de Löhnhoff avançado.

Bartholomeu não gostou do que ouviu. Ele queria que o garoto já estivesse com a sua mente toda reprogramada pelos equipamentos mais avançados. Todos passavam pelo teste sem resistirem, mas o Nicolas era uma criança diferente.

— O que você conseguiu até agora?

— Só a indução de fobia. — Ele encarou a criança que tentava se mexer, mas estava com os braços e as pernas imobilizadas. — Somente uma.

— Qual?

— Cavalos!

— Cavalos?

— Foi a única coisa que a mente dele aceitou processar com a reprogramação.

"Pelo menos alguma coisa!" Bartholomeu pensou.

— Só que com ele terá que ser feito os métodos tradicionais para conseguir criar o seu soldado perfeito. — Explicava o cientista com o seu jaleco branco e com um crachá escrito "Richard De Lanor".

Bartholomeu começou a caminhar e o Richard estava o acompanhando. Haviam várias salas e todas elas tinha algum ser humano sendo testado. Seja testes mentais ou corporais. O Antigo Éden sequestravam crianças nas ruas. E também roubavam recém-nascidos, e aprisionavam moradores de ruas. Por isso haviam muitas pessoas desaparecidas na época no Brasil. Todas elas estavam presas na Esfinge.

— Então, se precisamos criá-lo. — Bartholomeu referia-se ao Nicolas. — Devemos fazer ele ter ódio de alguma coisa. Uma raiva tão intensa e incomum que o torne um maior assassino já visto na história.

— Você poderia fazer ele se apaixonar por alguém. E induzí-lo a assassinar o grande amor. É preciso bastante coragem e isso iria destravar vários bloqueios mentais liberando a sua iniciação para O Último Trauma.

Era um sincronismo perfeito, mas um trabalho árduo. Os Métodos de Löhnhoff convencionais usavam eventos reais para que a vítima acreditasse que tudo o que acontecia com ela fosse real. Portanto, Bartholomeu teria que manipular tudo e todos em volta do Nicolas para induzir ele a se tornar um grande psicopata. Os dois chegaram em um berçário improvisado no laboratório onde existiam outros bebês recém-nascidos daquele ano. Todos sequestrados em vários hospitais do Brasil. Bartholomeu já tinha escolhido a recém-nascida chamada Maria para ser a cobaia da Iniciação do Nicolas. Mas por algum motivo a menina faleceu bem ali no berçário. Bartholomeu se frustou na hora assistindo a menina morta.

— Mas que merda, e agora?

— Que tal esse aqui? — Richard apontou para um menino que nem chorava como os outros, e dormia como se estivesse em paz.

— Um garoto?

— Exato! Por que não fazer o Nicolas ser estimulado a gostar de garotos. Ele se tornaria um homossexual sem saber. E levaríamos a reprimir essa sua paixão. — Ele apontou para o garoto. — E ele acabaria sendo forçado a ser um homofóbico.

Bartholomeu achou a ideia inicialmente ridícula, mas entendeu o que Richard quis dizer. Na psicologia existe a "Projeção" onde um indivíduo enxerga no outro aquilo que ele se incomoda em si próprio fazendo ele perceber facilmente, e a julgar, os erros que estão em sua volta, mas na realidade o erro está no próprio indivíduo.

— E como faremos o Nicolas ter uma paixão por um garoto?

— Muito simples. — Richard pegou o menino no colo. — Usaremos Os Métodos de Löhnhoff para tornar a vida desse pequeno a mais perfeita possível fazendo dele uma pessoa extremamente boa. E o Nicolas tornaremos a vida dele um martírio. Esse garoto ajuda o Nicolas a aumentar a sua autoestima, e em seguida, se tivermos sorte, o Nicolas acaba se apaixonando por ele. E você... — Richard voltou a colocar o menino no berço. — Transforma o Nicolas em um grande homofóbico reprimindo isso dentro dele. Caso o interesse realmente desperte.

Bartholomeu simplesmente encontrou a sua mina de ouro. E no pé do bebê tinha uma etiqueta escrito o nome dele.

— Gael, não é mesmo? — Ele encarou os olhos do pequeno que parecia está sorrindo. — Eu espero que a sua existência não seja em vão.

A partir daquele momento dois membros do Éden foi convocados pelas instruções para adotar Gael, e fazer a vida daquele menino a mais perfeita de todas. Eles foram morar em Búzios, e seguindo as regras de Löhnhoff tentou manter todo o ambiente um lugar confortável para o Gael para que o resultado fosse ele ter uma personalidade bondosa e caridosa. Os aniversários sempre tinham comemorações. Ele sempre viajava com os pais adotivos sem saber que era adotado. E ele sempre recebia presentes, e era sempre motivado a ajudar o próximo. Até que quando Gael completou 10 anos, e ele e os pais adotivos se mudaram para Vargem Grande, eles colocaram o Gael na escola do bairro onde Nicolas também estudava. Na escolha, Gael viu de longe um garoto de capuz sentado comendo um biscoito sozinho.

— Por que você não vai até lá conversar com aquele menino? — Dizia um homem desconhecido com um chapéu engraçado. — Ele parece estar triste.

— É verdade. — Ele se virou para o homem desconhecido. — Tudo bem, senhor. Obrigado. Eu vou lá tentar animá-lo. — Gael sorriu, e foi todo entusiasmado ao encontro do menino solitário.

O homem desconhecido estava disfarçado. Era o Bartholomeu observando de longe Gael se aproximando pela primeira vez do Nicolas. Gael sentou na mesa e o encarou sorrindo.

— Olá, eu me chamo Gael.

E a partir desse momento tudo mudou.

E a partir desse momento tudo mudou

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