UM

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Depois de colocar uma quantidade considerável de comida para o Nick, — pois a minha hora de voltar era bem imprevisível — tomar um bom banho, trocar de roupa e até secar o cabelo, fui até a garagem do condomínio, já procurando a Land Rover Evoque preta e entrando nela. Meu pé latejou, lembrando-me do acontecimento de algumas horas atrás.

A fatídica quase-queda na frente do carinha gato dos frios.

Minha mente vagou durante alguns segundos, analisando a cena enquanto eu ligava o motor e fazia a manobra para sair da vaga. Ele era bonito. Poderia facilmente ser um modelo ou algo do tipo,— depois das piadinhas, considero até um "comediante" na lista de possibilidades — cabelo loiro, ombros largos, sorriso bonito e... Aqueles benditos olhos verdes que me fizeram pagar mico.

Eu realmente deveria estar muito apressada para não ter prestado atenção nele nas outras vezes.

Puxei a marcha, pisando moderadamente no acelerador, soltando um suspiro baixo.

Meus olhos caem no pequeno ponto arroxeado no dorso da minha mão, onde bati na hora do desespero para me segurar e não meter a cara no chão. Por que isso tipo de coisa só acontece comigo?

É algum tipo de sina?

Pelo menos se ele fosse feio... Ou chato!

Mas, ok, o cara tinha que ser um quase exemplar modelo da Calvin Klein.

Estacionei calmamente e desci do meu carro com várias pastas, o celular já estava na mão e os dedos voavam com uma naturalidade casual de quem está acostumada a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Sim, eu sou uma workaholic assumida. Prefiro mil vezes trabalhar do quê sair por aí. Gosto das coisas que posso controlar.

Srta. Ribeiro? Pode me repassar alguns dos folhetos das possíveis atrações do próximo mês? — Estendi uma das pastas para a jovem garota que assentiu, murmurando um obrigado baixo e saindo rapidamente. Após alguns segundos atordoadores no elevador, cheguei ao penúltimo andar dos dez existentes no prédio da Imperium. O da administração.

Soltei o ar, escutando o "toc-toc" dos meus saltos ecoarem por todo lugar.

As paredes eram bege e marrom, alguns balcões com recepcionistas e pessoas conversando fazia a entrada da ala administrativa. Continuei andando, até achar as várias salas e funcionários atendendo telefones, conversando baixo e concentrados no trabalho. Ao lado da minha sala, minha secretária/colega Beth, digitava fervorosamente no teclado do enorme computador e ainda falava ao telefone com algum possível patrocinador ou investidor.

Sim, sim... Mas, senhor... Entenda! Ela não está. Não... Não pode exig... — Me encostei na sua mesa, lançando um sorrisinho de canto e Beth me lançou um olhar aliviado. — Ela acabou de voltar, sim... A Srta. Ribeiro não poderá atender a sua ligação hoje, senhor Álvares... — Murmurou intencionalmente a voz do velho chato que enchia diariamente o meu saco, querendo que eu fosse experimentar um dos seus hotéis paradisíacos. Revirei os olhos, fitando o meu celular e respondendo alguns e-mails.

— Joyce? — chamou e, mesmo sem levantar o olhar, assenti.

— Avise ao Dr. Fragoso que eu estou de volta e que ele pode trazer o chicote — ironizei, escutando-a rir. Já estava prestes a entrar na sala quando me lembrei de um detalhe... Dando ré, olhei os fios platinados da Beth. — E pede duas pizzas metade calabresa, metade margueritta, porque parece que vamos passar outra madrugada aqui.

— Não precisa me avisar, Betinha! Já estou aqui! — A voz grossa e imponente do Guilherme soou e eu me controlei para não revirar os olhos com a puxação de saco dele para o lado da minha assistente! — E, no lugar de pizza, peça três porções de camarões empanados, estou morrendo de vontade! — pediu e minha boca encheu d'água. Camarão era o meu ponto fraco.

O Sabor Dos Seus Lábios - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora