GUILHERME

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    No meu mundo há duas maneiras de conseguir o que queremos de forma rápida e discreta: subornando e ameaçando. Talvez as duas coisas juntas, ou separadas, não há ordem, só rapidez e dinheiro. Mas eu não posso fazer nenhuma com a Joyce, seria insanidade e um pedido claro para eu mesmo assinar o meu atestado de óbito. 

   Então, o que me restou foi depender do meu charme infalível— que estou até duvidando da sua eficácia, já que ela me desprezou várias vezes. 

  Me deixando com o ego um pouco — lê-se: muito — ferido. 

  Desde pequeno fui acostumado a ter tudo que queria na mão, era só fazer um beicinho, pedir com jeitinho e, puf, estava ali na minha frente. Ao longo do tempo, com as mulheres precisava apenas sorrir, falar algumas palavrinhas mansas e eu as tinha com as pernas abertas para mim. Mas para só isso.  Apenas uma foda sem compromisso e fim.

   Pode parecer clichê, mas relacionamentos sérios me atraem tanto quanto um belo chute no saco. 

   E o meu pai sabia bem desse detalhe da minha personalidade. 

   Sabia também que eu tinha um singelo e esquisito interesse pela sua desastrada aprendiz. 

   Vocês não podem me julgar, não viram a sorridente e atrapalhada Ribeiro de dezessete anos tropeçando nos próprios pés, se matando de trabalhar para impressionar meu pai, conciliar estudos, faculdade e ainda tinha tempo de me lançar uns olhares nada inocentes. 

   E eu a queria, tinha plena certeza disso.  Ela seria um item a parte na minha lista, uma raridade. 

   Bem, era o que eu pensava na época. 

   Quando li a carta que o velho teimoso Fernando Fragoso deixou, gargalhei com a possibilidade de ter que casar a força. Afinal, não estávamos no século dezenove e eu não era a filha de um fazendeiro barrigudo que teria que se entregar para o filho do homem que pagar o dote mais alto. 

   Primeiro, eu tenho um pau no meio das minhas pernas — um belo pau, quero acrescentar. 

   Segundo, eu abominava relacionamentos. Porque são fadados ao fracasso desde seu início. Era o que eu achava antes do primeiro bolo que a Joyce me deu. Pensei que estava prestes a levá-la para cama quando, na hora H, ela me disse que era virgem e que nunca havia beijado ninguém.

   Eu não ri, apesar de ter desconfiado, sabia ler bem as pessoas e podia ver um lampejo de desespero nos olhos dela naquele dia e sai irritado, me lembrando da antiga carta do meu pai. Nessa mesma noite, horas mais tarde e depois de uns três banhos frios,  numa tentativa de esquecer a lingerie vermelha dela, eu reli a carta e resolvi levar a sério. 

   Mas havia algo nela que me puxava para perto — além do fato incontestável da minha falência, caso não cumpra as exigências do meu falecido pai — Joyce conseguia ser a mulher mais tarada e, ao mesmo tempo, inocente que já tinha passado pela minha vida. Ela falava que queria meu pau todo para si e, em seguida, estava fazendo uma piada boba sobre unicórnios.

   Às vezes, até acho ela um pouco bipolar. 

   Principalmente quando nos beijamos e ela, parecendo entender cada gesto meu, se encaixa.        Numa sincronia, numa harmonia quase perfeita. 

   Harmonia essa, que está bem abalada depois de eu ter que dizer a verdade e, seguindo a linha de contradição dela — sério, a caminho do apartamento, pensei que, quando chegasse, ela me mataria — , estar enroscado no melhor lugar do mundo, com as coxas e braços dela me prendendo como se eu fosse um sortudo ursinho de pelúcia é só mais um atestado de que a Joyce realmente pode gostar de mim. 

O Sabor Dos Seus Lábios - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora