QUARENTA E NOVE

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Eu ainda me perguntava se dava tempo de pegar as chaves do carro e sair correndo dali antes que a minha família chegasse, sabe, uma medida protetiva de emergência. Por telefone, eles haviam adorado a ideia de passar a virada de ano em um resort caríssimo que foi alugado pelo meu chefe em uma festa

Só que nessa equação, haviam vários elementos ocultos. Como o fato de que sou casada no civil com meu chefe, ato que fiz para salvar o shopping, no qual sou a Superintendente e bem, ok... Também porque me apaixonei por ele. Mas que escondi durante tempos.

Sim, eles não sabem que sou o braço direito dele, apenas que sou uma "assistente" normal, que ajuda nas reuniões e tem um salário melhor do que as outras por causa de todos os anos dentro do shopping. Nunca quis contar que meu cargo era tão importante quanto o do Fragoso, eu sabia que, pela família que tenho, iam acabar se escorando em mim.

E eu não sou a boa samaritana. Estou bem longe disso.

Então, juntar a minha família e todo o Imperium, não foi a melhor ideia que o Guilherme teve. Mas quem sou eu para estragar o sonho dele de conhecer os sogros, certo?

Deixemos que ele veja com os seus próprios olhos.

- O vestido já chegou.

Levantei meu olhar para fitar Beth, que me ofereceu um sorriso de canto. Afinal, ela se compadecia com toda a situação porque sabia quem era minha família e o quanto todos os finais de anos são complicados para mim.

- Ele é bonito? - perguntei. Eu não tinha o escolhido, resolvi deixar a critério do Fragoso, que mesmo estando entupido de coisas para fazer, insistiu em se encarregar pessoalmente dessa tarefa. Só que ninguém me avisou que isso seria ás dez da noite. A única coisa que faltava era o bendito vestido para eu começar a me arrumar! - Me diz que o Guilherme não escolheu um tecido colado em cada parte do meu corpo ou um laranja berrante e...

Beth me interrompeu, soltando uma gargalhada.

O que me fez encará-la com tédio, sem entender a reação espevitada.

- O que foi, criatura? - resmunguei, claramente, meu bom humor estava indo para as cucuias a cada hora que se aproximava da virada. O que é irônico, porque as pessoas tendem a ficarem extremamente felizes com passar dessas horinhas cruciais que antecedem a chegada de um novo ano e bláblálá.

Ela riu mais um pouco e suspirou, vendo que eu não estava achando muita graça.

- Você está realmente achando que Guilherme Fragoso teria um gosto ruim para roupas? - cruzou os braços e eu quase bati na minha testa com a lerdeza de opinião. - Nós duas sabemos que ele é expert em tirar vestidos de marca, Joyce. Enquanto você fazia sua pós graduação, ele estava ocupado em listar as modelos que passavam na cama dele.

Fiz uma careta.

- Não precisava ser tão específica, Beth.

Eu estava chateada e com uma leve preguiça de me arrumar. Não era culpa dela, de

- O que eu posso fazer por você? - se sentou ao meu lado na ponta da cama, descansando o cabide encapado numa espécie de ganchinho.

- Me despachar em um ônibus de volta à cidade para eu pegar o Nick no hotelzinho caro que o Guilherme o colocou e ficar com agarradinha até isso tudo passar? - me escutando falar dessa forma, voltava a sentir como se tivesse dez anos novamente. - Por favor... - supliquei, vendo-a soltar o ar.

- Joy, eu... - ela tomou o fôlego - Olha, você precisa enfrentar isso. Não pode correr de novo. Sem mentiras e...

- Ei! - exclamei.- Foram pequenas omissões. - ergui o dedo, explicando.

O Sabor Dos Seus Lábios - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora