QUARENTA E SEIS

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Jess jogou a cabeça para trás, soltando uma risada alta. 

Céus, como eu ainda não tinha dado uma bela surra nessa mulher mesmo? 

  —  Tá querendo dar uma de Anastasia Grey, Joyce? — ajustou os pés na minha mesa. Na minha linda e bela mesa, com meu Loboutin que custou metade de dois meses de salário e com essa cara de vadia. — Ambas sabemos que o seu Christian já deu uma voltinha nessas curvas aqui... — apontou para si mesma e eu aproveitei para analisá-la e jogar com as cartas que eu tinha.

— Pelo que eu sei... — suspirei — O Guilherme prefere dar uma de coringa e tomar um banho de ácido do quê ficar com você, prima. — ergui uma sobrancelha. Quanto mais ela tentasse fazer com que eu acreditasse que ele havia dormido com ela, mais mentira seria. 

Ela engoliu a seco, ensaiando um sorriso.

— Isso é o que você pensa, Ribeiro. E eu dei um banho nele com o meu mel. — piscou. 

Eu ri e dessa vez foi real. 

O filho da mãe estava contando a verdade o tempo todo, ele não tinha encostado um dedo na Jess. Eu a conhecia o suficiente para saber que, se algo tivesse acontecido, ela estaria mais ocupada em me tirar de perto dele, para ficar o Fragoso apenas para si.

— Sabe aquela historinha do "ranço"? — perguntei, empurrando aquelas pernas de aranha da minha mesa e me posicionando frente a frente com o rosto a centímetros do dela. — Ele não te odeia. — fiz um biquinho — Ele sente repulsa. E acredite que quanto mais acha que está nos afastando, só faz nos aproximar cada vez mais. 

— Eu... 

Bufei. 

— Você nada. Levante a bunda da minha cadeira e saia do Imperium, aqui não tem lugar para você, Jessyca. — eu estava começando a me irritar — Tudo que eu conquistei foi com esforço e suor. Nada foi ganhado por transar com magnatas ou sair por aí seduzindo homens comprometidos. Foram conquistas minhas e eu não preciso te bater, chamar a segurança ou te xingar. Porque "ambas sabemos" que isso é bem pior do que qualquer coisa. 

Não precisei repetir, ela se levantou da cadeira  e eu fiz questão de pegar o álcool em spray. 

Jess parou para encarar.

Dei de ombros.

— O que foi? — espirrei o gás mais uma vez — Só estou desinfetando. 

Ela grunhiu alto, batendo o pé ao sair. 

— Pode ficar com os saltos, acho que precisa mais que eu! — cantarolei da porta, vendo Beth com o queixo no chão enquanto deveria estar arquivando os documentos da reunião anterior. — Beth? — sorri, me encostando na porta da minha sala, sabia que aquele bendito anel chamava toda a atenção para si. 

Beth franziu o cenho.

— Você casou com o Fragoso? 

— Sim.

— Você acabou de expulsar a sua prima vadia enquanto ele estava gritando horrores com um dos maiores acionistas do Imperium e o colocou para fora praticamente a chutes?

Eu acenei com a cabeça.

— Sim... Quer dizer — arregalei meus olhos — O Fragoso fez o quê? 

Ela mexeu a cabeça

— Vocês dois se merecem, sinceramente. — suspirou e eu já nem escutei o fim da frase porque estava indo em um rompante acelerado para a sala do Guilherme. 

Encontrei um ser descabelado e bufando como um touro raivoso. 

(escutem: Demi Lovato - Tell Me You Love Me)

— Guilherme? — murmurei.

Ele não me olhou, apenas se serviu de uma dose de whisky puro, virando-a de vez. Não só parecia perturbado com algo, ele tremia copiosamente e se eu não tivesse lembrado que estava chateada com os acontecimentos de antes, poderia admitir que tinha ficado preocupada.

— O que foi? — não havia o tom carinhoso, só um questionamento. 

Fragoso folgou a gravata e cruzou os braços, me olhando enquanto se jogava na cadeira. 

— Vi o Jean Rogers sair fazendo escândalo e achei q... 

Ele riu.

— Que poderia vir aqui e me lembrar que não quer nada comigo, que eu fodi a sua prima e que nosso casamento não passa de uma conveniência tola que você fez por pena de fazer todo o esforço do meu falecido pai ir em vão? — soltou, batendo o copo com outra dose em seguida. — Sinto muito,  creio que deva fazer isso depois.  Não tenho paciência para isso. 

Respirei fundo. Guilherme nunca falaria assim comigo. 

— O que aconteceu, Fragoso? — tentei suavizar o máximo a voz. 

Guilherme negou. 

— Nada do seu interesse. 

Senhor, dai-me paciência. 

— O que o Rogers falou? Que seu pinto é pequeno ou que vai exterminar os times de Lacrosse da face da terra? — já falei que sou péssima brincando? 

Ele soltou o ar, encarando a garrafa de Jack Daniela. 

— Eu o demiti. — ele sussurrou ainda mais baixo. 

Enruguei a testa. 

— Isso não era para ser bom? 

Ele negou.

— A multa que vem com a demissão dele é absurda e... — isso são lágrimas? — Ele falou do meu pai. Do quanto ele odiou a ideia de me ter na presidência, o quanto ele me repugnava a cada saída e festinha.  E que... — ele fungou, fitando o nada como se fuzilasse o espírito do velho Fragoso — Que esse contrato nos obrigando a casar era como um castigo... 

Soltei um suspiro, me encostando na parede oposta a dele. 

— Joyce? Você está bem? — perguntou e eu só exibi um sorriso de canto.

— Você não está chateado pelo o que seu pai pensava de você, mas sim, sobre o que ele pensava de mim ao me colocar como penitência para o filho. — retruquei, vendo-o virar mais uma dose do whisky. — E você tem que se lembrar que seu pai me amava e que isso é apenas o Jean tentando mexer com a sua cabeça, Gui.

Ele soltou o ar. 

— Você não acredita? 

Neguei veemente. 

— Nem me pagando uma fortuna. Seu pai me deu o bem mais valioso dele... 

Guilherme franziu o cenho. 

— Mas o Imperium está no meu nome... — murmurou.

Sorri.

—  O cafajeste lindo, o herdeiro dele.  Mais conhecido como Guilherme Fragoso. 

— Eu estou bêbado ou você acabou de ser carinhosa comigo? — arregalou os olhos. Já falei que o Fragoso conseguia ser extremamente bonito fazendo pouquíssima coisa? Mesmo com o rosto inchado e olhos marejados, ele era maravilhosos. 

— Isso não significa que não estou com raiva, só que dei um jeito na Jéssica e, sim, acredito que você não encostou  um dedo sequer naquela jabucreia. 

Ele se engasgou com uma risada.

— Jabucreia? — meneou a cabeça, praticamente chorando de rir. 

Empinei o queixo, assentindo. 

— O que foi? 

Ah, meu doce... — sorriu, me encarando. — Acho que meu pai realmente me casou com a pessoa certa. 

O Sabor Dos Seus Lábios - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora