QUATORZE

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   — Que os deuses Antigos abençoem essa bundinha! — deixei escapar ao entrar no meu humilde apartamento que, além de ter um pseudo modelo internacional, estava incensado com um cheiro magnífico.  

Fala sério, ele estava gostoso demais. 

E eu nem sei do quê estou falando, se é da comida ou de quem está a cozinhando.

   — Você está assistindo Game Of Thrones demais, Joyce — Guilherme retrucou, ainda de costas. Eu sabia que aquele avental e a ausência de roupas, deixando apenas a boxer preta, era bem proposital. 

   Aquela afirmação era verdade. Eu estava bem viciada nos livros e seriados, tendo alguns acessos de fanatismo, às vezes, e roubando trejeitos dos personagens. 

  — Se fizer uma comida ruim, meu lobo irá destroçá-lo, Milorde. — apontei para o Nick e ele ergueu a cabeça, olhando para nós dois com as olheiras levantadas. Semicerrei os olhos. — Isso é traição! Você está persuadindo ele com... 

Vejo a mão do Fragoso escorregar no bolso do avental e puxar um pequeno petisco em forma de osso.

— Isso é punível com a morte! — esbravejei, prendendo o riso e correndo atrás do Nick, que latiu, saltando em cima de mim, enfiei meu nariz no pelo macio, gargalhando alto. — Era pra você morder a bunda dele! Você é tão barato! Se ele nos desse uma lasanha, até ia... Mas um petisco?— cruzei os braços e ele girou, latindo outra vez.

Guilherme riu.

   — Pare de perturbar o Nicolas. — bastou ele falar uma única vez o nome completo do Nick para ele sentar e apenas ficar nos olhando. — Ele ainda lembra dos treinos! — virou-se surpreso, meu olhar se perdeu nos músculos e na colher na mão dele. 

   Seria um dos meus sonhos eróticos? Vou acordar molhada, frustada e irritada com a vida? 

   Sem pensar muito, cutuco ele com a ponta do dedo. 

   Ele sorriu convencido.

   — Sou de verdade, meu doce...— se aproximou para me roubar um beijo, porém me esquivei. Guilherme franziu o cenho, abaixando a temperatura do fogo para me observar. — O que foi? 

   Fiz uma cara desolada.

   — Você é... —  puxei o ar com força e vi ele perder a cor aos poucos. —  O traidor mais gostoso da face dessa terra... —  resmunguei, deixando os ombros caírem. — E isso não vale, porque não quero puni-lo com a morte... — ergui o queixo.

   — E qual seriam as minhas punições, Ó minha adorada rainha?! — entrou na brincadeira e eu reprimi o sorriso. — Creio que poderia fazer qualquer coisa para agradá-la... — Guilherme se ajoelh... Se ajoelhou? 

   Eu gargalhei, balançando a cabeça e cutucando a costela dele com o pé.

   — Se levanta desse chão, vai. Já tenho o Nick, não preciso de outro cachorro para me dar trabalho —  pisquei e ele me olhou com a mão no peito, fingindo estar ofendido. — O que é? 

   — Se eu te disser onde esse cachorro quer enterrar o osso... — lambeu os lábios, me encarando. — Tira o sobretudo, Ribeiro. Me deixe ter essa bela visão novamente... — pediu. 

   Suspirei, olhando para as minhas unhas.

   — Esse sobretudo só sai quando eu estiver devidamente alimentada e... EU ESTOU MORRENDO DE FOME! — reclamei, levantando a voz e o fazendo rir do jeito histérico. — O que foi? Já quer desistir? Porque eu não esqueci da sua tentativa de suicídio ao ir bater de frente com um sargente condecorado da marinha! — me sentei no balcão e ele soltou uma risadinha enquanto mexia um molho branco. — E vocês nem brigaram... —  completei, sussurrando.

   Foi o suficiente para o Guilherme virar com uma expressão curiosa e a sobrancelha erguida.

   — Joyce!

   Dei de ombros, rindo de forma maliciosa.

   — O que foi?  — ri —Tenho o espirito de Helena de Troia, adoraria ver homens brigando e morrendo por mim — foi a minha vez de lamber os lábios e suspirar, com a mente viajando.

   — Você ainda está interessada nele. — disse, cruzando os braços, os músculos do bíceps se pronunciaram e eu salivei, remexendo a cabeça. Guilherme apagou o fogo da panela e eu desejei que ele apagasse o meu... — Você está interessada nele, mas... — encaixou o corpo no meio das minhas pernas, encarando-me intensamente, a mão subiu devagar sob a minha coxa — Seu corpo também me quer — apertou a parte interna da minha coxa e eu arfei baixo. 

   — Gui... 

   Ele se afastou, beijando a minha bochecha. 

   — Você é livre, meu doce. — Guilherme sorriu, colocando o spaghetti nos pratos. — Apenas peço que se lembre do que eu lhe disse, pois quando eu a tiver para mim, vai ser só minha. Não vou te largar mais. Eu tenho a vantagem nesse jogo, mas como sou um homem honrado, deixarei que o meu oponente tenha a chance de se mostrar pelo menos um pouco. No entanto, não sairei de cena, estarei aqui, sempre que precisar — inclinou a outra panela, derrubando o molho sob cada prato.  —  Vamos jantar?  

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 — Estou morrendo de frio — resmunguei. 

   Guilherme riu, se revirando na minha cama.

   — Você está com uma camisola de seda caríssima, ela não foi feita para dormir, meu doce — a pele dele se mostrava macia sob a luz dos raios da noite que escapavam pela janela, os gominhos de músculos sob o abdômen, as entradas e pequenas veias — E eu poderia sugerir dormimos de conchinha, porém sei que ficarei com meu pau duro em trinta segundos e você vai rebolar mesmo quando estiver dormindo. E eu quero permanecer puro. Ok?  

   Ri, dando um tapa de leve no ombro dele. 

   Um bocejo escapou.

   — Não caçoe da minha virgindade, isso é deselegante. 

   — Se estivéssemos na época de Game Of Thrones, eu diria que mataria exércitos apenas para ter a sua flor para mim, a sua doce e bela rosa... — murmurou e eu sorri, balançando a cabeça de modo incrédulo. 

   — Sabe, você é pra mim o que eu sou para ele... — falei, me referindo ao Marcel.

   — Eu sei. Queria eu ser o alvo da sua tão obstinada insistência. 

   Sorri fraco.

   — Por quê ele? — perguntou.

   — Ele me intriga. 

   Guilherme bocejou.

   — Ele não te despensa e sempre diz que não. Deve ser por isso que o quer tanto... 

   — Isso não é conversa para s...

   — Acima da minha atração e do meu desejo por você, sou seu amigo. Se não fosse, já teria te fodido até você berrar meu nome e eu rugir o seu depois de te provar por inteira — o tom de voz passava uma seriedade quase profissional. — Porém, eu te respeito e quero muito mais que isso, posso ter uma reputação não muito boa, mas apenas ficar com você por algumas horas me faz bem. 

   Suspirei e me cobri com o enorme edredom.

   — Eu posso estar me apaixonando por você, mas vou te deixar ver que esse cara não tem nada de interessante e que timidez num cara daqueles, não passa de desinteresse. Certas coisas as pessoas têm de aprender sozinhas. — novamente, beijou minha bochecha e virou-se, oferecendo-me as costas para abraçar.

   Não hesitei, me aconcheguei e senti o sono vir em um galope suave.

   — Nem sempre o que nos parece certo é o que realmente queremos — sussurrei, antes de me render e dormir, mas claro, inspirando delicioso aroma do Guilherme e guardar para nunca mais esquecer.

O Sabor Dos Seus Lábios - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora