MARCEL

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    — Eu tenho que admitir, a gorda estava gostosa naquele vestidinho de couro, viu... — Vítor murmurava umas duas horas após a aparição da Joyce aqui na padaria. O vestido apertava cada curva e as ressaltava de maneira absurda. O decote mostrava, mas ainda deixava algo para a imaginação e a cara de mau me deixava com vontade de sorrir, pois eu sabia que ela não era um terço da estupidez  e grosseria que queria passar.

   E, claramente, ela queria me provocar e colocar a culpa em mim pelo fracasso do nosso beijo. 

   Bem, eu tinha culpa.

   Eu vim para cá em busca de calmaria. Um pouco de terra firme depois de tantas tempestades e solavancos que a vida me deu. Que a meio que Joyce destruiu essa minha ideia quando se espatifou no chão da parte dos frios e começou a ficar obcecada em querer me ter, não é nenhuma novidade. 

   Porém, eu não sabia que poderia tirar a paz de outras pessoas também.

   E isso eu não queria. 

   Na minha época como fuzileiro aprendi muitas coisas e uma delas foi que: uma ameaça feita por alguém sem dinheiro e poder é um aviso para ser cauteloso, entretanto, uma ameaça feita por alguém com dinheiro, poder e status é como uma bomba com segundos para explodir. 

   Corra ou  morra, você só tem essas alternativas.

   Eu escolhi correr.

   Eu posso parecer lerdo, bobo e até meio inocente, mas sou um militar treinado. E também sou um homem relativamente esperto.

   Quando o tal Guilherme Fragoso ameaçou de forma deliberada o meu primo, sabendo que poderia levar um soco meu, eu soube que parte daquilo não era direcionado totalmente ao Vítor, parte era para mim. 

   Pelo pouco que conheci da Joyce, notei que ela não é do tipo que desiste das coisas que quer. E bem, ela me queria. E mesmo sem querer admitir muito, ela estava conseguindo me ganhar.

   Mas, ao perceber que poderia prejudicar as pessoas que me acolheram novamente, tive que tirar a prova dos nove e ver se eu não tinha entendido errado. E eu nunca erro. 

   O cheque pesava no meu bolso e eu deixei o Vítor falando sozinho para ir ao meu "lugar" de trabalho. Arrodeei o balcão, olhando para o freezer que quase acarretou na queda dela. 

   A minha conversa com o dono do shopping tinha sido breve. 

   Ele a amava e eu era um empecilho, pois Joyce era teimosa e não entedia que ninguém poderia querer ela mais que ele. Guilherme Fragoso me deu duas opções: Ou não aceitava a proposta dele e via o estabelecimento da minha família ruir e ser condenado com acusações falas, ou aceitar o dinheiro e fazer o encontro falhar no final. 

   Seria estupidez acabar com a padaria por causa de uma pseudo desconhecida. 

   E apesar da frieza dele em tratar isso comigo, eu podia notar naqueles olhos esquisitos a devoção ao falar o nome dela e se estava se arriscando em fazer esse acordo comigo é porque me via como um concorrente em potencial. 

   Não me assustei muito quando após o fatídico beijo, ao abrir a porta para fugir dali o mais rápido possível, dei de cara com ele. 

   A minha vontade era de voltar e dar realmente um beijo verdadeiro naquela mulher.

   Mas eu não podia. 

   Ele era louco por ela e pelo que eu vi, faria qualquer coisa para tê-la. Não estava a fim de me meter no relacionamento de ninguém e acabar prejudicando as pessoas que gosto. 

   Também não podia me envolver.

   Já tinha sido muito machucado e dessa vez, eu teria cuidado. 

   E outra, eu estaria de volta a Marinha em algumas semanas. 

   Voltar era o melhor a se fazer.

   Todavia, a maciez daqueles lábios carnudos contra os meus seria o meu consolo durante as viagens.

O Sabor Dos Seus Lábios - As Whiter'sOnde histórias criam vida. Descubra agora