CAPÍTULO 30 - IAM

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De repente, tudo passou a ter sentido. A mãe de Kate estava doente todo esse tempo e ela nem sequer cogitou a possibilidade de me contar, o modo estranho e preocupado que estampava algumas vezes, a ligação do gerente do banco, tudo começou a se encaixar como em um quebra-cabeças. Escuto em silêncio Kate contar os acontecimentos que nos levaram até aquele hospital hoje à noite. Mas assim que ela termina, apenas uma dúvida paira sobre a minha cabeça.

- Preciso perguntar algo. - Digo a ela depois de longos minutos do mais absoluto silêncio. - Porque realmente você aceitou entrar nessa farsa e casar comigo? - Pergunto a ela, acreditando que já sei a resposta. Recebo como resposta mais silêncio, então continuo. - Na semana do "nosso casamento" - uso aspas com os dedos para evidenciar a falsidade do ato. - Um gerente de banco me ligou pedindo encarecidamente para que eu informasse a minha noiva que o empréstimo que ela solicitou já estava disponível na conta. - Vejo Kate empalidecer quando jogo tal informação na mesa. - É claro que ele tinha certeza que eu, como seu suposto noivo, estaria a par dessa operação. Ele evidenciou muito bem o motivo pelo qual disponibilizou o dinheiro, o meu maldito sobrenome. Então pergunto mais uma vez Kate, porque foi que você aceitou casar? - Kate puxa uma respiração profunda e finalmente levanta a cabeça e me encara.

- Iam, quando fui ao consultório do Lucas e fiquei sabendo da real situação da minha mãe, eu fiquei desesperada, sai de lá sem um norte. Comecei a montar estratégias na minha cabeça de como conseguir o dinheiro que ela precisaria para seu tratamento. Eu cogitei a possibilidade de vender meu carro, vender nossa casa, mas no fim da contabilidade, ainda assim não seria o suficiente. Então cheguei a conclusão que precisaria de um empréstimo bancário, mas logo constatei que nenhum banco me apoiaria sendo eu apenas uma funcionária da construtora Carter, então... - Kate vacila ao tentar explicar.

- Então o que Kate? - Pergunto a incentivando a contar.

- Então pensei que eu precisaria de algo mais forte, mais concreto para conseguir um empréstimo. Eu precisava de um sobrenome forte o bastante para que me abrisse portas. - Ela diz, e não há a necessidade de falar mais nada, pois já entendi tudo.

- "Iam, estou fazendo isso por você." "Iam vou te ajudar". "Que tipo de amiga eu seria se não te ajudasse agora." - Tento imitá-la usando algumas das frases que Kate me disse no dia que aceitou casar comigo, quando a questionei do por que ter mudado de ideia. - Porra nenhuma Kate, não foi por mim, foi por você. - Grito enfurecido. - Não pense que eu estou te condenando por isso, eu entendo seus motivos. Mas estou te condenando por ter optado em não me contar. Você me enganou, me usou. - Digo profundamente magoado.

- Iam, você não está sendo justo aqui. Como pode falar em usar alguém? - Ela questiona - Você está me usando também para não perder o seu precioso cargo - Kate passa a gritar também.

- A diferença entre nós é que eu te usei com seu total consentimento, e não te enganei ou menti em momento algum. - Digo deixando a sala me encaminhando para a escada.

- Esse problema era meu Iam, não seu ou da sua família, você não tem o direito de me julgar sobre ter escondido. - Ela grita querendo se justificar.

- É curioso você dizer que o problema não é meu ou da minha família, sendo que você usou o MEU SOBRENOME para solução dos SEUS PROBLEMAS. - Digo enfatizando as nossas divergências. - Kate, eu estou chateado de mais com você. Poxa, a gente se conhece desde sempre. Somos melhores amigos desde sempre. Não consigo acreditar que você simplesmente optou por me esconder algo tão sério assim. Eu confio tanto em você, e você me engana dessa forma. Você sabia muito bem que eu ajudaria você e Marie mesmo se não nos casássemos. - Digo nitidamente magoado. - Ver que você não confia em mim, sequer acredita em mim, só me faz perceber que apesar de todos esses anos que estamos juntos, você realmente não me conhece. - Digo e assim dou por encerrada nossa discussão. Subo os degraus que dão no segundo andar e vou em direção ao quarto que divido com Kate. Lá me dirijo até o closet onde pego uma roupa limpa e saio do quarto indo em direção ao quarto de hóspedes. Não vou dormir lá, não ao lado dela depois de tudo o que fiquei sabendo.

Um Casamento Quase de Mentira - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora