Capítulo 3 - O sentido que voltou

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Fazia pelo menos dois anos que eu não sentia algo assim, repentino e forte desse jeito. Abracei Toni ao chegar em casa. Diana era mais do que apaixonante e era loucura pensar nisso.
Ela era uma enfermeira estagiária que me ajudou como função básica de sua profissão e que, coincidentemente, estava passando por mim no dia seguinte e perguntou por educação se eu estava bem.
Ainda assim, meu coração saltitava no peito. Tive outros amores na vida, mas sempre foram construídos com muito esforço. Relacionamentos duradouros que tiveram começo, meio e fim e que me transformaram profundamente. Nunca acreditei em paixão à primeira vista. Nem à segunda. O fato é que parecia estar acontecendo comigo.
Tentei me recolocar no prumo, mas o desejo de encontrar Diana de novo naquele dia era mais forte. Eu estaria trabalhando, mas tenho certeza que não haveria problema em trocar duas palavras com ela, ficar com seu telefone e quem sabe dar mais algum passo dali em diante.
Ao pensar nisso, senti que podia estar indo longe demais. Não podia colocar tanta expectativa amorosa sobre uma gentileza. E se ela não viesse? E se tivesse dito que iria só para mostrar gratidão pelo meu convite educado?
O controle fugiu mais uma vez. Estava colocando minha melhor camisa. Esqueci que no restaurante usava uniforme. Não me preocupei com o cabelo porque a praticidade do corte a máquina me livrava de franjas. Queria que as pessoas me olhassem nos olhos, mesmo que eu não pudesse fazer o contrário. Cultivava uma barba que muito me orgulhava. Eu não sabia como eu era mas, sinceramente? Eu sempre me achei bonito.
Fui ao restaurante com um sorriso maior que o normal. Antonia percebeu. Ultrapassei o cordial "boa noite" e lhe dei um abraço apertado. Ela riu comigo. Foi pega desprevenida. Eu achei um exagero também, mas ela era uma das pessoas mais gentis comigo naquele restaurante e eu queria compartilhar a minha alegria.
Foi ela própria que entrou na cozinha perto das dez da noite para me dizer que uma cliente queria conversar com o chef. Só podia ser Diana. Pedi ajuda a meus colegas para saber se estava bem aprumado e fui com tranquilidade até a mesa quinze daquele restaurante cuja estrutura eu conhecia como a palma da mão.
O cheiro de flores denunciou sua dona antes que ela pudesse se pronunciar. Sorri.
- Diana. Que bom saber que está aqui. – disse eu com um sorriso no rosto.
- Está brincando? – ela respondeu – Eu é que te agradeço. Eu nunca comi tão bem em toda a minha vida. Você e sua equipe estão de parabéns. Tomara que todos os meus pacientes sejam chefs de cozinha de hoje em diante. – disse ela.
Me enchi de orgulho. Meu coração derretia. Aquela intensidade foi a mesma do golpe que recebi em seguida.
- Ah, eu já ia esquecendo... a comida estava tão boa. Bem, Érico, esse é Fábio, meu noivo.
- Muito prazer, a comixda estava espetacular mesmo. Meus parabéns! – disse uma voz grave e que parecia ter silenciado todo o restaurante.
Estendi, a contragosto, a mão para cumprimentá-lo.
- Mas fique tranquilo – disse Diana – o jantar cortesia é só para mim. Fábio já é médico, cobre dele à vontade. – e riu alto.
O riso era lindo. A situação era horrível. E eu fingi que estava tudo bem para pagar dois jantares indigestos que eu não comi.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora