Antonia e eu saímos por noites seguidas. Toni passou a não ser minha única companhia pra voltar pra casa. Em várias noites, encontramos Diana pelo caminho. O perfume de flores me desmontava por dentro, mas eu a cumprimentava com a máxima neutralidade que conseguia. Antonia acompanhava minha educação com o máximo de falsidade que conseguia empregar. Ela sabia que denegrir Diana não era o melhor caminho para conquistar de vez meu coração.
Antonia me divertia e, por muitas horas por dia, era capaz de me fazer não pensar em Diana. Eu sabia que isso podia dar muito errado, mas como ela própria sugeriu, decidi pensar menos e dar o melhor de mim para entender que o que estava nascendo com Antonia era um sentimento construído, como foram todos os meus relacionamentos anteriores. Era o mais seguro. Era onde me sentia confortável. Ela respeitava minhas etapas e, principalmente, meu luto pelo sentimento maluco que tinha por Diana. Ainda assim, eu me sentia mal. Depois de duas semanas saindo todos os dias, decidi conversar com Antonia para alinhar as expectativas. Fomos a um café no centro da cidade e eu a tomei pelas mãos dizendo que precisava falar. Ela segurou as minhas com firmeza como um sinal de que eu deveria prosseguir.
- Antonia, essas semanas têm sido maravilhosas. Mas não posso te enganar. Diana ainda está no meu pensamento. Em menor intensidade, é verdade, mas ainda está. Não falo isso pra te magoar, pelo contrário, falo porque gosto de você e não quero que perca tempo comigo se achar que isso tudo não vale a pena.
Ela hesitou por alguns instantes e respondeu:
- Cada minuto do seu lado vale a pena, Érico. Diana ainda está no seu pensamento, eu sei. Mas ela vai sair. Você vai ver. Você mesmo já disse que a intensidade é menor. Eu estou bem com isso. Não se preocupe.
Eu sorri sem jeito, mas me senti melhor. Ao menos agora ela sabia de tudo.
Mais duas semanas se passaram e agora faltava apenas um mês para o casamento de Diana e Fábio. A lista de convidados era grande e a preparação da equipe foi intensa. Quando tudo estava pronto, faltava apenas uma semana para o fatídico dia.
Toda a comida foi comprada. As louças estavam preparadas, o salão foi organizado do jeito que a cerimonialista pediu e eu também estava preparado. A convivência com Antonia tornou tudo mais leve e eu sentia que meu coração, embora vacilante, tinha condições de suportar aquilo ali. Estávamos cada vez mais próximos e isso exponencialmente diminuía a dor por Diana.
Na semana do casamento, Antonia entrou aos pulos na cozinha dizendo que tinha uma notícia incrível pra me dar.
- Lembra o curso que eu queria fazer na Itália, Érico? Eu ganhei uma bolsa! Eu ganhei uma bolsa! – e saltou no meu pescoço. Dividimos o momento de alegria brevemente. O curso seria dali a três meses e teria duração de duas semanas. O casamento de Diana era sábado. Eu precisava fazer os últimos ajustes.
Na cozinha e em mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dias que eu não vi
RomanceLIVRO NA LONGLIST DO WATTYS 2018 Érico é um chef de cozinha deficiente visual que sempre lutou com muita determinação para alcançar seus objetivos, até que Diana entra em sua vida com um amor fulminante que o transforma. A história é narrada pelo pr...