Ninguém jamais acreditaria que Diana e eu passamos sete dias morando na mesma casa sem sequer trocar um abraço. Eu entendo. Se alguém me contasse uma história assim, eu também não acreditaria.
Depois da mensagem de Antonia, entendi que não havia mais o que fazer. Era uma situação impossível de consertar e só o tempo diminuiria a ferida. Só que eu precisava seguir um pouco meu coração, que se via sufocado por um sentimento incontrolável há mais de uma semana. A mulher que eu amava estava morando comigo. E eu me proibi de ter qualquer contato.
Era hora de conversarmos sinceramente.
Diana estava na minha frente e, agora, não restava mais nenhum impedimento entre nós.
Eu não sabia como reagiria e sentiria as palavras dela, então pedi que me deixasse começar para que eu pudesse dizer tudo de uma vez. Não usei meias palavras.
- Eu me apaixonei por você como nunca me apaixonei por ninguém no dia em que me ajudou na rua, Diana.
Ouvi ela suspirar. Continuei:
- Achei tudo aquilo uma loucura. Eu tive alguns relacionamentos longos e nunca acreditei em amor à primeira vista, mesmo porque, se acreditasse, eu não poderia vivenciar isso. Afinal, eu não vejo.
A frase não era bem assim na minha cabeça, mas tenho que concordar que ficou engraçada.
Diana riu. E eu descobri que a risada dela era tão linda quanto todo o resto que eu já tinha conhecido. A risada entrava para o seleto grupo do perfume, da voz e dos lábios.
O fato de ter rido daquela situação também me fez amá-la ainda mais. Estava sendo sincera. Ela me via com igualdade. Achou engraçado e riu sem medo de que eu a pudesse interpretar mal. Tentei retomar o prumo.
- Passei dias terríveis vendo você com Fábio, vendo Fábio me procurar para fazer sua festa de casamento, ouvindo você dizer para eu procurar quem me amasse de verdade... todo esse tempo, Diana, todo esse tempo, eu queria dizer...
- Queria dizer o quê? – perguntou ela
- Queria dizer que eu te amo.
Um silêncio tomou conta da sala. A coragem continuava habitando o meu peito e, por isso, prossegui.
- Isso não significa que não senti nada por Antonia. A propósito, sinto muita culpa por as coisas terem acontecido dessa forma. Eu achei, de fato, que pudesse amá-la com o tempo, mas quando ouvi você chorar, quando me aproximei e percebi que alguém tinha te machucado – física e psicologicamente –, Diana, eu soube que precisava de você. Ou melhor, que eu precisava de nós dois.
Se eu pudesse enxergar, diria que Diana estava vidrada em meu discurso. Era meu coração que falava por intermédio da minha voz. Concluí o que precisava dizer com:
- Eu não sei o que vai ser amanhã, Diana. Eu não sei se vou me perdoar por ter magoado o coração de quem esteve ao meu lado por todo esse tempo. Mas eu sei que preciso viver isso com você. Preciso entender que tipo de sinal é esse que veio feito uma estaca no meu peito pra me lembrar o tempo todo e a duras penas o quanto eu me apaixonei por você.
Sentia como se tivesse cem quilos a menos nas costas. Consegui relaxar a coluna me recostando confortavelmente sobre o sofá.
Ouvi Diana ganhar fôlego para começar a falar.
- Quando eu vi você caído, o Toni correndo de volta e ninguém na rua, eu pensei que fosse um grande inconsequente. Corri pelo meu instinto de enfermeira, mas alguma coisa maior que isso me moveu. Eu senti que precisava ajudar você não apenas como obrigação da minha profissão, mas como algo maior que nasceu subitamente em mim.
Ela ficou em silêncio por alguns instantes e continuou.
- Eu sabia que seria pedida em casamento em alguns dias. Ignorei tudo o que senti por você. Às vezes a gente sente coisas por pessoas que não espera. Mas passa. Com você, não passou, Érico. Só aumentou cada dia mais. No dia em que entrei vestida de noiva na igreja, eu queria que fosse você lá em cima. Lutei contra esse pensamento, me concentrei em Fábio, mas a verdade é que eu olhava aquela cena como uma mera espectadora. No dia do meu casamento, eu já não amava mais Fábio, e isso não era uma suposição como no começo, era uma certeza. Apesar de ser tão bem resolvida pra tantas coisas, Érico, eu fui ingênua pra isso. Achei que fosse passageiro, me culpei totalmente por não querer magoar alguém que se dedicou tanto a mim e resolvi sufocar com todas as forças o que senti por você. Embora nada justifique o que ele fez, no fim das contas eu entendo a revolta. Sei como é ser enganada. Já sofri muito por amor. Jurei que nunca faria isso com ninguém. E olha aqui eu fazendo. A gente não controla isso, Érico. Se controlasse, eu estaria em um casamento que tinha tudo pra ser muito feliz. Pelo menos tinha menos de meio ano antes de acontecer.
Percebendo que, em algum grau, ela se culpava por tudo o que tinha acontecido, retomei a palavra:
- A vida é muito difícil, Diana. Mas é preciso separar as coisas. Ser rejeitado é um golpe duro, algo que demora ou nem chega a fazer sentido. Mas o que Fábio fez com você é algo inadmissível. Tenha isso muito claro na sua cabeça.
O silêncio reinou por alguns minutos. Acho que nós dois tentamos processar o que acontecia. Fui eu que quebrei o silêncio quase que involuntariamente com um pensamento que não era para ter sido alto.
- Você é linda, Diana.
Ela riu.
- Como pode me achar linda se não pode nem me ver?
- Eu te sinto linda.
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Dias que eu não vi
RomanceLIVRO NA LONGLIST DO WATTYS 2018 Érico é um chef de cozinha deficiente visual que sempre lutou com muita determinação para alcançar seus objetivos, até que Diana entra em sua vida com um amor fulminante que o transforma. A história é narrada pelo pr...