Capítulo 48 - Apagão

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Voltei para o apartamento e Diana estava deitada no sofá, lendo. Sua beleza parecia ainda mais evidente depois que descobri que estava grávida. Ela olhou por cima do livro e me convidou para que me juntasse a ela no sofá. Ficamos juntos por um bom tempo. Acabei pegando no sono enquanto a dona do perfume de flores lia com tranquilidade.
De repente, a voz em forma de melodia me despertou:
- Ei, papai do ano... é hora de acordar. Você não é mais meu único bebê. – Diana riu.
Sentei no sofá, olhei para ela e disse:
- Eu nem acredito que isso tudo está acontecendo. Minha visão, você aqui, essa criança que vem aí... Eu nunca poderia prever que a minha vida mudaria tanto em tão pouco tempo.
- Você sabe que merece isso, Érico. Se não souber, eu vou bater nessa tecla até entender. Ninguém mais do que você merece essas alegrias. A vida só está recompensando a pessoa incrível que você é.
Levantei e fui até a sacada. Sentir o ar da noite e, agora, poder vê-lo, era algo que me fazia muito bem.
Jantamos, assistimos nosso seriado favorito, contei a Diana sobre minha visita a Toni e Fábio. Ela me contou de seu dia no hospital e da alegria das colegas em saber que ela estava grávida. Mais um dia normal na nossa nova vida.
Fomos dormir perto da meia-noite e eu peguei no sono muito rápido. Depois de um curto espaço de tempo, tive um pesadelo.
Era algo disforme, eram informações desencontradas. Daqueles pesadelos que a gente não entende nada do que está acontecendo, mas sabe bem que está sentindo medo.
Acordei de sobressalto e totalmente suado. Diana dormia profundamente ao meu lado e não acordou com meu gesto brusco. Respirei fundo algumas vezes até me acalmar um pouco e resolvi beber água.
Levantei e fui tateando até a cozinha, coisa que aprendi muito bem quando ainda não podia ver. De qualquer maneira, ao chegar na cozinha, liguei o interruptor para acender a luz. Na primeira vez, nada. Nem na segunda. Certo de que a lâmpada tinha queimado, abri a geladeira para localizar a jarra d’água ali mesmo.
Só que não vi nada de novo. Não era possível que a luz da geladeira também estivesse queimada.
Uma sensação de desespero foi tomando meu corpo partindo do estômago. Um choque que se dissipava para as minhas extremidades. Tive muito medo. Esfreguei os olhos com força, com as duas mãos e, quando abri os olhos novamente, a geladeira estava aberta com a luz ligada. Ali estava a água. Ali estavam todas as comidas. Um pouco embaçadas, é verdade, mas ali estavam.
Depois de respirar um pouco aliviado, me lembrei da primeira vez em que enxerguei. Na verdade, a sensação foi parecida: não conseguia ver nada, depois a luz me machucou um pouco os olhos e, por fim, eu reconheci e entendi a claridade.
O pânico já tinha ido embora, mas a dúvida ficou na minha mente e tomou o meu sono. Eu não consegui dormir, tinha vontade de chamar Diana e contar o que aconteceu, mas ela estava grávida, eu não queria que se preocupasse com nada além do bebê.
Para mim mesmo, tomei a decisão de visitar o oftalmologista que esteve na minha cirurgia para relatar o que tinha acontecido.
Depois de uma noite de cão, me despedi de Diana, que saiu cedo para o hospital e liguei diretamente para o dr. Claus pedindo uma consulta urgente. Ele conseguiu me encaixar naquela manhã mesmo.
Ao chegar no consultório, minhas pernas tremiam. Eu estava vendo tudo perfeitamente, mas tive um susto muito grande na noite anterior.
Depois de fazer alguns exames simples e solicitar alguns outros mais complexos, o dr. Claus me tranquilizou:
- Veja bem, Érico. Os exames que fizemos agora apontam todos para uma visão normal. Não há nada de diferente aí com relação ao que vimos pouco depois da cirurgia. Pode ter havido um pequeno lapso, algum efeito que não se conhece ainda em função do ineditismo da cirurgia, mas, preliminarmente, posso dizer que a sua visão está normal. Volte aqui quando esses exames mais detalhados estiverem prontos.
Voltei para casa mais tranquilo.
Não havia motivo para alarmar Diana e nem a mim sem antes ver o resultado dos demais exames. Além do mais, tinham sido apenas alguns segundos. Minha visão já estava totalmente normal e eu me sentia bem com isso.
Diana voltou do plantão e eu já estava pronto para ir ao restaurante. Nos despedimos rapidamente quando ela perguntou:
- Está tudo bem com você, Érico?
- Sim. Tudo certo. Só estou atrasado mesmo. Te amo! – e saí rapidamente.
No restaurante, procurei pensar em tudo de bom que viria pela frente. O filho ou a filha que eu teria com Diana, o futuro que construiríamos para esse pedacinho de gente, a família que formaríamos. Tudo isso era muito importante pra mim.
Contei a meus colegas sobre as novidades e todos ficaram muito felizes por mim. Foi uma noite de intenso movimento, muitos elogios aos pratos e muitas risadas na cozinha.
Não lembrei do que tinha acontecido na noite anterior. Eu queria parar de sofrer por antecipação. Parecia estar dando certo.
Me envolvi com minhas atividades e com minha vida com Diana. Era assim que eu era feliz.
Foi assim que se passaram mais dois meses de uma vida que eu sempre sonhei pra mim. Em função de toda a correria e de uma pequena vontade de evitar os exames complementares, acabei postergando a realização dos procedimentos. Como estava sozinho nessa e não tinha dividido nada com Diana para não preocupá-la, decidi que era hora de tomar vergonha na cara e fazer os exames de uma vez.
O dia em que fui ao oftalmologista para mostrar os resultados foi o mesmo em que, horas depois, Diana faria a primeira ultrassonografia.
Eram dois resultados que, juntos, mudariam mais uma vez a minha vida.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora