Capítulo 7 - Sobre a vida

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- Se marcássemos encontro não seríamos tão precisos quanto nos últimos dias. Você está bem? – perguntou a voz mais linda do mundo, sorrindo.

Respondi que estava bem e perguntei o mesmo a ela. Aquele tipo de conversa que a gente tem quando não quer – ou não pode – criar uma conversa real. Meu peito queimava. Ela brincou um pouco com Toni e meu amigo me trocou rapidamente por ela. Tornei a segurá-lo e já ia me despedindo quando ela perguntou:

- Estou esperando Fábio. Se importa de ficar aqui comigo um minuto? Ele já deve estar chegando.

Eu não negaria esse pedido a uma desconhecida. Imagine a quem já tinha se mudado de mala e cuia pra dentro do meu peito. Sentei e permaneci em silêncio, só sentindo e absorvendo um pouco mais daquele perfume de flores. Ela começou a falar:

- Sabe, essa vida de hospital é meio difícil. A gente não tem horário nenhum. Estou apenas estagiando e sei que daqui pra frente a coisa vai ser disso a pior. Não que isso seja um problema pra mim, é o que eu gosto de fazer, mas Fábio reclama muito. Ele tem um horário de plantão que não troca por nada na vida e, por isso, consegue ter uma vida relativamente normal.

Diana era intrigante. Sempre falava as coisas sem se preocupar se era uma conversa conveniente ou não para um pseudo-estranho como eu. Ela falava o que sentia que precisava falar. Era firme como achava que precisava ser.

A situação era engraçada. Estar ali ouvindo ela reclamar no meio da madrugada era muito diferente de pensar nela na solidão do meu quarto. Eu sentia paz. Uma paz que nunca tinha sentido antes. Ela me tirou do transe emocional mais uma vez perguntando:

- E você, é casado, tem namorada?

- Não. Mas gostaria de ter. – respondi.

Com a sensibilidade feminina, ela entendeu em partes o que eu queria dizer.

- Ah, já entendi. Ela não gosta de você, né?

Diana não dava espaços para não ser sincero. O máximo que consegui foi omitir a personagem principal do meu romance solitário.

- Acho que não gosta mesmo. Mas a verdade é que tudo não passou de uma suposição da minha cabeça.

Ela respondeu com a franqueza de sempre:

- Isso acontece. Mas o mais importante é ter a consciência que você está tendo. Eu também já vivi isso e, quando me dei conta, percebi que precisava de alguém que sentisse o mesmo por mim.

Junto com o carro de Fábio, ia chegando o golpe de misericórdia:

- Apesar dessas pequenas rusgas, sei que Fábio e eu ficaremos juntos pra sempre. E isso me preenche. Você também merece isso, Érico. É um cara legal.

Fábio parou, baixou o vidro e me cumprimentou cordialmente. Perguntou se eu precisava de uma carona. Disse que não. Diana não insistiu. Foram embora.

Abracei Toni. Chorei. Alguém me abraçou e disse:

- Vou te levar pra casa. Não adianta dizer que não.

Eu não queria dizer que não.

A bonança Antonia apareceu para reparar os estragos causados pelo Furacão Diana.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora