Capítulo 44 - Minha luz estava lá

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Diana sempre foi extremamente decidida. Quando entrou no apartamento para dizer que não queria mais ficar ali, arrumou a mala e saiu. Eu me sentia anestesiado. Dessa vez, nada violento tinha acontecido, mas minha vida estava uma bagunça outra vez. Antonia desapareceu depois daquele dia fatídico e Diana eventualmente me enviava mensagens para dizer que estava bem. Ainda existia uma ligação que, apesar de minúscula, me ajudava a não entrar em desespero.
Por diversos momentos tentei argumentar com Diana sobre o que estava acontecendo e praticamente implorando para que ela voltasse para casa, mas eu já a conhecia o suficiente para saber que forçar a barra em questões como essa não era nada produtivo.
Muitas vezes, a gente aprende a amar somente as qualidades de quem amamos. Com Diana, eu aprendi que amamos pessoas normais. Nas vezes em que isso aconteceu, embora houvessem razões, eu achava o ímpeto de Diana em ir embora ou se afastar de situações desconfortáveis sentimentalmente falando um tanto exagerado. Ela tentava esconder, mas tinha um lado passional muito claro. E isso se mostrava em crises de ciúme ou em conclusões precipitadas que nem sempre eu concordava.
Contudo, como eu dizia, Diana era o meu amor de verdade. E como se sabe, o amor de verdade vem com um pacote completo. Eu também era cheio de defeitos e Diana aceitava e me ajudava com eles. É bobagem imaginar que alguém muda sua essência por alguém e sai intacto. O exemplo de Antonia era muito claro. Ela tentou viver minha vida e se perdeu completamente de si mesma. Diana afirmava suas qualidades e defeitos para ter certeza que sua identidade não seria prejudicada diante de um relacionamento. Diana mudava por si própria. Antonia mudava por mim. O resultado de cada relação era muito claro.
Já tinha se passado um mês daquele fatídico dia. Todas as manhãs, eu olhava pela janela porque sabia que Diana passaria por ali para ir ao hospital. Ela não parecia mais a moça alegre e segura que dividia a vida comigo. Parecia triste, mas eu sabia que isso era fruto de sua luta contra seus demônios. Ela queria acreditar em mim, mas algo dentro dela pedia que tivesse cautela.
Dentro do possível, eu estava tranquilo. Tranquilo porque sabia que eu não desistiria dela, assim como ela nunca desistiu de mim. Mesmo que não nos falássemos, a conexão que carregávamos parecia vir de outras vidas. Parecíamos puxados por polos opostos. De alguma forma, eu sabia que ela pensava em mim.
Já tinha se passado um mês e uma semana e eu estava com Toni na varanda tomando café em uma manhã ensolarada. Foi quando a vi, de longe, sentada em um banco da praça. Tive muita vontade de ir até lá, parecia a oportunidade perfeita. Mas minha certeza de que Diana precisava de seu tempo era ainda mais forte. A observei por quinze minutos e, para que minha tristeza não ficasse ainda maior, voltei para dentro.
Foi nesse instante que algo que eu jamais esperaria aconteceu. A cena que segue foi algo que não vi, mas que aconteceu exatamente assim.
////
Antonia se aproximou do banco em que Diana estava sentada e tentou um primeiro contato.
- Posso sentar, moça?
Diana prontamente revidou com desdém:
- Você é a última pessoa que eu gostaria que sentasse ao meu lado, mas a praça é pública.
Antonia sentou-se mesmo assim e começou a falar:
- O abraço que você viu foi um abraço de despedida. Eu vou embora. Antes de ir, senti que precisava dar uma última satisfação ao Érico. Contar toda a verdade...
Diana permanecia calada, mas já começava a prestar alguma atenção.
- Eu precisava dizer a ele como me senti quando estava na Itália e ouvi ele dizer que tinha salvado você. Eu precisava dizer a ele do quanto me arrependo de ter compactuado com alguém que bateria nele. Aliás, que bom que você se livrou do Fábio. Ali tem um coração ruim. Uma amargura tão grande que não sei se ele é capaz de tirar.
Diana permanecia em silêncio. Isso favorecia o monólogo de Antonia.
- Eu precisava dizer a ele que liguei pedindo que ele não fizesse a cirurgia porque Fábio me convenceu que se ele enxergasse, eu nunca teria chance. Ele disse que você era imensamente mais bonita que eu. Imensamente eu não diria. Mas você é. E eu fui burra ao ponto de acreditar nisso. Você me desejou um pouco mais de amor próprio, Diana. Acho que seu desejo se realizou. Ainda estou longe de algo ideal, mas já posso dizer que, ao menos, não acredito mais no que Fábio diz.
Antonia suspirou profundamente e continuou.
- Olha, eu não quero mais tomar o seu tempo, então vou direto ao ponto, certo? Eu sei que você sabe que o Érico não é qualquer um. Ele jamais te trairia. Ele não me traiu com você. Eu sei que ele esperou até que tudo estivesse acabado entre nós. É que é tão difícil acreditar nos homens que mesmo quando um tão especial aparece na vida, a gente fica com um pé atrás. Eu te entendo. Mas enfim. Você sabe que ele não te traiu.
Diana já começava a prestar atenção na eloquência de Antonia. Ela continuou:
- Pra terminar, tem coisas que você não sabe. Uma das primeiras coisas que eu disse ao Érico quando nos aproximamos foi “você está apaixonado pela enfermeira”. No dia em que Fábio foi reservar o restaurante para o casamento de vocês, Érico me ligou aos prantos. Fui ao apartamento dele e ele me disse: “eu nunca me apaixonei por ninguém assim”. No dia do pedido de casamento, ele me ligou me convidando pra sair cinco minutos depois de ouvir Fábio te pedir em casamento nessa mesma praça. Eu sentia o nervosismo na voz dele. Claramente. No dia do casamento, eu tentei animá-lo a noite toda, fiz piadas, dei o meu melhor. No fim, quando você pediu para agradecê-lo, ele ficou todo nervoso de novo. Ele não podia ver, mas eu podia. Qualquer coisa dita a seu respeito mexia com cada célula daquele homem.
/// Diana já começava a chorar. Antonia arrematou:
- Diana, eu nunca conheci ninguém que amasse tanto alguém como Érico te ama. Eu enlouqueci porque queria que esse amor fosse pra mim. E não é. Só que, depois de tudo que aconteceu, eu entendi que eu também mereço isso, sabe? Toda mulher merece isso. E eu vou correr atrás agora. Você deveria fazer o mesmo. Sei que nunca seremos amigas, isso nem faria sentido, mas isso que estou dizendo é do fundo do meu coração. Mesmo. Não deixe o Érico escapar. Ele é a pessoa mais especial que eu já conheci.
Dito isso, Antonia se levantou e foi andando. Por último, olhou para trás e disse:
- Sejam felizes!
Diana, sem jeito, esboçou um sorriso choroso acompanhado de um “obrigada”.
Naquele sábado de manhã, minha campainha tocou. Fui atender sem a menor ideia do que me esperava.
Minha luz estava lá.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora