Capítulo 16 - Coisas que vão embora

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Os dias passaram rápido depois do casamento de Diana e Fábio. Antonia estava sempre comigo e, quando estávamos juntos, tudo era muito bom. Eu ria muito, ela ria muito, a gente parecia estar mesmo se acertando. Nunca chegamos a rotular nossa relação porque parecia que não precisava. Conversávamos com alguma frequência sobre Diana.
Tenho pra mim que Antonia só estava comigo porque sentia que meu sentimento por ela estava crescendo. Nunca escondi as coisas que sentia por Diana, mas a intensidade das minhas palavras era, de fato, bem menor. Antonia estava sendo paciente e isso me parecia amável, mas eu não me sentia totalmente confortável com a situação. Não parecia certo estar ao lado dela pensando em outra pessoa.
Toda vez que eu introduzia esse assunto, Antonia vinha com seu mantra do “pense menos”.
O foco agora era organizar as coisas no restaurante para a viagem que ela faria à Itália. Antonia estava radiante pela oportunidade e fazia com que eu me sentisse feliz também pela conquista.
Na véspera da viagem, fui até a casa dela para ajudar com as malas. Atividades triviais geralmente despertam vontade de conversar sobre coisas mais profundas. Antonia foi cuidadosa para perguntar:
- Sei que você não gosta de falar sobre isso mas, eu tenho curiosidade de saber e acho que já somos íntimos o bastante para que eu pergunte: você nasceu cego ou isso aconteceu depois?
Eu não gostava de falar sobre isso, mas senti que, pela nossa proximidade, já era hora de tentar relevar e responder a pergunta.
- Eu nasci cego. Nunca enxerguei. Mas antes que você se compadeça, não tenho como sentir falta do que não sei como é.
Antonia deu um suspiro de irritação:
- Eu não estou me compadecendo, Érico, calma, não precisa vir com pedras na mão. Foi só uma pergunta... enfim, você procurou algum tratamento quando criança?
Tudo isso me irritava. Tudo isso era difícil pra mim. Por respeito a Antônia, contei até dez mentalmente e respondi:
- Eu não quero falar sobre isso.
Ela suspirou, mas respeitou meu pedido.
No dia seguinte, Antonia embarcava para uma viagem de três semanas na Itália. Eu queria aproveitar as últimas horas com ela.
Foi uma sábia decisão. Muita coisa aconteceria nos dias seguintes.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora