Diana se aproximou em silêncio e me convidou a levantar do sofá tomando minhas mãos entre as suas. Na sequência, nos aproximamos devagar e, pausadamente, envolvi meus braços às suas costas e ela envolveu minha nuca com suas mãos delicadas. Encostei minha cabeça sobre seu colo e dançamos suavemente. Ficamos assim por um tempo. Eu queria sentir cada fragmento daquele momento. Usei as mãos para detectar olhos grandes, um rosto pequeno e um cabelo feito de cachos volumosos que me encontravam em todas as direções. Me perdi naqueles cachos, bem como no julgamento do que eu mais amava nela. Era impossível dizer.
Diana afagava minha cabeça com carinhos sequenciados e absurdamente carinhosos. Eu me senti envolvido em todo o meu ser. Era algo mágico que transpassava meu corpo e parecia também abraçar minha alma. A experiência mais real que vivi em toda a minha vida. Me senti presente. Inteiro. Único. Não existem palavras que possam definir com precisão aquele sentimento.
Meu instinto foi imediato. Afastei a cabeça de seu colo, permiti que minha mão se embrenhasse na selva de cachos perfeitos e envolvesse a maçã do rosto da mulher que eu amava.
Aos poucos, aproximei meu rosto e, pela primeira vez, senti a doçura dos lábios de Diana junto dos meus.
Tantas vezes eu sonhei em beijar Diana mas, nem de perto eu pude imaginar a grandiosidade daquele momento. Nosso primeiro beijo conseguiu suplantar o momento sublime que eu vivia. Nenhuma palavra foi dita. Apenas nos permitimos sentir cada parte daquelas horas que passaram em minutos.
Foi uma noite de muito carinho e proximidade. Eu podia jurar que conhecia Diana há muito tempo.
Nos amamos pela primeira vez e adormeci profundamente. Nenhum sonho que tive pode ser considerado mais lindo do que o nosso encontro.
Acordei com Diana dormindo sobre meu peito e com a sensação de uma felicidade plena. Ouvia sua respiração tranquila que denunciava uma paz de espírito que ela não tinha desde o dia que foi jogada do carro por Fábio. Ela não precisava me dizer nada. Eu sentia tudo.
Adormeci outra vez e acordei com o som do despertador. Já era dia. Um pouco desnorteado, tive aqueles cinco segundos de confusão entre o que era realidade e o que era sonho. Fui trazido à vida real por um beijo caloroso de Diana e um sussurro de “eu te amo”, antes mesmo de levantar.
Eu não sabia como as coisas seriam dali para frente. A minha vontade era de dizer a Diana que queria que ela se mudasse definitivamente para a minha casa. Mas não sabia bem como dizer isso ou o que ela esperaria disso. Podia ser uma proposta precipitada.
Parecia que qualquer coisa que eu dissesse estragaria o momento mágico da noite anterior.
Na verdade, a vida real sempre estraga os momentos mágicos.
É por isso que é importante eternizá-los no instante em que acontecem. Mesmo que seja somente na memória.
Para estender a plenitude, decidi não tocar no assunto naquele dia. Tomamos um café reforçado e falamos sobre coisas bonitas. Viver meu amor por Diana era a experiência mais impressionante da minha vida.
Ela se despediu e foi para o hospital. Meu expediente começava apenas às dezoito e, por isso, fiquei ouvindo rádio e organizando algumas coisas.
Estava separando algumas roupas no armário quando tateei uma sacola que me jogou de volta à realidade. Antonia tinha deixado coisas na minha casa e era preciso devolver. Não apenas as roupas, mas a dignidade da nossa história.
Algumas horas depois, a campainha tocou. Pelo horário, devia ser Diana retornando mais cedo do hospital. Supondo que ela pudesse ter esquecido da chave, fui abrir a porta e sorri para soltar o primeiro “Oi, amor”.
- Imagino que isso não seja pra mim.
Gelei. Não sabia por onde começar a explicar as coisas.
Antonia estava de volta antes do previsto. Eu ouvia ela contendo as lágrimas para falar e meu coração parecia se despedaçar de culpa.
- Antonia, por favor... vamos conversar...
- Eu só quero minhas roupas, Érico. Não encha a minha paciência.
Eu achei que era direito dela dizer o que quisesse. Eu precisava abrir a represa de seu coração e deixar que as ofensas, a raiva, tudo vertesse em abundância. Não somente por ela, mas por mim. Eu queria me castigar por amar Diana e tê-la envolvido nessa situação. Nunca me senti numa dicotomia tão grande de sentimentos. O tamanho do amor por Diana era o mesmo da culpa por magoar Antonia.
Insisti:
- Eu só queria te dizer algumas coisas...
- Ah, você queria dizer algumas coisas? Pois eu também tenho algumas pra dizer.
Ao falar isso, Antonia desferiu um soco vigoroso que me derrubou.
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Dias que eu não vi
RomantizmLIVRO NA LONGLIST DO WATTYS 2018 Érico é um chef de cozinha deficiente visual que sempre lutou com muita determinação para alcançar seus objetivos, até que Diana entra em sua vida com um amor fulminante que o transforma. A história é narrada pelo pr...