Capítulo 34 - Confiar!

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Usando a tradicional força de vontade que tinha antes de conhecer Diana, segui com Toni a passos firmes até a frente do prédio para pegar o táxi que me levaria até o consultório. Diana estava muito ocupada, de toda forma só poderíamos conversar à noite. Eu resolvi que precisava daquela segunda opinião para desfazer o inferno que tinha se transformado a minha cabeça. Entrei no consultório sem nem lembrar o quanto o cheiro desse tipo de ambiente me aterrorizava. Não precisei aguardar muito para ser atendido. Estava com os exames detalhados nas mãos. O médico me cumprimentou, pediu que me sentasse e eu fui direto ao ponto:
- Doutor, eu gostaria de uma segunda opinião sobre esses exames. Me disseram que há uma possibilidade de reversão da cegueira congênita. Eu gostaria de saber se o senhor já tomou conhecimento dessa técnica.
Ouvi o som das folhas revirando e o oftalmologista começou a fazer suas observações:
- Veja bem, Érico. Pelo que sei, esse tratamento ainda é experimental. O único profissional que conheço no Brasil que seria capaz de fazer essa cirurgia, mesmo com risco, é o doutor Claus Kowalski de Almeida, com o apoio de um orientador americano dele. Parece que é o tema do doutorado que ele está fazendo. É um oftalmo muito respeitado. Você o conhece?
- Conheço. – respondi. Por dentro, minha culpa por ter duvidado de Diana aumentava exponencialmente. O médico continuou.
- Pelo que se conhece, foram feitas quatro cirurgias até hoje nos Estados Unidos e na Europa. Duas com sucesso, duas sem sucesso. Um dos casos continuou cego. O outro faleceu, mas já tinha problemas de saúde anteriores. Eu diria que é quase 50/50 a possibilidade de sucesso ou fracasso. A chance de óbito é pequena, mas existe.
Ele acabara de dizer exatamente as mesmas coisas que o oftalmologista anterior havia me dito. Diana estava certa. Antonia estava tentando me manipular. Eu caí.
Saí dali ainda mais decidido a fazer a cirurgia, mesmo com todos os riscos. Além disso, precisava pedir sinceras desculpas a Diana.
Quando cheguei em casa, ela me esperava. Depois de atender a emergência, recebeu o resto do dia de folga.
Toni entrou e foi direto para seu pote de comida. Eu sentia o peso do apartamento todo em minhas costas. Tentei começar a falar:
- Diana... eu sinto muito... sinto muito ter duvidado de você...
Ela respondeu com firmeza:
- Eu não entendo. Eu mesma comecei essa história dizendo para pensarmos melhor sobre tudo. Você que disse ter certeza de que era isso que queria. Foi só o veneno de Antonia ameaçar entrar em suas veias que você correu pro medo, pra desconfiança... Não dá pra acreditar. Achei que a gente confiasse um no outro. Mas você não confia em mim, Érico. E agora não sei se confio em você.
Meu peito ardia com cada palavra. A decepção de Diana doía mais do que qualquer outra coisa que já tinha passado nos últimos meses. Tentei consertar:
- Eu tive medo de estar perdendo as rédeas da minha própria vida te envolvendo em tudo desse jeito... me desculpe... eu só quis sentir de novo a minha autossuficiência...
- Érico, - continuou Diana em um tom sem oscilações – eu já vivi relacionamentos abusivos. Você realmente acha que o fato de eu te acompanhar e te ajudar a perder medos de uma forma prática caracterizam que eu te anulei? Tente lembrar que em tudo que vivemos, embora eu sempre fosse firme, eu pedi o seu consentimento. Para consultar o oftalmologista, para morar aqui e até mesmo para o nosso primeiro beijo. Eu respeitei tudo, Érico. Respeitei porque te amo. Droga! Eu te amo!
- Vamos passar uma borracha sobre tudo isso... – respondi – eu sei que é difícil perdoar o fato de eu ter te escondido algo tão bobo, mas peço que me perdoe. Eu nunca mais duvido de você.
Diana ficou em silêncio por alguns instantes. Ouvi o ruído de seu choro de decepção. Aquilo me perfurava como faca. Em seguida, ela respirou e retomou a palavra.
- Eu não quero decidir nada agora. Nem quero me deixar levar pela emoção. Me diga, o que esse outro oftalmologista te disse?
Eu chorava discretamente, mas respondi entre alguns soluços:
- Disse a mesma coisa que o médico que você me levou. Eu já decidi. Vou fazer a cirurgia definitivamente.
- Ótimo. – respondeu ela, e continuou. – eu te acompanho nessa cirurgia e no pós-operatório e, depois, a gente vê o que faz...
Eu parecia não entender as palavras que Diana acabara de dizer.
- Vê o que faz com o quê? – perguntei.
- Com a gente, Érico. Eu te amo, mas aprendi a me amar primeiro. E não posso amar alguém que não confia em mim. Hoje é uma consulta escondida. Amanhã pode ser coisa pior.
A culpa corroía meu peito. Eu sabia que tinha errado. Eu sabia que podia ter resolvido as coisas de outra forma, mas agora já era tarde.
- Diana... por favor... não fale assim... eu preciso de você perto de mim... eu te amo....
- Eu também te amo, Érico. E é por isso que vou ficar do seu lado até o fim dessa cirurgia. Já disse. Depois a gente vê o que faz.
Diana se levantou e saiu até a varanda. Disse que precisava espairecer um pouco. Eu nunca me senti tão sozinho quanto nos cinco minutos seguintes. A solidão foi quebrada pelo toque do meu telefone que foi simultâneo ao de Diana na sacada.
- Alô?
- Olá, é o sr. Érico?
- Sim, é ele. Pois não?
- Aqui é a secretária do dr. Claus. Ele pediu para avisá-lo para se preparar. O cirurgião dos Estados Unidos já está a caminho. Sua internação e cirurgia serão na próxima sexta-feira. Estamos ligando quatro dias antes para que o senhor se organize.
Meu coração saltou para a garganta. Eu agradeci e desliguei. Segundos depois, Diana entrou pela porta com uma expressão preocupada:
- Fábio foi solto.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora