Capítulo 8 - Colo

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Ouvi uma risada debochada do porteiro ao entrar no prédio com uma mulher depois de mais de dois anos, mas ignorei completamente. Achei que já estava enlouquecendo. Eu me apaixonei perdidamente pela enfermeira que me atendeu em uma emergência. Carência não era a minha cara. Eu, ao menos, não achava que era.

Antonia me cobriu no sofá e fez um chá de camomila na cozinha. Me entregou a xícara e sentou na poltrona ao lado na sala.

- Uma belo apartamento. Você tem um belo apartamento, Érico.

Agradeci cordialmente. Antes que a coisa desandasse, tentei explicar o que tinha acontecido.

- Veja bem, Antonia, eu estou passando por umas coisas e fiquei com vontade de chorar. Foi só isso. Não precisava ter se incomodado em me trazer até aqui.

- Você está apaixonado pela enfermeira. – ela disparou.

Fiquei sem falar. Ela continuou.

- Você não enxerga, Érico, mas eu sim. Homens, mesmo não enxergando, ficam com cara de idiota quando estão gostando de alguém. E quando a gente gosta de alguém que gosta de outro alguém, tem um radar ligado o tempo todo pra avisar qualquer movimentação estranha.

Retomando um pouco a lucidez, tentei resolver qualquer problema posterior ali.

- Acho que não foi uma boa ideia você ter me trazido pra casa, Antonia. Eu não quero que você fique triste, esse é um problema meu.

- Eu gosto de você, Érico. Já tentei esquecer por muito tempo, mas você não sai da minha cabeça. Sendo assim, sinto que não posso desistir tão cedo e, mais do que isso, preciso te alertar para armadilhas que você, literalmente, não pode ver.

Aquilo me ofendeu de novo. Antonia parecia ter uma fixação pela minha condição e eu perdi a cabeça.

- Sai daqui. Eu não preciso de ninguém pra me alertar. – vociferei.

Pelo meu tom, Toni entendeu uma ameaça e rosnou. Ordenei que ele silenciasse.

- Você tem razão. – ela respondeu. – você não precisa de alertas. Está precisando, urgentemente, de amor. Você é um cara doce que, por achar que precisa ser sempre autossuficiente e não abrir o coração para um amor possível, se tornou amargo.

Aquela verdade foi um soco na minha cara.

A dor da pancada foi suavizada por um beijo quente e demorado que precedeu a partida enérgica de Antonia batendo a porta.

Meus sentimentos nunca estiveram tão confusos.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora