Ouvir Diana perguntar se eu tinha um minuto para conversar me fez pensar automaticamente em Antonia. Minha razão dizia para ser egoísta, dizer que não tinha, que estava atrasado, que alguém estava me esperando. Meu coração, no entanto, me tomou por inteiro e cedeu ao odor e ao som mais lindos que eu já tinha conhecido. Devagar, tomei assento ao lado dela e percebi que ela brincava com Toni. Levantei a cabeça e balbuciei com timidez:
- Claro. Tem algo que eu possa fazer por você?
Pelo tom de voz da pergunta feita por ela, eu percebi que o assunto era espinhoso. Como sempre, Diana não pediu desculpas, nem se justificou, nem perguntou se eu precisava de ajuda para sentar ou para prender Toni. Simplesmente começou a falar:
- Eu entrei num casamento que ruiu antes de mesmo de começar.
Meu coração saltou para a garganta. Ela continuou.
- Fábio é um cara diferente, e eu não quero e não posso magoá-lo, mas acho que estou gostando de alguém. Aconteceu um tempo antes do casamento.
Eu não tinha tempo para pensar em mais nada. Só queria ouvir onde a história de Diana daria. Aflito, perguntei:
- Você ficou com esse alguém antes de casar?
Ela prontamente se defendeu:
- Não, não é isso, eu não sou assim. É uma coisa diferente. Que eu não lembro de ter sentido antes. Sabe o que é? Estava tudo certo. Eu estava pronta pra casar com Fábio. A gente se amava. Mas depois que esse cara apareceu, as coisas foram penetrando na minha mente devagar. O ponto alto disso tudo foi a igreja. Cada passo que dei na direção de Fábio diminuiu minha certeza de que eu queria casar com ele.
Eu estava congelado. Ela parecia tão envolvida com a própria fala que não percebeu.
- Fábio é incrível. Eu não sei como pude fazer isso com ele. São três meses de casamento. Eu não tive coragem de dizer na hora porque achei que fosse passageiro, mas não passou. Eu não estou feliz, Érico.
Houveram alguns instantes de hiato, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Diana se levantou e disse:
- Caramba, me desculpa. Eu não sei por que te disse tudo isso. Sentei aqui pra pensar um pouco, te vi passar e não resisti. Você é um cara legal, Érico. Obrigada por ouvir. Mas pode esquecer tudo que eu te disse. Não importa, mesmo. A gente se vê.
E saiu correndo.
Eu chamei por seu nome duas vezes.
“Foi bom, foi bom. Vai ficar tudo bem.”
Ela não queria casar porque gostava de outro cara.
Eu sentia pena dela e de toda a situação mas, ao mesmo tempo, pensei que eu não merecia ser um amigo para horas difíceis. Fiz força para entender que eu não devia mais dar ouvidos a Diana. Parecia ser uma menina inconsequente, capaz de desabafar com alguém que pouco conhecia. Por algum motivo, eu achava que meu conhecimento sobre ela era muito maior que o dela por mim.
Meu foco agora precisava ser Antonia. E, naquela noite, eu não tive insônia.
Mas sonhei por várias horas com o perfume de flores e a voz melodiosa dizendo: “eu gosto de dois caras. Nenhum deles é você, Érico.”
Acordei irritado e ainda mais decidido: eu não iria mais dar atenção a Diana.
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Dias que eu não vi
RomanceLIVRO NA LONGLIST DO WATTYS 2018 Érico é um chef de cozinha deficiente visual que sempre lutou com muita determinação para alcançar seus objetivos, até que Diana entra em sua vida com um amor fulminante que o transforma. A história é narrada pelo pr...