Capítulo 17 - Noventa dias

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Fui com Antonia ao aeroporto. Nos despedimos com certa saudade antecipada. Era inegável que ela fazia parte dos meus dias e tinha transformado minha rotina. Quase não me lembrava mais de Diana. Antes de se juntar ao murmúrio, ela me tomou pelas mãos e disse:
- São só duas semanas. Daqui a pouco eu volto cheia de assunto, ragazzo.
Eu não respondi. Apenas a abracei com força e senti algo igualmente forte. De alguma maneira, acho que senti as instabilidades que se sucederiam.
Antonia me beijou a face e sussurrou:
- Eu amo você, Érico.
Embora gostasse muito dela, eu ainda não conseguia responder com “eu também”.
Comecei a andar e Toni a me conduzir. Voltei ao táxi e depois para casa. Contratei uma recepcionista temporária para ocupar o lugar de Antônia e administrar o salão do restaurante. Eu queria me concentrar unicamente no trabalho nas duas semanas que viriam. Entendi que com Antonia em minha vida, pensar em Diana era algo que beirava o antiquado.
Já tinham se passado três meses desde o casamento e, até então, não mais nos encontramos. Estranhei em alguns momentos porque, nas primeiras semanas com Antonia nossos encontros na rua eram praticamente diários. De qualquer maneira, eu não queria mais me interessar por ela e Fábio. Meu foco era meu trabalho e tentar corresponder aos sentimentos de Antonia, que estava sendo tão paciente comigo. As coisas pareciam ter começado a se encaixar.
A única exceção de todo esse tempo foi uma frase específica. Eu não pensava exatamente em Diana, mas tentava desvendar mentalmente a sentença que ela desferiu para definir a própria festa de casamento:
“Foi bom, foi bom. Vai ficar tudo bem.”
A noite transcorreu com tranquilidade no restaurante. A recepcionista substituta tinha muita experiência e tirou os problemas de letra. Perto das duas da manhã, saí do restaurante com Toni e, juntos, desfrutamos do ar da madrugada. Desde que Antonia e eu nos aproximamos, eu não tinha mais voltado sozinho com Toni para casa. Era bom ter aquele silêncio e solidão. Descobri que estava com um pouco de saudade disso.
Por falar em saudade, não demorou muito para que minha memória olfativa reconhecesse aquele maldito/bendito cheiro.
Eu sabia que Diana estava ali. Só que dessa vez, ela não foi efusiva com Toni, nem me chamou pelo nome. Houve um longo silêncio. Fui eu que, parado no meio da madrugada, perguntei:
- Diana?
Prestes a assumir que tinha sido um delírio e retomar minha marcha para casa, ouvi a voz melodiosa responder:
- Será que você tem um minuto pra conversar?

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora