Capítulo 5 - O que eu não via

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Passei a noite em claro. Isso nunca tinha acontecido. Eu dormia feito uma pedra.
Pensei muito em Diana e Fábio e tentava combater esse pensamento questionando como logo eu, que sempre fui tão cético com relação à paixão, podia ter sucumbido a um sentimento tão rápido. Eu a conheci numa situação extrema, em que ela apenas cumpriu sua função de enfermeira. Depois, achei que tinha acontecido um flerte, mas era apenas empatia. É claro, ela saiu para jantar com o noivo. Tudo do lado dela se encaixava. Do meu, foi tudo fantasia.
Me perdi completamente nos pensamentos. Ficava idealizando os dois juntos conversando e rindo e sendo felizes e isso, impressionantemente, parecia cravar um punhal profundo no meu peito. Eu já não me reconhecia.
A certa altura da madrugada, minha mente pareceu dar uma breve trégua do casal feliz para me lembrar de outra coisa: o tamanho da grosseria que cometi com Antonia. Revendo mentalmente nossa conversa, percebi o exagero da minha reação. E aquele pensamento ocupou a outra metade da minha noite.
Torci para que as horas passassem rápido. Eu precisava me desculpar com ela. Antonia era uma menina doce, grande profissional e, acima de tudo, muito preocupada com os outros. Eu fui um idiota.
O dia passou arrastado, como minhas pálpebras, e às seis horas, estava eu mais uma vez prendendo Toni nos fundos do restaurante quando ouvi um oi. Era Antonia. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, comecei a falar.
- Te devo desculpas. Sei que você não disse nada por mal, eu é que estava estressado e acabei descontando na primeira pessoa que apareceu. Fui injusto e ignorante. Me desculpe.
Ela hesitou para responder. Percebi que segurava o choro. Com um pranto contido, começou a falar:
- Desde o primeiro dia em que você entrou pela porta desse restaurante eu quis saber quem você era. Em cada conversa sobre os assuntos mais banais, eu não conseguia conter meu sorriso em te ver. Mas isso nunca foi muito recíproco. Eu gosto de você, Érico. Há três anos, eu gosto de você.
A fala dela me paralisou. Antonia retomou a palavra:
- Eu jamais falaria qualquer coisa com condescendência sobre você. Não precisa provar nada pra ninguém. Todo mundo vê quem você é. Mas você não me deu sequer a chance de corrigir qualquer mal entendido. Eu não preciso disso, Érico.
Ela jamais tinha sido tão firme comigo. Continuava sem dizer palavra quando ela concluiu.
- Isso é tudo. Eu vou trabalhar.
O volume de informação parecia queimar a minha mente.
Foi uma noite de muitas reclamações por pratos salgados demais.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora