Capítulo 20 - A verdade que surge

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Senti como se tivesse perdido as pernas quando Diana falou que eu era o cara de quem ela gostava. Ao mesmo tempo, retomei a lucidez pra me dar conta que ela poderia estar falando aquilo por estar em estado de choque e, na sequência, peguei meu celular para fazer a chamada de emergência. O hospital era muito próximo de onde tudo aconteceu e, ao falar que era Diana que precisava ser atendida, a ambulância chegou em menos de cinco minutos. Enquanto esperava, tentava reanimá-la segurando seu rosto, acarinhando sua testa e conversando, mas ela não respondia. Quando a ambulância chegou, ela acordou e balbuciou algumas coisas incompreensíveis. Eu disse aos socorristas o que achava que tinha acontecido, afinal, só ouvi o ruído da queda e o carro arrancando.
Ouvi um dos socorristas mencionar que era melhor ligar para o Dr. Fábio. Diana se exaltou e gritou:
- Não! Ele não!
Liguei os pontos. Só podia ser ele o motorista do carro. Se minha antipatia já era grande pelo simples fato de ter se casado com Diana, imagine quando adicionei o fato de que ele a tinha derrubado do carro. Enquanto confabulava comigo mesmo, ouvi Diana perguntar:
- Érico, você pode me acompanhar, por favor? Eu só tenho você aqui.
Eu hesitei, os colegas de Diana argumentaram que era melhor me deixar ir, mas ela insistiu com um pesar na voz que me fez corroer por dentro. Eu precisava acompanhá-la. Fiz o que senti que precisava fazer.
Lembrei de um conhecido que morava no último andar de um prédio próximo e, depois de explicar a situação por telefone, ele prontamente surgiu para ficar com Toni naquela noite.
Entrei na ambulância e a orientação foi que eu ficasse em silêncio, para que ela não se exaltasse mais. O médico da equipe me disse que ela estava com diversas escoriações pelo corpo e dois cortes na face. A rua era de paralelepípedos, o que justificava tamanho estrago. Ao ouvir isso, deixei uma lágrima escapar. Por alguns segundos, agradeci por não poder ver. Senti que minhas mãos estavam com algum líquido viscoso e logo entendi que era sangue. Tive muita raiva de Fábio. Muito mais do que já imaginei sentir por alguém.
No hospital, os médicos fizeram o atendimento e me tranquilizaram dizendo que, por sorte, foram apenas escoriações superficiais. Disseram que Diana estava bem e que queria me ver. Fui até o quarto e, ao abrir a porta, o perfume de flores me tomou outra vez. Diante da situação que tinha acabado de acontecer, minha definição de não lhe dar mais atenção foi por água abaixo. Sentindo uma lágrima escorrer por meu rosto, perguntei:
- Você está bem?
- Sim, só um pouco dolorida e assustada. – ela respondeu.
- Afinal, o que foi que aconteceu? – perguntei – Quem era o motorista do carro? – continuei, mesmo sabendo a resposta.
Ela hesitou por alguns instantes e respondeu:
- Depois do casamento, as coisas pioraram muito. Fábio mudou muito quando percebeu que eu já não sentia mais a mesma coisa.
Eu permaneci em silêncio. Ela continuou:
- Ontem, depois que te encontrei, decidi contar a ele o que estava sentindo, para tentarmos resolver juntos. Ele enlouqueceu. Nunca o vi daquele jeito. Me pressionou até eu dizer que... bem, até eu dizer que gostava de você.
Ela não estava delirando. Afirmou mais uma vez que gostava de mim. Senti o peito arder. Eu a quis tanto, foi um amor tão fulminante, mas agora que as coisas estabilizavam com Antonia, ouvir aquilo parecia um contrassenso. Me senti completamente perdido.
Antes que pudesse responder, ela finalizou:
- Quando eu disse isso, ele gritou muito comigo, me fez entrar no carro e quando viu você passando, me jogou pra fora dizendo: “Não é o cego que você quer? Pois fique com ele!”
Naquele momento, sacramentei Fábio na minha lista negra. Me chamar pejorativamente de “cego” era a gota d’água. Eu estava prestes a esbravejar quando meu telefone tocou. Era Antônia.
- Oi, lindo! Tudo bem? Tenho tanta coisa pra te contar!
Senti um nó na garganta. Tive medo de contar a verdade. Perguntei algumas coisas simples sobre a viagem e disse que estava muito cansado, que precisava dormir. Antonia percebeu meu tom e perguntou se estava tudo bem. Menti que sim, que era só o cansaço. Ela se despediu, com dúvida na voz, e desligou. Eu sabia que ela sabia que algo estava errado. Ao desligar o telefone, Diana disparou:
- Por que mentiu pra ela?
Eu, sempre tão cauteloso com as palavras, vi a sinceridade fugir da minha boca:
- Porque eu me apaixonei por você no dia em que me ajudou.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora