Capítulo 22 - Caçada

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Já passava do meio-dia e os médicos liberaram Diana. Prescreveram alguns remédios para dor e pediram que ela repousasse. Depois de dizer tudo que tinha acontecido, ficamos em silêncio, de mãos dadas. Senti que ela dormiu e acabei apagando na cadeira também. No fundo, eu nem sabia o que estava fazendo ali. Ela não era minha namorada. Aliás, o mais próximo que eu tinha disso estava na Itália incrédula com minha falta de interesse por sua viagem dos sonhos.
Tudo que aconteceu na noite anterior foi muito intenso. A revelação que me fez, e que ainda não parecia verdade, fez meu coração ressurgir como um gigante adormecido. A cada sentença proferida por ela, o sentimento fulminante que senti no primeiro dia reacendia em mim. Além disso, saber que ela estava naquela situação tão difícil e, no primeiro momento, assustada, foi algo muito forte. Depois de algumas horas, ouvi-la se encontrando mais uma vez foi o ato final para cravar o amor que sentia por ela de novo em meu peito. Os sentimentos me preencheram tanto que nem foi tão incômodo estar rodeado de médicos. Eu sempre detestei médicos. Só fui para o hospital no dia em que desmaiei porque não tinha forças para protestar.
Eu sentia que o que estava fazendo era errado com Antonia, mas não conseguia sentir culpa por seguir meu coração. Decidi que era melhor contar a verdade quando chegasse em casa. Por falar em casa, me dei conta de que não sabia para onde Diana iria. Ao sair do hospital, ela caminhava com passos rápidos sem se preocupar se eu acompanharia ou não. E eu amei isso. Entretanto, a condução de Toni me faltava, por isso, parei. Ela parou também. Senti que se aproximou.
- Você foi incrível. Obrigada por tudo. Olha, tudo que foi dito de ontem até hoje é verdade. Eu sou meio durona, mas meu coração se encheu de alegria quando você disse que gostava de mim. Eu não quero me animar demais, sei que tudo é muito difícil. Você tem uma namorada, eu me deixei levar pela emoção. Ainda bem que não aconteceu nada. E se você não quiser que nada aconteça, eu vou entender.
Diana parecia ter um amor maduro. Ela sabia que a vida real não era tão simples quanto as histórias. O amor ardia em seu peito também, agora eu sabia que ardia, mas ela não queria ser injusta com ninguém. Sabia que o que estava em jogo era a vida e a verdade de outra pessoa que nada tinha a ver com isso. E isso me fez amá-la ainda mais. E isso me fez condenar ainda mais meus pensamentos egoístas. Eu disse que aquele era um assunto para ser conversado em outro momento e, então, perguntei o que realmente queria saber.
- Pra onde você vai agora?
Ela deu um suspiro decidido.
- Para a delegacia, é claro. Preciso formalizar minha denúncia contra Fábio.
Assenti com a cabeça. Mas não me dei por satisfeito.
- E depois, pra onde você vai?
Ela demorou mais que o normal para responder.
- Ah, eu tenho uns parentes que moram aqui perto, vou me virar.
Eu não senti nenhum tipo de firmeza nas palavras dela, mas sabia que se a contrariasse diretamente, o lado independente falaria mais alto e ela não se abriria mais comigo. Diana caminhava em uma linha tênue entre a segurança real e o medo de mostrar suas dores. Por esse motivo, falei em tom conciliador.
- Bom. Se você precisar de alguma coisa, está aqui o meu endereço. Eu sei que você sabe qual é o prédio, mas aqui tem o número do apartamento e meu telefone. – dei a ela um bilhete que eu sempre carregava comigo para qualquer pessoa que precisasse entrar em contato. Prossegui, ainda com cautela.
- Se seus parentes tiverem viajado ou tiver algum problema, não hesite em me procurar. Em breve, acho que precisaremos conversar com a cabeça mais fria sobre toda essa situação.
Ela não respondeu, mas pegou o papel da minha mão. Senti que tinha sido efetivo.
Antes de ir embora, percebi o calor de seu corpo se aproximar e lábios consistentes e doces tocarem a minha bochecha. O cheiro de flores nunca tinha chegado tão perto. E agora, eu me apaixonava também pelos lábios mais doces e ternos que eu já tinha sentido. E assim ela se foi sem dizer nada. Ia denunciar o agora ex-marido.
Chamei um carro pelo telefone e no caminho de casa, só fui capaz de pensar em uma coisa: eu precisava falar tudo o que tinha acontecido para Antonia. Achei que fosse melhor esperá-la voltar da Itália, mas tudo era muito latente e muito certo pra mim. Eu sabia que já tinha feito coisas erradas demais.
Tomei o telefone, tomei coragem e liguei. Uma voz feliz me atendeu.
- Oi, lindo! E então? Tem um tempo agora pra eu te contar tudo?
Aquilo partiu meu coração porque eu sabia que tinha que partir o dela. Hesitei para responder. Ouvi Antonia dizer:
- Está tudo bem, Érico?
Finalmente tomei ar e respondi.
- Não muito, Antonia.
Ela perguntou, preocupada, o que estava acontecendo. Eu expliquei o que tinha acontecido na noite anterior sem mencionar que a vítima era Diana. Precisava deixar as circunstâncias claras para que ela entendesse que, definitivamente, eu não procurei a situação. Ela me encontrou. Eu sabia que a pergunta não tardaria.
- Tudo isso é horrível, Érico. Mas e a moça, quem é? A gente conhece? – perguntou ela.
Me odiando profundamente por magoá-la, não me permiti enrolar mais.
- Era Diana, Antonia. Era Diana. Tudo isso aconteceu porque ela disse a Fábio que se apaixonou por mim no dia em que me ajudou.
Eu não consegui dosar a última informação. Sabia que tinha sido uma apunhalada.
Alguns segundos de silêncio. A ligação caiu. Tentei retornar. Caixa postal. Eu esperava gritos, eu esperava ofensas, mas não esperava silêncio. Devastado, me joguei no sofá. O telefone tocou. Atendi sem dizer alô:
- Antonia, deixa eu tentar te explicar melhor...
Fui cortado pela voz mais linda:
- Érico, é a Diana. O Fábio sumiu.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora