Capítulo 28 - Acerto de contas

1.8K 206 0
                                    

Na volta ao hospital, já me assegurando que Toni estava em casa e alimentado, Diana me disse que encontrou Antonia em frangalhos e que, assim que abriu a porta, Toni pulou em seu colo e ela sequer conversou com a mulher que desejou me ver machucado. Eu sabia que não podia ser bem assim, mas não queria pensar nisso naquele momento. A versão que segue é algo que na verdade eu só saberia muitos anos depois, sem ser pela boca de Diana.
.
Diana seguiu determinada até a casa de Antonia. Estava decidida a levar Toni de qualquer maneira. Ela não temia absolutamente nada. Fábio estava preso. Seu assunto agora era com Antonia, a menina que, até pouco tempo atrás, ela de certa forma até admirava. Sentia-se mal pelo fato de ter destruído o relacionamento dela comigo. Diana já tivera o coração partido antes na vida em condições muito semelhantes e sabia a dor e a revolta que isso causava. Não se permitiu viver absolutamente nada comigo antes de ter certeza que, de alguma forma, eu havia desfeito meu compromisso com Antonia.
Ao chegar à porta do apartamento, Diana não fez cerimônias e simplesmente forçou a maçaneta. A porta estava aberta. Antonia sobressaltou-se para ver quem estava à porta e, quando viu, revoltou-se:
- Quem você acha que é pra entrar na minha casa desse jeito, sua vagabunda?
- Eu não vim brigar, Antonia. Eu vim só buscar o cachorro. Me entrega, por favor. – disse Diana, com firmeza.
Antonia riu longamente. O apartamento estava revirado. Muitas garrafas de bebida sobre a mesa.
- Ahh, é claroooo. A santa enfermeira vai salvar o dia mais uma vez. Esquece, Diana. Eu mereço ver o Érico sofrer um pouco. Não basta apenas ele ficar com você, a vestido de repolho, a enfermeira sonsa, a vagabunda que traiu o marido com um cara comprometido.
Antonia estava muito alcoolizada e despejava ofensas sem cerimônia. Diana percebeu e continuou sendo sóbria:
- Ele precisa do cachorro, Antonia. Você sabe.
- Dane-se o Érico, você e esse cachorro idiota! Eu quero mais é que vocês passem pelas piores coisas possíveis!
Nesse momento, Diana decidiu fugir das respostas padrão.
- Antonia, eu também já fui rejeitada. A gente chora, sente raiva, acha que o mundo vai acabar. Já passei por isso e entendo a sua dor. Não sei se existe alguma mulher que não tenha passado. Mas nada disso justifica chamar alguém para bater em quem te magoou. Nada. Toda a admiração que Érico tinha por você foi por água a baixo.
Assim que terminou de dizer a última frase, Diana sentiu a mão de Antonia explodir em seu rosto. O tapa doeu, a vontade de revidar foi grande, mas Diana não queria usar da mesma moeda. No mesmo instante, Toni correu de dentro do quarto para o colo de Diana e lambeu sua face. Antonia esperava que Diana a agredisse de volta, mas isso não aconteceu. Ao pegar Toni no colo e se direcionar à porta, Diana disse com sinceridade:
- Eu realmente sinto muito por tudo isso.
Antonia a perseguiu até o corredor e puxou pelo cabelo. Ficou a dois dedos do rosto dela e disse:
- Vocês vão pagar por tudo isso. Eu desejo que você e o Érico morram. Eu desejo que vocês chorem, se detestem, sofram as piores experiências.
Diana se desvencilhou das mãos de Antonia e respondeu:
- E eu desejo que você tenha um pouco mais de amor próprio.
Descendo as escadas, Diana chorou copiosamente.
Lamentou profundamente por ver alguém tão fora de si e por sentir uma pequena parcela de responsabilidade naquele processo.
Sentiu medo do que poderia vir diante de tanto ódio e prometeu a si mesma que não me revelaria as condições em que encontrou Antonia para que eu não tivesse essa imagem de uma pessoa por quem um dia senti tanto apreço.
Esse desejo de proteger era mais um dos elementos apaixonantes da dona do perfume de flores.

Dias que eu não viOnde histórias criam vida. Descubra agora