Capítulo 7

177 12 0
                                    




Expliquei meu plano a Marcel, que assentiu com toda certeza do mundo. Porém ele não queria voltar para casa e uma boa parte de mim também não.

Ele estava limpando seu rosto e braços de tinta na beira do lado, fazendo uma concha com as mãos e derramando em seu corpo. Depois ele limpou os óculos, só que aquilo é tinta, não vai sair com tanta facilidade.

—Não tá saindo. — Grunhiu na beirada do lado. A luz da luz sua pele parece mais branca e seu sorriso mais iluminado.

Me levantei e fui até lá ajudá-lo, me agachei junto a ele. Fiz uma concha com as mãos levando a água até seu cabelo. Esfreguei seu coro cabeludo, seu cabelo já foi mais sedoso, a tinta com certeza não serviria de hidratação.

— Não tá funcionado. —Ele esfregava seus braços. — Acho que deveria ter feito isso assim que cheguei, teria sido mais fácil.

—Só tem um jeito!

—Qual? —Olhou para mim. — Não acho que solvente seja muito bom para o cabelo.

Dei de ombros.

—Que tal um banho? — perguntei.

— Séria ótimo! Se, eu não quisesse voltar para casa. — Pi, pi, pi: Sarcasmo detectado.

—Não precisa ir para casa pra isso. — Sorri.

Empurro Marcel no lago, e então o único barulho presente é o puf! Estava rindo quando o topo da cabeça dele voltou para a superfície. Então ele me fuzilou com o olhar, enquanto algumas gotas d'água caiam sobre seu rosto.

— Há-há-há. — Ele tirou os óculos e jogou perto da onde eu estava. —Será que pode me ajudar a sair agora?

Mar estende a mão e eu a seguro, puxando-a para trás, quando percebo que na verdade meu corpo estava começando a se inclinar para frente. Só tive tempo de dar um pequeno grito antes de cair na água fria.

A água estava extremamente calma, quando voltei a superfície Marcel ria. Eu tinha caído em sua pegadinha, pus meu cabelo para trás. Acumulei água em minha boca e cuspi em sua cara.

— Que nojo. —Ele diz enquanto mergulha de novo, desta vez esfregando o rosto. —Pensei que era uma boa menina.

— Você me jogou aqui — Fuzilei-o com o olhar.

— Você me jogou primeiro!

Passamos um tempo olhando um para o outro até termos uma crise de riso. Ele ria de um jeito engraçado, inclinava a cabeça para trás e dava pequenos suspiros entre as risadas, como se sua barriga doesse ou não conseguisse parar. O que só me fazia rir ainda mais, estava chorando de tanto rir, não só por isso, mas tantas coisas que quis rir do mundo onde vivia e não o fiz. E ao vê-lo rindo desse jeito, tão despreocupado e singelo, acabo não me lembrando do porquê de nunca ter rido de tudo aquilo.

—É lindo aqui, não é? — Deu uma pausa. —Toda essa tranquilidade, sua companhia, tudo parece tão irreal.

Meu rosto se enrubesce e digo a primeira coisa que vem em minha mente.

— Vamos para fora? Está começando a esfriar.

Marcel assente com um meneio de cabeça e vamos para fora, nos encostamos numa árvore, seu tronco grosso e cheio de musgo, me pego admirando a paisagem. Estava tudo tão escuro e mesmo assim a lua arranjava um jeito de nos iluminar, fazendo com que pequenos focos de luz apareçam em nossas peles. Os únicos sons presentes eram os das cigarras e uma coruja que não revelava sua localização.

Marcel tirou seu casaco, ficando apenas com uma camisa de manga longa. Por causa da água a camisa ficou completamente colada em seu corpo, revelando todo seu abdômen. Ele já foi mais magro, bem mais magro.

Everything Has Changed | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora