Capítulo 19

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Será que eu havia escutado direito? Claro que sim, caso contrário não estaria gaguejando ou com lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto. Meus olhos perderam o foco, minhas mãos tremiam, havia algo diferente em mim, algo que eu não sei bem explicar o quê. Era um tipo de medo diferente dos outros, como se a minha felicidade tivesse sido abduzida por extraterrestres e sido levada para outro planeta distante.

— O quê? — Gaguejo.

— Me desculpa, Lily. Eu tentei, eu juro que eu quis contar! Mas você tava sempre tão preocupada ou feliz... eu não conseguiria vê-la triste, não por minha culpa.

—Acho que não adiantou muita coisa. —Olho para a grama úmida. — Por que não me contou? Por que esperou por esse momento? Marcel, você me fez tão feliz esses últimos meses. Por que esperou que eu me apaixonasse por você? — Soluço.

Marcel se aproxima de mim, pegando minhas mãos e eu me esquivo. Não quero suas mãos macias na minha pele, não quero olhar para o rosto dele, posso ver a tristeza em seus olhos. Se ao menos ele soubesse... que eu nunca senti essa sensação tão ardente, inquieta e audaciosa, dentro do meu peito. Nunca senti uma leve felicidade antes de alguém chegar ou tristeza antes da despedida. Mas seus olhos verdes não mentem, e eu sei, que bem lá no fundo, ele sentia o mesmo.

— Lily, por favor... não torne as coisas mais difíceis.

— Mais? Elas podem piorar? —Aumento meu tom de voz.

—Não foi o que eu quis dizer.

Então diga!, quero gritar. O que realmente quer dizer?

Ele me puxa para seus braços e me abraça sem meu consentimento, inalo seu perfume, sua marca. Sinto seus cachos rosarem no meu rosto, tão cheirosos e macios. Meu coração bate forte por dentro, como um animal que jamais será domado. Caso nunca tenha perdido alguém para a distância, por favor não me julgue, a saudade com certeza é o pior dos sentimentos.

— Eu ainda vou estar aqui... — Mar sussurra em meu ouvido. — Nunca a deixarei completamente.

—Promete? — Pergunto no meio de uma fungada.

— Eu prometo, Lily. — Ele me posiciona em sua frente de uma maneira que possa olhar em seus olhos. — Do mesmo jeito que prometo nunca lhe esquecer e nunca deixar de estar apaixonado por você.

Fecho meus olhos, querendo que meu cérebro grave essa frase para quando eu quiser dar o play novamente. Não quero viver de lembranças. Não quero reviver nossas memórias como um filme antigo, não quero olhar para nossas fotos e pensar que nada mais daquilo existe, não quero ter que acompanhar sua vida através de fotos e principalmente não quero sentir seu cheiro na rua e perceber tristonha que não é ele.

— Quando vai embora?

— Depois de amanhã.

—Depois de amanhã? — Digo pasma.

— Eu sinto muito, mesmo, você tem memórias suficiente para recordar. —Memórias não é te ter aqui. — Vou ficar numa república com quatro amigos de infância meus.

- Para onde você vai, afinal?

- Lily, eu não quero ser rude, mas prefiro não contar. Muita coisa aconteceu, acho que precisamos pensar sobre isso tudo. Eu virei a sua vida de cabeça para baixo! – Nunca me importei com um pouco de bagunça. – Preciso de um tempo para saber como as coisas serão daqui para frente.

—Você não me fez mal, pelo contrário... —Dei um tempo. — Eu só queria poder me despedir devidamente.

—Me desculpe, minhas malas já tão prontas e meus amigos a minha espera...

Everything Has Changed | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora