Capítulo 3

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Fico ajoelhada ao seu lado, esperando que ele canalizasse força suficiente para se levantar. Estendo meu braço para que ele se apoie, Marcel se levanta com muita dificuldade, passo seu braço por trás do meu pescoço e em seu ritmo, levo-o até a enfermaria.

Não quis olhar para Ryan, tudo o que eu consigo sentir nesse momento é puro repulso. Ele está mancando e com a respiração ofegante, torço para que não encontremos ninguém nos corredores. Avisto uma porta com uma cruz vermelha na frente, empurro-a com meu pé e o levo para uma cadeira. Me sento ao seu lado e seguro firme sua mão, para que ele saiba que estou aqui. A enfermeira logo veio para socorrê-lo.

— O que aconteceu com ele? — Pergunta a senhora.

—Uns garotos ...

— ... eu cai! — Responde, me interrompendo.

Ele me olha assustado, feito um cão abandonado e com fome, como Ryan pôde? Apesar dos óculos posso notar que algumas lágrimas caiem de seus olhos, aperto mais uma vez sua mão. Sinto meu celular vibrar no meu bolso, na tela aparece o nome da Scarlet, na certa Ryan já deve ter contado a ela alguma coisa, recuso a ligação e me concentro no que é importante. Assim que a enfermeira se afasta para pegar algum remédio dou início as minhas perguntas.

— Por que não disse a verdade? — Sussurro.

Ele geme ao se mover para me olhar.

— Não quero que as pessoas pensem que eu sou fraco... —Arqueia as sobrancelhas. — apesar de ser...

— Marcel, me desculpa. Eu prometi...

— Não tem nada a ser desculpado, a gente sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Você não tem culpa de nada... não é a primeira vez que eu sou vítima do Quarteto Fantástico, sabe?

Eu não sabia. Há quanto tempo ele vem sofrendo por isso?

Quando ia abrindo minha boca para respondê-lo ele pôs o dedo indicador em meus lábios, fazendo com que o único som presente fosse os de nossas respirações e seus gemidos de dor.

Marcel havia tirado os óculos, só assim pude ver o quanto seus olhos eram bonitos, coloridos num tom perfeito da minha cor favorita: verde.

— Por que não vai embora? — pergunta depois de um tempo, ainda não conformado com a minha presença.

— Não vou te deixar sozinho.

Desta vez é ele que segura a minha mão.

— Não se preocupe, eu e a solidão somos velhos amigos.

— Eu vou ficar, não importa o quanto você me peça para ir embora. — Digo olhando profundamente em seus olhos.

Marcel assente. A enfermeira volta com alguns marços de algodão e uns vidros de remédio. Ela limpa suas feridas com água oxigenada e depois passa rifocina em spray, então cobre suas feridas com gases e esparadrapo.

— Pronto, garoto. Da próxima vez preste mais atenção por anda!

— Obrigado. — Dizemos ao mesmo tempo.

O amparo e levo até o meu carro, não estou nem um pouco afim de assistir aula e ele claramente não está em condições de ir a pé sozinho. Entramos no meu conversível azul( adoro coisas retro) e eu o ajudo a pôr o sinto, ajusto o retrovisor e piso fundo no acelerador.

***

Paro em frente a sua casa, abaixo o volume do rádio e ficamos em silêncio por um tempo, não sei dizer exata. Sua casa está silenciosa, então presumo que não tem ninguém em casa. Marcel se liberta do cinto de segurança e vira-se para mim.

Everything Has Changed | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora