Capítulo 7

856 78 15
                                    

Ela mexeu no cabelo nervosamente. - Não imaginei que fosse... Você não me disse seu sobrenome... 

- Vou ficar feliz em trabalhar com você - a interrompi.

Ela analisou algo em sua mente, depois olhou para mim. - Você, digo, o senhor não me chamou para o cargo como uma retribuição de favores, não é? Porque se esse for o caso, eu não quero que se sinta na obrigação de me ajudar só porque eu o ajudei de certa forma.

Com aquelas poucas palavras, ela ganhou ainda mais a minha admiração. Sempre valorizei pessoas que gostavam de crescer por méritos próprios, e Lolla sem dúvida era uma delas.

- Eu a chamei porque estava precisando de uma secretária. Você enviou seu currículo para candidatar-se a vaga, certo? Suas referências são boas. Você é a pessoa certa para trabalhar comigo. - Sorri e me inclinei brevemente para a frente. - Unir o útil ao agradável também seria outra definição. 

Por algum motivo, as bochechas dela ficaram vermelhas. - Nesse caso, obrigada. Estou feliz por ter conseguido a vaga. - Ela passou os olhos pelo ambiente. - Esse escritório, essa empresa é maravilhosa. 

- Logo, logo você vai pegar o ritmo de como as coisas funcionam. - Lhe passei uma caderneta. - Você trabalhará de segunda a sexta, e como mora a uma certa distância de Manhattan, será dispensada as quatro e meia. Eu trabalho até às seis, mas não tenho muita necessidade dos seus serviços nessas últimas horas restantes.

Ela assentiu. -  Vou precisar que me passe os compromissos atuais do senhor.

- Pode me chamar pelo nome. Vamos criar uma relação laboral bem próxima, já que iremos trabalhar lado a lado.

Ela hesitou. - Não acho correto, Sr. Cross.

- Tudo bem. - Tirei alguns papéis da gaveta. - Dentro da empresa me trate pelo sobrenome, se acha melhor. - Entreguei-a os documentos. - Aqui tem tudo que vai precisar saber.

*

O restante do mês foi uma correria infindável. Todos lutavam contra o tempo para dar conta das demandas dos eventos. 
Desde a última semana, eu ficava no escritório até às oito da noite para poder dar conta de todo o trabalho.
Trabalhar até tarde ou nos fins de semana nunca foram um problema para mim. Mantinha minha cabeça ocupada com assuntos de verdadeira relevância.

Estávamos à seis dias do evento do Ogawa. Seria no primeiro domingo do mês, hoje era dia um, o que nos dava a semana para terminar a preparação de toda a organização do desfile e o todo o resto.
Seria um evento de gala de grande porte. Ogawa fez questão de convidar boa parte da alta sociedade da cidade. O local estaria lotado e o trabalho seria em dobro.
Um grande evento para marcar a chegada do verão. 

- Lolla? - Ela ergueu os olhos do computador. - Poderia ficar hoje depois do seu horário? Vou precisar da sua ajuda até um pouco mais tarde. 

- Claro, Sr. Cross. - Me entregou uma folha de papel. - A lista de convidados do evento Vibrant Colors, que o Sr. Ogawa lhe mandou. Está em ordem alfabética. 

Mulher eficiente, além de linda.
Ela havia se encaixado no ritmo da empresa em pouco tempo.

- Obrigada, Lolla. - Olhei o relógio, constatando meio dia e meia. - Agora vá almoçar, já está no seu horário. 

Examinei apenas os nomes de A a D da lista. Dobrei o papel e guardei no bolso interno do paletó. Não era muito considerável saber os nomes dos convidados. 

- Todas as modelos novas já chegaram?

Adam media a cintura de uma das modelos, que aparentava ser da Ásia Setentrional. 

Ele rodeou o próprio pescoço com a fita métrica. - Já estão todas se preparando nos camarins. Temos várias beldades como essa gracinha. - Adam alisou o cabelo claro da moça. - Essa é a Kira, ela é de Moscou.

A garota estendeu a mão, sorrindo. - Prazer em conhecê-lo Sr. Cross - falou com um sotaque russo carregado.


Lolla transcrevia para o papel em escrita taquigráfica todo o diálogo da teleconferência. Era impressionantemente rápida e habilidosa. 

Desliguei o viva voz e recostei-me na cadeira. - Já pedi para trazerem o nosso jantar. Ele deve chegar em cerca de vinte minutos. 

Eu não sentia necessidade de pedir comida para mim quando trabalhava até mais tarde, mas não podia deixar Lolla sem comer.

Ela inclinou a cabeça para trás, fazendo o cabelo longo escorregar dos ombros às costas. - Eu gostaria de dizer que não precisa, mas estou morta de fome. - Levantou a cabeça rapidamente. - Desculpe pelo modo de falar.

Tão meiga. Eu poderia beijá-la. 

Nem pense nisso, porra.
Eu não poderia perder uma secretária como Lolla.

Contornei a mesa. Me sentei no braço da poltrona ao lado da dela e cruzei os braços na frente do corpo. - Não me deve nenhuma desculpas. Estou exigindo muito de você? - Perguntei ao vê-la massagear o ombro.

- Não está. Por favor não vá achar que estou dizendo isso só pra agradá-lo, mas o senhor é o melhor chefe que alguém poderia ter. - Baixou os olhos castanhos, constrangida.

- Não é o que a maioria diz. - Passei o dedo por seu cabelo, afastando um minúsculo pedaço de papel. - Vou levá-la para casa, quando terminarmos.

- Não precisa se incomodar, eu vou pegar...

- Não me contrarie. Vou levar você. 

Ela voltou os olhos para o caderno em seu colo. - Desculpe, Sr. Cross. 

Coloquei a mão em seu queixo e ergui seu rosto. - Não me peça desculpa por cada frase que disser. - Seus olhos estavam confusos, talvez pelo meu gesto. - Você é muito bonita, Lolla.

Meus olhos foram atraídos pela sua boca que se entreabriu ligeiramente. Me vi inclinando o corpo em sua direção, sem deixar de perceber o choque no rosto dela rosto.
Toquei em seus lábios leves com os meus. Desci a mão para seu ombro, a trazendo para mais perto, e em um ato impensado comecei a beijá-la.
Lolla pôs a mão em meu braço que a segurava, mas não o afastou.

Não pretendia fazer aquilo, estava ciente do erro que cometia. Poderia até correr o risco de perdê-la por meu ato irrefletido, mas era algo no seu jeito de agir, no seu olhar, que me atraíam. Uma estranha doçura tão bem conhecida.

Eu não tinha o direito de seduzi-la. Lolla  não era igual as outras mulheres, ela não servia para ser apenas um caso de uma noite. Merecia muito mais. Muito mais do que eu podia ofertar.
Você é um desgraçado egoísta, Cross.

Me afastei e fiquei de pé. - Me perdoe, Lolla - deixei minha culpa transparecer. - Não era meu intuito beijá-la, na verdade era, mas não pretendia a faltar com respeito.

Ela não olhou para mim, mas sacudiu a cabeça lentamente.

Maldição. 

Passei a mão em seu rosto, mas logo a afastei. - Desculpe o meu deslize, por favor.

Sua mão prendeu o cabelo atrás da orelha. - Tudo bem. Só quero que saiba que não sou esse tipo de mulher, Sr. Cross. 

Claro que não era. Inferno!

- Eu nunca achei que fosse. Peço desculpas novamente pela minha atitude, Lolla. Não quero que se demita por minha causa.

Seu rosto ergueu-se até o meu. - Não vou me demitir, Sr. Cross.

Você merecia que ela te deve um pé na bunda, seu desgraçado. 

O telefone começou a piscar. 

- Obrigada por isso, Lolla - fui sincero. Indiquei o sofá de frente à mesa de centro para ela se sentar. - Acho que nosso jantar chegou.


Porra! Eu merecia ser processado por assedio sexual.







Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora